A primeira fase de testes laboratoriais levada a cabo por cientistas do MD Anderson Cancer Center, nos EUA, terminou com elogios ao ONT-380, um inibidor oral do gene HER2, na redução da toxicidade no tratamento do cancro da mama. HER2 é a sigla anglo-saxónica de Human Epidermal growth factor Receptor-type 2, o recetor tipo 2 do fator de crescimento epidérmico humano. Em quantidades normais, esta proteína desempenha um papel essencial no crescimento e desenvolvimento das células epiteliais, que também revestem o tecido glandular, regulando o seu funcionamento.
Uma alteração neste gene, um proto-oncogene, pode levar ao desenvolvimento de cancro. De acordo com os resultados da investigação, divulgados na edição digital da publicação Clinical Cancer Research em janeiro de 2017, 50 mulheres com cancro da mama metastático, os resultados não deixam margem para dúvidas. «O estudo demonstra que o ONT-380 parece ter um perfil de toxicidade mais favorável e fácil de gerir», refere Stacy Moulder, coordenadora da pesquisa.
Esta está, no entanto, longe de ser a única inovação a combater a toxicidade no tratamento do cancro. Uma equipa de investigadores do Instituto de Medicina Molecular (IMM) de Lisboa e da Universidade de Cambridge, liderada por Gonçalo Bernardes, investigador do IMM, desenvolveu um método que permite eliminar a toxicidade de terapias para o tratamento do cancro. A descoberta foi publicada na revista Nature Communications em 2016.
Descobertas com cunho português
As atuais terapêuticas anticancerígenas são incapazes de distinguir as células cancerígenas das saudáveis. Deste modo, os tratamentos sofrem uma redução na sua eficácia e têm efeitos secundários recorrentes. Este novo método permite unir o medicamento a um anticorpo monoclonal, uma molécula que se liga apenas às células cancerígenas, redirecionando o medicamento para as células nocivas.
«O que desenvolvemos foi um novo método para ligar de forma específica e irreversível os fármacos a anticorpos (veículos que transportam o fármaco), o que traz uma vantagem significativa em relação aos processos existentes que resultam em conjugados anticorpo-fármaco não estáveis e na libertação prematura do fármaco. Isto leva à toxicidade e a uma eficácia mais reduzida, o que não ocorre com o nosso método, pois o fármaco pode ser entregue de forma eficaz apenas no tecido tumoral», esclarece o especialista.
As (muitas) queixas de quem já se submeteu a tratamentos
Muitas pesquisas ainda estão em curso. «Esta estratégia não está limitada a um tipo de cancro mas, para já, as leucemias e o cancro da mama são os mais estudados e aqueles para os quais já existem opções disponíveis», acrescenta ainda. «Este novo método de ligação de fármacos muito tóxicos a anticorpos específicos contra células cancerígenas poderá tornar-se, dentro de cerca de dois anos, o método de eleição para a produção deste tipo de novas terapias, pois elimina a instabilidade e toxicidade adversa dos conjugados anticorpos-fármacos usados na clínica», vaticina.
«A construção de anticorpo-fármaco para ensaios clínicos passará por uma colaboração com a indústria farmacêutica e demonstração da superioridade do nosso método em relação aos existentes», acrescenta ainda o especialista. Um estudo conjunto da University of Michigan e da Stanford University, divulgado pelo jornal Cancer, apurou que 93% das mulheres com cancro da mama tende a sentir os sintomas tradicionalmente associados à toxicidade dos tratamentos anti-cancro. 45% das 2.000 voluntárias acompanhadas definiu-os como «dolorosos» ou até mesmo «muito dolorosos».
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