Cerca de 10% dos casais sofrem desta condição e metade irão necessitar de tratamentos de procriação medicamente assistida (PMA).
Existem, no entanto, várias opções e tipos de tratamentos que são considerados seguros e têm tido uma eficácia crescente. Por essa razão, é importante deixar uma mensagem de esperança aos casais que sofrem desta condição, uma vez que, com alguma persistência, quase sempre verão o seu problema resolvido.
Ao contrário do que se pode pensar, as causas masculinas e femininas para a infertilidade têm atualmente uma proporção equivalente. As masculinas resultam fundamentalmente de anomalias da produção ou de obstáculos à progressão dos espermatozoides. No caso feminino, o destaque vai para as falhas da ovulação e para a patologia das trompas uterinas, do útero ou dos ovários.
A idade da mulher é cada vez mais um fator adicional de infertilidade e determinante para a eficácia do seu tratamento.
As abordagens e os tratamentos disponíveis
Existem dois tipos de abordagem: cirúrgica e médica. A cirúrgica aplica-se no caso de problemas vasculares do testículo ou de certas doenças do útero (pólipos, miomas), das trompas uterinas ou de alguns quistos ováricos. No entanto, a abordagem médica é a mais comum. Para uma melhor sistematização divide-se em tratamentos de 1ª e de 2ª linha. Nos primeiros incluem-se as formas mais simples, aplicadas em situações de melhor prognóstico. É o caso da Indução da Ovulação (IO) e da Inseminação Artificial (IA).
A IO é empregue quando o único problema detetado é a falha da ovulação. Nesses casos utilizam-se medicamentos que induzem a ovulação devendo o casal ter relações no período fértil. A taxa de sucesso pode chegar a 50% ao fim de 6 meses, sobretudo no caso de mulheres com menos de 35 anos.
A IA, também consiste em induzir a ovulação, mas neste caso os espermatozoides são introduzidos artificialmente na cavidade uterina (depois de preparados em laboratório). As principais indicações são as alterações ligeiras dos espermatozoides, as disfunções sexuais, as situações de infertilidade inexplicada ou os casos em que há necessidade de doação espermatozoides por ausência da sua produção ou em mulheres sem parceiro ou casais de mulheres. É um tratamento simples e indolor com taxas de sucesso que rondam os 10% por tentativa, podendo chegar aos 20% quando utilizados espermatozoides doados.
Nos tratamentos de 2ª linha, incluem-se as técnicas de PMA, das quais se destacam a Fertilização in Vitro (FIV) e a Microinjeção Intracitoplasmática de Espermatozoide (ICSI). São mais complexos, utilizados em casos mais graves, mas com maior eficácia e nos quais também se podem utilizar ovócitos ou espermatozoides doados.
As indicações mais comuns para a FIV são a obstrução das trompas uterinas, a endometriose e o insucesso dos tratamentos mais simples, como a IO ou a IA. Obriga a estimular os ovários com medicação injetável durante cerca de 10 dias, com o objetivo de obter ovócitos, colhidos por via vaginal, sob sedação ligeira, de modo a ser indolor. A fertilização ocorre horas após a colocação dos espermatozoides em incubação com os ovócitos. Um a dois embriões são colocados no útero, 2 a 5 dias depois, num processo simples e indolor. As taxas de sucesso rondam os 35% por tentativa, no entanto, a repetição do processo, muitas vezes com embriões excedentários entretanto congelados, permite resolver o problema a mais de 70% dos casais.
A ICSI tem como principal indicação a baixa produção (em número e ou em qualidade) de espermatozoides. É em tudo semelhante à FIV com exceção para a técnica de fertilização, uma vez que, na ICSI é selecionado um espermatozoide para injeção direta no ovócito, daí a designação de microinjeção. A taxa de sucesso é ligeiramente inferior à da FIV, aparentemente porque se aplica em casos de pior prognóstico.
Por todas estas razões é importante sensibilizar quer os homens, como as mulheres para estarem atentos à sua saúde reprodutiva e consultarem um especialista, de forma a obterem um diagnóstico atempado.
Um artigo do médico Pedro Xavier, especialista em Ginecologia e Obstetrícia e presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução.
Comentários