A sensibilidade dentária é, muitas vezes, confundida com outros problemas dentários e ainda existe alguma dificuldade em defini-la corretamente.
«É uma dor breve, aguda e transitória, gerada pela exposição da dentina (tecido que envolve a polpa do dente e é coberto pelo esmalte da coroa dentária), por perda de esmalte ou recessão gengival», descreve José Pedro Figueiredo, estomatologista.
Segundo o mesmo especialista, «ao ficar exposta, a dentina torna-se vulnerável à passagem de estímulos pelos túbulos dentinários (orifícios), provocados por diferença de temperatura (bebidas quentes e frias), pressão (escovagem, por exemplo) e substâncias químicas (ácidos e doces)». Certamente que já sentiu dor ao comer um gelado demasiado frio ou ao ingerir uma bebida muito quente. A essa reação chama-se hipersensibilidade dentária.
Não sendo uma patologia grave, provoca incómodo e diminui a qualidade de vida das pessoas, condicionando a ingestão de alguns alimentos. «Cerca de 57% dos adultos entre os 20 e os 50 anos são afetados por hipersensibilidade dentária», indica José Pedro Figueiredo.
Sensibilidade de vários tipos
A hipersensibilidade dentária pode ser ligeira, média ou intensa. José Pedro Figueiredo define a primeira como «pouco frequente e pouco intensa». A sensibilidade dentária média «ocorre com alguma frequência e provoca dores de média intensidade» e o tipo mais grave gera «a forte sensação de um verdadeiro problema de saúde oral, provocando fortes dores», acrescenta o especialista.
Grande parte da população desconhece as verdadeiras causas deste problema «e não sabe que o uso de certos dentífricos pode ajudar a resolvê-lo, por isso, é importante dar a conhecer a sua origem e os métodos de a prevenir ou combater», assinala.
Desconhecimento adia cuidados
As estatísticas são claras. «Atualmente, dos 57% de adultos que sofrem de hipersensibilidade dentária, apenas cerca de metade consultam um profissional de saúde oral e, de entre os que o fazem, apenas cerca de 50% efetuam um tratamento», assinala José Pedro Figueiredo.
O especialista defende a necessidade de serem criadas «campanhas de divulgação pública sobre o assunto», salientando a enorme utilidade das visitas regulares aos profissionais de saúde oral, «os mais habilitados para diagnosticar a hipersensibilidade dentária e aconselhar os melhores meios de prevenção ou tratamento».
A hipersensibilidade dentária aumenta as restrições alimentares incómodas, fazendo com que, quem dela sofre, evite consumir produtos frios, quentes, doces ou ácidos, sob pena de agravar a dor de dentes.
É possível prevenir?
Sim. Mas, para isso, é necessário, em primeiro lugar, consultar o dentista. Se evita ir a este especialista (por medo e/ou falta de tempo), não consegue assegurar a sua saúde oral. De acordo com José Pedro Figueiredo, «as consultas no dentista permitem manter os dentes sob vigilância e prevenir outras situações». Além disso, deverá cuidar diariamente dos dentes, através de uma escovagem correta que implica «o uso de uma escova não muito dura».
Se não sabe qual o dentífrico mais adequado para uma cuidadosa higiene oral, o especialista adianta que «os dentífricos pouco abrasivos ou que tenham uma composição específica para prevenir a hipersensibilidade dentária são os mais indicados». É o caso, por exemplo, da tecnologia Pro-Argin, à base de arginina, um aminoácido natural que existe na saliva. Deve ainda ser evitada a ingestão regular de bebidas gaseificadas, cujo teor ácido «pode promover desgaste adicional da dentina dos colos dos dentes», adianta.
Após o diagnóstico
As opções de tratamento para a hipersensibilidade dentária são diversas e prescritas consoante a análise de cada caso concreto. Podem passar pela dessensibilização do nervo ou pela oclusão (fecho) do túbulo (orifício).
«No caso da dessensibilização do nervo, são usados geralmente sais de potássio, que dessensibilizam as terminações nervosas, mas têm a desvantagem de serem lentos a atuar e não permitirem o alívio completo, pois deixam os túbulos abertos», assinala José Pedro Figueiredo.
«No outro caso, os túbulos são fechados, bloqueando a sensibilidade, resistindo ao ataque dos ácidos e enriquecendo os dentes com cálcio», acrescenta. O recurso a um dentífrico adequado pode aliviar duradouramente a dor mas esta é uma solução que deverá ser acordada entre paciente e um profissional de saúde oral, não substituindo, por norma, os tratamentos indicados, é uma medida complementar e/ou preventiva.
Quem está em risco?
Pessoas com:
- Recessão gengiva
- Xerostomia (falta de saliva)
- Exposição anormal dos colos dos dentes (zona de passagem da raiz para a coroa do dente)
- Bulimia (distúrbio alimentar em que o vómito é frequente)
- Pessoas sujeitas a tratamentos periodontais e/ou que escovam os dentes com frequência ou intensidade excessivas
Iinteressa-lhe saber
Se sentir uma dor de dentes após ingestão de bebidas quentes ou frias, ou de alimentos doces ou ácidos, deve averiguar a origem deste desconforto junto de um especialista.
«A hipersensibilidade dentária assume-se como um muito conveniente sinal de alerta para outras situações de patologia oral, na qual a intervenção precoce do estomatologista ou do médico dentista pode ser decisiva para o sucesso terapêutico e para boa qualidade de vida das pessoas», defende José Pedro Figueiredo.
Além da perda de qualidade de vida, uma sensibilidade dentária mal tratada agrava a saúde oral e pode ser indiciadora de outras doenças da boca, como, por exemplo, as cáries, as gengivites, as patologias periodontais ou a perda de dentição.
Texto: Cláudia Pinto com José Pedro Figueiredo (estomatologista e professor auxiliar na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra)
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