O cancro colorretal é um dos tipos de cancro mais comuns. Em Portugal, é o segundo mais frequente nas mulheres (a seguir ao cancro da mama) e o segundo mais frequente nos homens (a seguir ao cancro da próstata), sendo a principal causa de morte por cancro.
Sabemos, atualmente, que alguns fatores relacionados com a alimentação e o estilo de vida podem ter um impacto no risco de vir a desenvolver esta doença. Ser fisicamente ativo, o consumo de cereais integrais, alimentos ricos em fibras, laticínios e uma boa ingestão de cálcio são fatores protetores. Por outro lado, o consumo excessivo de carnes vermelhas, o consumo de carnes processadas e bebidas alcoólicas e o excesso de peso ou obesidade são fatores que podem aumentar o risco de cancro colorretal.
No momento do diagnóstico, é necessário ter em atenção que a desnutrição é um problema comum nos doentes oncológicos, nomeadamente nos doentes com cancro colorretal. Por vezes, esta situação já se verifica na altura do diagnóstico, sendo muito importante estar atento a sinais como a perda de peso, falta de apetite e diminuição da ingestão alimentar. Adicionalmente, a desnutrição pode ainda agravar-se durante os tratamentos, altura em que as necessidades nutricionais podem estar aumentadas e os efeitos secundários podem dificultar a alimentação, bem como a digestão e absorção dos alimentos. A desnutrição, a perda de peso e de massa muscular contribuem para uma pior tolerância aos tratamentos, maior risco de complicações e para uma pior qualidade de vida.
Assim, a alimentação durante os tratamentos oncológicos assume um papel fundamental, devendo ser adequada e o mais variada possível, de forma a fornecer todos os nutrientes necessários para a manutenção de um bom estado nutricional.
No entanto, há muita desinformação sobre a alimentação do doente oncológico e é comum, nesta fase, serem feitas alterações alimentares, por vezes com grandes restrições, que podem ser desnecessárias e até mesmo ser prejudiciais. Há também uma procura por suplementos alimentares (vitaminas, minerais e ervas), que muitas vezes não trazem benefícios e que, pelas suas interações com os tratamentos, podem até reduzir a sua eficácia ou aumentar os seus efeitos indesejáveis.
Por todas estas razões, a avaliação e acompanhamento nutricional devem ser integrados no tratamento dos doentes com cancro, sempre em conjunto com a restante equipa multidisciplinar. A alimentação deve ser ajustada a cada fase de tratamento, tendo em conta as necessidades nutricionais, os sintomas presentes, tolerâncias, aversões e preferências alimentares do doente, o que pode ser desafiante. Como tal, o papel do nutricionista é ajudar a pessoa com cancro, mas também a sua família e cuidadores, a fazerem as escolhas alimentares mais acertadas para que satisfaça as suas necessidades e consiga manter um bom estado nutricional e uma boa hidratação, capacitá-los para uma melhor gestão dos sintomas e efeitos secundários dos tratamentos, através de estratégias alimentares que ajudem a minimizá-los, bem como desmistificar algumas ideias e esclarecer todas as suas dúvidas.
Um artigo de Ana Simões Tavares, nutricionista responsável pela Consulta de Nutrição-Oncologia no Hospital CUF Tejo.
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