Uma pessoa suicida-se no mundo a cada 40 segundos, o que perfaz um total de 800 mil casos por ano. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é descrito como um "importante problema de saúde pública global, que afeta todas as idades, sexos e regiões do mundo".
"Cada suicídio é não só uma tragédia para quem perde a vida, mas também para os familiares, colegas, amigos e comunidade onde aqueles que cometem suicido se inserem, frequentemente sem terem assistência de que necessitam", começa por alertar o psiquiatra Ricardo Coentre.
Segundo o documento da OMS, nos últimos anos o suicídio tem aumentado entre os mais jovens, sendo que na faixa etária entre os 15 e os 29 anos esta é, a seguir aos acidentes rodoviários, a segunda principal causa de morte. Quando analisada a faixa de jovens até aos 19 anos, o suicídio passa a surgir em terceiro lugar nas causas de morte, após os acidentes de viação e apenas ligeiramente abaixo das mortes causadas por violência interpessoal.
Em todas as idades, o suicídio apresenta uma taxa maior nos homens do que nas mulheres, com uma média nos homens 1,8 vezes maior do que no sexo feminino.
"As tentativas de suicídio ocorrem cerca de 20-30 vezes mais do que os suicídios consumados. Uma tentativa prévia de suicídio é considerada como um dos mais importantes fatores de risco para o suicídio. Assim especial cuidado deve ser tomado com aqueles que sobrevivem a uma tentativa de suicídio, no sentido de terem os cuidados e seguimento de que necessitam. No geral, o suicídio predomina nos homens, com uma proporção de 3:1 em relação ao sexo feminino", esclarece o médico.
Sinais a que é importante estar atento
São as pessoas mais próximas do indivíduo, como familiares e amigos, que têm um papel fulcral na identificação de sinais indicadores da presença de fatores de risco para comportamentos suicidários, dos quais se destacam: o sofrimento e tristeza profunda; o isolamento social; a baixa autoestima; as alterações repentinas de humor; a adoção de comportamentos de risco, como o consumo abusivo de bebidas alcoólicas ou substâncias psicotrópicas; os sentimentos de culpabilidade e de desvalorização pessoal; abordar temas relacionados com a morte ou o suicídio com maior frequência; ou expressar a intenção de cometer suicídio.
"Este último ponto jamais deve ser desvalorizado, dado que é frequente que a pessoa verbalize que pretende suicidar-se antes de realizar o ato", alerta Joaquim Cerejeira, também médico psiquiatra.
Reconhecido o problema, a etapa seguinte passa por tentar ajudar a pessoa a sair da angústia em que se encontra, mostrando-lhe que existe um caminho diferente para solucionar aquilo que a atormenta. "Felizmente uma parte significativa dos suicídios pode ser prevenida. Temos que garantir que todos têm o apoio de que necessitam quando necessitam", frisa Ricardo Coentre.
"É fundamental para reduzir o estigma associado, permitindo que aqueles que necessitam falem sobre este assunto e procurem ajuda", acrescenta este médico.
"Restringir acesso aos meios letais, estimular os média a divulgarem histórias de esperança e identificar aqueles em risco de suicídio o mais precoce possível, para poderem ter o suporte de que necessitam" são, nas palavras de Ricardo Coentre, outras formas de prevenir o suicídio.
"A sociedade tem um papel importante na prevenção do suicídio, podendo providenciar o suporte social aos indivíduos vulneráveis e empenhar-se no seguimento dos doentes, combater o estigma e apoiar aqueles que ficam enlutados pelo suicídio de um familiar ou amigo", reitera o médico.
"Todos somos responsáveis pela identificação daqueles que pensamos que poderão estar em risco: amigos, familiares, colegas ou conhecidos", conclui o especialista.
Os tratamentos variam
Cada caso é um caso e na doença mental não é diferente. O tratamento a adotar irá depender dos fatores que desencadearam as intenções suicidas. "Caso estejamos perante um quadro psicopatológico, a psicoterapia e a utilização de fármacos são dois métodos a considerar, assim como, em última instância, o internamento", indica Joaquim Cerejeira.
"Para os restantes casos, o tratamento e acompanhamento psicológico regular poderão ajudar a pessoa a ultrapassar o estado de angústia extrema em que se encontra", afirma este psiquiatra.
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