A Hipertensão Pulmonar (HP) consiste no aumento da pressão dentro das artérias pulmonares, os vasos sanguíneos que são responsáveis pelo transporte do sangue para os pulmões e pelas trocas gasosas. A presença de HP sujeita o ‘lado direito’ do coração a um esforço supranormal, resultando na dilatação progressiva e disfunção do ventrículo direito. Por conseguinte, surgem um conjunto de sintomas e sinais que denominamos por insuficiência cardíaca, condicionando desfavoravelmente a qualidade de vida e reduzindo a longevidade dos doentes.

São muitas as doenças que se podem acompanhar de HP. Globalmente, as que encontramos mais frequentemente são as doenças que afetam o ‘lado esquerdo’ do coração, como as disfunções valvulares e do ventrículo esquerdo, ou as doenças crónicas do foro respiratório. Outra causa relativamente frequente de HP é o tromboembolismo pulmonar crónico, ocorrendo numa pequena percentagem de doentes após uma embolia pulmonar aguda. Denominamos esses casos de Hipertensão Pulmonar Tromboembólica Crónica (HPTEC). Os doentes afetados apresentam redução do calibre e até mesmo obstrução das artérias pulmonares por coágulos, reduzindo o espaço por onde o sangue pode circular o que causa um consequente aumento da pressão. Esta deverá ser sempre uma causa a considerar na investigação de qualquer doente com HP, uma vez que se trata de uma doença potencialmente curável. Estima-se que anualmente surjam 2 a 6 novos casos por cada milhão de habitantes.

Os sintomas causados pela HPTEC são inespecíficos e facilmente confundíveis com outras doenças, como o cansaço anormal para as atividades de vida diária, falta de ar e inchaço dos pés e pernas. Esta é uma das principais razões para o atraso no diagnóstico de doentes afetados, que continuam a chegar tardiamente aos centros de tratamento, por vezes já em fases avançadas da doença, o que tem impacto negativo na sobrevida. À medida que a doença se agrava, os sintomas começam a surgir para níveis progressivamente menores de esforço, podendo ocorrer em repouso, sendo altamente incapacitantes. Posteriormente, podem surgir queixas de tonturas, desmaios, aumento do volume abdominal, dor no peito e tosse.

Caso se verifiquem os sintomas referidos anteriormente, deverá ser programada uma consulta com o médico assistente (ex.: cardiologista, medicina geral e familiar). Em caso de suspeita HPTEC, deverá ser realizada uma ecografia ao coração (ecocardiograma), que é um exame de muito fácil acesso, não invasivo e totalmente isento de riscos, que permite avaliar a presença de sinais de HP. Habitualmente, a presença de HP tem de ser confirmada com a realização de um cateterismo cardíaco, um exame no qual é colocado, normalmente através de uma veia do pescoço ou do braço, um cateter até ao coração e artérias pulmonares, que possibilita a medição de pressões e fluxos. Existem, ainda, outros exames de investigação que fazem parte do processo de avaliação, como o eletrocardiograma, análises ao sangue, TC de tórax, cintigrafia pulmonar de ventilação-perfusão, entre outros.

Perante a suspeita ou após confirmação de HPTEC, o doente deverá ser referenciado para um centro nacional de tratamento especializado. Existem atualmente múltiplas opções em termos de tratamento que podem melhorar drasticamente o curso desta doença, algumas delas potencialmente curativas. Na maioria dos casos, está indicada uma abordagem de desobstrução vascular, que pode ser cirúrgica – tromboendarterectomia pulmonar – ou por cateterismo – angioplastia pulmonar por balão, consoante estejam presentes obstruções por coágulos crónicos em segmentos arteriais de maior ou menor calibre, respetivamente. Nalguns casos, pode estar indicada a terapêutica com fármacos administrados por via oral, que consistem em potentes dilatadores das artérias pulmonares.

Portugal tem uma adequada organização dos cuidados de saúde na HPTEC, contando com vários centros de tratamento. Nestes, concentram-se recursos humanos e técnicos que maximizam resultados na abordagem desta patologia. O estudo e tratamento destes doentes é complexo e coloca desafios muito próprios, sendo essencial o contributo coordenado de várias especialidades médicas e técnicos de saúde.

O Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (Hospital e Santa Maria e Hospital Pulido Valente) reúne uma experiente equipa multidisciplinar encontrando-se totalmente disponível para a avaliação, seguimento e tratamento de doentes com suspeita ou diagnóstico de HPTEC.

Um artigo do médico Rui Plácido, especialista em Cardiologia, assistente hospitalar de Cardiologia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte e docente de Cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.