Arrepios (muito) desconfortáveis e uma sensação estranha de picadas nas articulações denunciam a sua chegada. Rapidamente, o mal-estar estende-se a todo o corpo, surge febre alta e sentimos, além de dores musculares, dores de cabeça, tosse seca, congestão nasal e, por vezes, ficamos com os olhos inflamados. Não é nada agradável. Trata-se da gripe, uma doença viral que ataca o sistema respiratório. Nos meses de inverno, vários fatores facilitam o seu aparecimento e a sua consequente propagação.
As temperaturas baixas e a menor incidência de radiação ultravioleta aumentam as hipóteses de sobrevivência do vírus durante o tempo suficiente para poder ser transmitido de um indivíduo infetado para um indivíduo saudável. Outro fator favorável é o facto de passarmos muito tempo em espaços fechados cheios de pessoas, como é o caso dos meios de transporte coletivos, das empresas, das escolas e creches e de supermercados, hipermercados e/ou de outras superfícies comerciais.
O vírus transmite-se através das partículas da saliva de uma pessoa infetada, que são expelidas, sobretudo, através da respiração, da fala, da tosse e dos espirros. O período de incubação, desde que se é infetado até que surgem os primeiros sintomas, é, em média, de dois dias, mas pode variar entre um e cinco dias. O período de contágio inicia-se um a dois dias antes do surgimento dos sintomas e até sete dias depois. De acordo com a Direção-Geral da Saúde, geralmente, a recuperação completa ocorre ao fim de uma ou duas semanas. No entanto, nem sempre é assim. Pode levar mais tempo.
No caso dos idosos e das pessoas com doenças crónicas, a convalescença tende a ser mais lenta e as complicações podem ser mais graves. A vacinação é a forma mais eficaz de prevenção da gripe. No entanto, é recomendada apenas a pessoas com idade igual ou superior a 65 anos e a doentes crónicos ou imunodeprimidos, com mais de seis meses de idade. Também os profissionais de saúde e outros prestadores de cuidados domiciliários e funcionários de instituições que os prestam devem ser vacinados.
A altura ideal para tomar a vacina, sob prescrição médica, é em outubro, embora esta possa ser administrada, sem problemas, durante todos os meses do outono e inverno. Não devem vacinar-se as pessoas com alergia à proteína do ovo, nem quem tenha tido uma reação alérgica grave a uma dose anterior de vacina contra a gripe. Apesar da sua formula variar de ano para ano, foram anunciados, no final de 2020, resultados promissores quanto ao desenvolvimento de uma vacina universal.
A composição da vacina
A fórmula varia de ano para ano. De acordo com Helena Rebelo de Andrade, virologista, "a composição da vacina é decidida tendo em consideração as informações antigénicas, genéticas e de cartografia [relação espacial e temporal das tendências evolutivas dos vírus em análise] das estirpes de vírus da gripe que circulam a nível mundial. Esta informação virológica é conjugada com os dados clínicos e epidemiológicos sobre a atividade gripal nos diferentes países e nas várias regiões", esclarece.
"Após a análise e integração de toda essa informação, decide-se quais as estirpes virais que, com maior probabilidade, irão conferir imunidade aos indivíduos vacinados contra os vírus da gripe que circulam na população em cada inverno", refere ainda a especialista. É por isso que a vacina da gripe é diferente todos os anos. Uma tendência que os investigadores na origem de um estudo divulgado pela Nature Medicine pretendem contrariar, antecipando as mutações do agente infeccioso.
Os gestos de prevenção essenciais
Se não se inclui no grupo de risco já referido, as medidas de prevenção da gripe passam por hábitos simples que, idealmente, devem também ser tomados por quem está com gripe e que podem fazer toda a diferença, como também se viu durante o surto pandémico de COVID-19 que massificou este gesto. Lavar frequentemente as mãos é uma delas. Outra é evitar espirrar ou tossir para o ar, protegendo a boca com um lenço ou com o antebraço. As grávidas devem pedir conselhos ao seu médico.
Nunca devem tomar medicamentos sem ser sob a sua supervisão, à semelhança do que sucede com qualquer pessoa, independentemente da condição ou da patologia. A Direção-Geral da Saúde recomenda, todavia, a vacina para "grávidas que, em outubro, estejam no segundo ou terceiro trimestre da gravidez, para proteção de uma eventual evolução grave da doença durante a gravidez e para proteger os seus bebés durante os primeiros meses de vida", esclarece fonte deste organismo de saúde.
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