É um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de outras doenças com consequências graves para a saúde. A obesidade, que atinge cerca de 10% da população portuguesa, é uma doença caracterizada pelo armazenamento excessivo de gordura no organismo passível de afetar a saúde. Trata-se de um problema crónico, com elevada prevalência nos países desenvolvidos, que constitui um fator de risco para o aparecimento, desenvolvimento e agravamento de outras doenças.
A nível mundial, o obesidade mata mais que a fome e as doenças infecto-contagiosas. Só em Portugal, mais de 1.500 mortes por ano são causadas por doenças que derivam da obesidade, segundo dados da ADEXO (Associação de Doentes Obesos e ex-obesos de Portugal). A boa notícia é que, depois do tabagismo, é a segunda causa de morte comprovadamente evitável através da prevenção.
Qual a sua causa?
O excesso de gordura corporal resulta de um reiterado predomínio da quantidade de calorias ingeridas face às calorias dispendidas. Mas ser obeso não significa, necessariamente, que a pessoa se alimenta em excesso. A obesidade está dependente de uma série de fatores.
Além dos genéticos (predisposição genética, sexo e idade), também pode ser afetada por fatores ambientais ou comportamentais (ausência de um regime alimentar equilibrado, inatividade física) e metabólicos ou hormonais (correspondem a menos de 5% dos casos de obesidade). Para além disso, no caso da mulher, os períodos de gravidez e menopausa são também fatores de risco.
Quais as consequências para a saúde?
A obesidade está associada a inúmeras complicações de saúde, desde condições debilitantes e progressivas a doenças crónicas com elevado risco de mortalidade. O risco cresce, sobretudo quando o índice de massa corporal é igual ou superior a 35 kg/m2. Assim, para além do desconforto físico e/ou psicológico, a obesidade pode acarretar vários problemas de saúde. Os mais comuns e preocupantes são:
- Aparelho cardiovascular: Hipertensão arterial, aterosclerose e problemas cardíacos
- Complicações metabólicas: Dislipidémias (aumento da concentração sanguínea de gorduras), diabetes tipo 2 e gota
- Sistema pulmonar: Dispneia (dificuldade em respirar) e fadiga, síndrome de insuficiência respiratória do obeso, apneia do sono (interrupção do ciclo respiratório) e embolismo pulmonar
- Aparelho gastrointestinal: Esteatose hepática (fígado gordo), litíase vesicular (formação de areias ou pequenos cálculos na vesícula) e cancro do cólon
- Aparelho genito-urinário e reprodutor: Infertilidade, amenorreia (ausência anormal da menstruação), incontinência urinária de esforço, alguns tipos de cancro (endométrio, mama e próstata), hipogenitalismo (insuficiência testicular ou ovárica) e hirsutismo (aparecimento de pelos e barba devido a maior produção de hormonas masculinas nos ovários)
- Alterações psicossociais: Isolamento social, depressão, ansiedade e perda de autoestima
- Outras alterações: Osteoartroses, insuficiência venosa crónica, risco anestésico, hérnias e propensão a quedas, devido à sobrecarga na coluna e membros inferiores
Veja na página seguinte: Como prevenir e tratar a obesidade
Como prevenir e tratar?
A prevenção da obesidade assenta basicamente em três grandes pilares: dieta alimentar equilibrada, atividade física regular e modo de vida saudável. O tratamento passa, numa primeira fase, pela combinação de dieta pobre em calorias, modificação comportamental, aumento da atividade física e compreensão de eventuais causas psicológicas. Quando a modificação destes factores não é suficiente, é necessário recorrer aos fármacos anti-obesidade.
É o caso dos anorexígenos (reduzem o apetite ao interferirem com os neurotransmissores do cérebro), termogénicos (aceleram o metabolismo para aumentar o gasto calórico) e fármacos que atuam a nível intestinal (por retardamento do esvaziamento gástrico ou inibição da absorção intestinal).
Nos casos de doentes com obesidade grave (IMC igual ou superior a 40 ou superior a 35 com outras complicações), pode estar indicada a cirurgia bariátrica (pode ser restritiva, com redução da capacidade gástrica e da sua capacidade de esvaziamento, ou mal absortiva, com exclusão de grandes segmentos do intestino delgado para evitar a absorção dos alimentos).
O tratamento da obesidade tem dois grandes objetivos: evitar e/ou melhorar as complicações diretamente relacionadas com a obesidade (osteoartroses, por exemplo) e diminuir a mortalidade provocada por doenças crónicas associadas à obesidade (como a hipertensão e a diabetes tipo 2). A perda de peso em pessoas obesas gera, muitas vezes de forma dramática, complicações físicas, metabólicas e endócrinas.
O grau de obesidade é avaliado através do índice da massa corporal (IMC) que se calcula através da seguinte fórmula:
IMC = Peso (kg)/Altura (m) x altura (m)
IMC 18 – 24: peso normal
IMC 25 – 29: excesso de peso
IMC 30 – 34: obesidade moderada (grau 1)
IMC 35 – 39: obesidade grave (grau 2)
IMC > 40: obesidade mórbida (grau 3)
Para avaliar o risco de complicações associadas à obesidade, é importante ter também em atenção o perímetro abdominal. Mesmo que o IMC esteja dentro dos limites da normalidade, pode ser um fator de risco isolado. Se for maior do que 90 centímetros nos homens e superior a 80 centímetros nas mulheres, implica um risco acrescido para a saúde. O tecido adiposo da região abdominal é, predominantemente, gordura visceral (envolve os orgãos) e pode causar resistência à insulina, aumentando assim o risco de diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares.
Texto: Fernanda Soares com revisão científica de Pedro J. Teixeira (secretário-geral da SPEO, Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade)
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