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Alimentação e stress favorecem novos casos
Antes dos 18 anos também surgem casos de doença de Crohn. Apesar de não haver dados concretos sobre a evolução da patologia, há um novo tratamento que pode fazer a diferença.
Diarreia, dor abdominal e emagrecimento. Estes são sintomas habituais na doença de Crohn, mas também de muitas outras patologias. “Não é fácil chegar a um diagnóstico, por se tratar de sintomas que podem indiciar diferentes doenças, além de haver menos informação sobre a doença de Crohn na idade pediátrica (antes dos18 anos)”, salienta Jorge Amil Dias, pediatra do Hospital de São João, no Porto.
Não se sabe qual é a incidência e a prevalência desta patologia nestas idades, mas existe, a nível global, a perceção de que se registou um aumento do número de casos. “No Hospital de São João registam-se 25 novos casos de Crohn todos os anos, notando-se um aumento entre os mais novos”, afirma. Uma tendência que se começou a fazer sentir nos países nórdicos e que também já é uma realidade no Sul da Europa.
A dificuldade em se chegar ao diagnóstico
Mas por que será que se tem verificado um aumento de casos de doença de Crohn na idade pediátrica? Jorge Amil Dias acredita que a causa do problema não se restringe apenas à genética, mas sobretudo ao ambiente. “A alimentação pouco saudável, a modificação do risco infeccioso e o stress estão a alterar a ecologia das bactérias intestinais, provocando reações inflamatórias que supostamente não deviam acontecer”, esclarece. Mas, como faz questão de voltar a frisar, “não existem dados concretos sobre a epidemiologia da doença antes dos 18 anos no nosso país”.
A doença tem evolução variável e pode levar a atrasos no crescimento se não for detetada e tratada numa fase precoce. “Nem sempre é fácil chegar-se, desde logo, a um diagnóstico, por isso é necessário apostar em mais formação e informação, nomeadamente junto dos médicos de Medicina Geral e Familiar, a quem os utentes se dirigem em primeiro lugar, na maioria das vezes”.
O impacto socioeconómico da doença
Esta patologia provoca grandes alterações na vida da criança ou jovem e dos seus familiares, enquanto não for detetada e controlada. Os sintomas podem ser graves, além de causarem um enorme transtorno e de impedirem a criança ou jovem de ter uma vida social e familiar como os restantes colegas e amigos.
Se os sintomas não são agradáveis, a situação também não é fácil quando se recebe o diagnóstico. “É um choque tremendo. Estamos perante uma doença crónica, que pode ser controlada, mas não curada. Não é uma notícia que se receba de ânimo leve, quer por parte do doente como dos seus familiares”, conta.
O impacto socioeconómico é, de facto, um problema. “As crianças e os jovens faltam mais à escola, sentem-se limitados face a certas atividades quando estão a passar por uma fase de agudização da doença e os pais têm, muitas vezes, que faltar ao trabalho”. Custos que poderiam ser minorados, no entender de Jorge Amil Dias, se houvesse mais informação e formação para pediatras e médicos de Medicina Geral e Familiar. “E, obviamente, acima de tudo está o sofrimento dos utentes”, acrescenta.
Novo tratamento é mais uma esperança
Após o diagnóstico, o médico define um plano de tratamento, “para que se possa ter uma vida de qualidade, apesar da cronicidade da doença”. Os tratamentos dependem de caso para caso e nas situações mais graves, de resistência aos medicamentos ou de doença refratária, recorre-se, atualmente a biológicos. “São essenciais para muitos doentes”.
Nas últimas semanas surgiu a notícia de que haverá mais um medicamento biológico aprovado para uso em crianças e jovens. Jorge Amil Dias vê com bons olhos esta notícia.” Na medida em que o tratamento desta doença é prolongado, a disponibilidade de alternativas que prolonguem a eficácia e a remissão clínica significa uma boa notícia para os doentes e médicos”.
Um avanço importante que não deve descurar a informação e a formação. Afinal é na deteção precoce da doença que se pode iniciar um tratamento adequado, que previna a agudização da doença de Crohn e a melhoria da qualidade de vida dos doentes.
Por Maria João Ramires
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