Uma semana depois de as tropas russas terem invadido o país, no Main Military Clinical, em Kiev, são cada vez mais os soldados a precisarem de assistência no hospital onde a médica garante tratar “os soldados russos da mesma forma que são tratados os ucranianos, mesmo que não seja essa a atitude que o exército russo tem para com o povo deste país”.
É “uma questão de humanidade” para a qual, mais do que o juramento médico, pesa “o coração que chora ao ver que os soldados russos são cada vez mais novos, alguns com 18 e 19 anos, que nem sabem porque estão nesta guerra”.
Alguns, disse médica à Lusa em entrevista telefónica, “pensavam que iam para exercícios de treino e acabaram aqui, nesta guerra que os deixou feridos neste hospital”.
E perante esse cenário “sente-se muita pena ao pensar nos soldados ali deitados, ao lado dos filhos da Ucrânia, também são filhos, só que de outra mãe”.
No hospital onde “as reservas de oxigénio estão controladas” não falta também o sangue, cujas “doações têm sido constantes, por parte dos voluntários que se mantém em Kiev, mas também “as muitas pessoas que se vão deslocando de outras cidades, dispostos a lutar e proteger a sua terra”, relatou.
A mesma determinação que faz com que no hospital militar “não faltem médicos nem pessoas para trabalhar”, mesmo nos dias em que os bombardeamentos tornam perigosas as deslocações.
“Muitas pessoas, se sentem que a estrada pode estar cortada, ou que não vão ter transportes, ficam a dormir no hospital para garantir que no dia seguinte estarão lá para trabalhar” outros, conta Tatiana Ivanska, “andam quilómetros a pé até chegarem ao metro, vão até podem de metros, e se for preciso voltam a fazer o resto a pé”, disse.
Segundo Tatiana Ivanska, “há um enorme sentimento de união e de unidade entre as pessoas, todos querem lutar pela sua terra, uns com armas, outros com aquilo que sabem fazer”.
“Não tenho medo”, declarou, apoiada por uma profunda fé religiosa que a leva a acreditar que “Deus vai ajudar este país, que não começou esta guerra e só está a defender os seus ideais”.
Aos 60 anos a médica reiterou que a cultura da Ucrânia é a de “um povo livre, que pode criticar, dizer que não concorda, sem ser preso ou torturado”.
“Não vamos aceitar que nos tirem a liberdade”, sublinhou Tatiana Ivanska que já recusou várias oportunidades de sair da Ucrânia.
“Enquanto houver um ferido para tratar, vou cumprir a minha missão, entregando a Deus o meu destino, porque Deus está do lado da verdade e protege quem faz o bem”, defendeu.
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