A área das Neurociências tem ganho notoriedade na última década quer pelo interesse geral  quer pelos significativos avanços no diagnóstico e tratamento das doenças. Um exemplo  relevante é a área da Neuro-oncologia onde temos visto grandes melhorias nos exames de  imagem, no planeamento e execução cirúrgica e nos tratamentos subsequentes que têm  permitido um aumento da sobrevida com maior qualidade para os doentes. Com os avanços nas áreas básicas resultado da investigação contínua, com a evolução técnica e nos equipamentos  temos hoje uma panóplia de soluções impensáveis há 15 anos atrás.

Na sequência do Dia Mundial do Tumor Cerebral falarmos de tumores cerebrais é abordar diferentes tipos de tumores, desde tumores com origem no cérebro, tumores com origens  noutros órgãos do corpo, tumores com origem no crânio ou em estruturas adjacentes ao  cérebro e que acabam por se manifestar com sintomas do foro neurológico. Os tumores podem  ser benignos ou malignos, ocorrer em idade pediátrica ou na idade adulta.

Cada um destes tumores tem, por isso, características, métodos de diagnóstico e  tratamento diferenciados. Dadas as particularidades destas doenças é tão importante a  abordagem multidisciplinar (com profissionais experientes de várias áreas médico-científicas)  que avaliam, discutem e estabelecem os planos de seguimento e tratamento mais indicados  para cada um dos doentes. Um doente será sempre mais bem tratado por um grupo de profissionais experientes e dedicados a um tipo ou grupo de doenças concretas do que por profissionais com menor experiência nessa área.

Tumores localizados na hipófise

Dentre os vários tumores cerebrais destacamos um grupo específico de tumores que se  localizam na região da glândula pituitária, a hipófise ou também definida, em algumas ocasiões, como a “glândula mãe” porque tem a função de orientar as outras glândulas do corpo humano  para produzir mais ou menos hormonas consoante as necessidades do organismo.

Definimos este grupo de tumores da “região da glândula hipofisária” ou da “região selar” porque a hipófise é uma  glândula localizada numa estrutura óssea chamada sela turca na base do crânio. À volta desta  área temos estruturas nervosas, estruturas glandulares, vasculares, ósseas, membranosas, entre  outras. Por este motivo vamos encontrar tumores com origem nestes tecidos tão diferentes, mas que, no fundo, se localizam nessa mesma área da base do crânio. Alguns destes tumores  são considerados, nas classificações, como tumores do sistema nervoso e outros não.

Já a própria glândula hipofisária é composta por duas estruturas diferentes, a adenohipófise  (sistema endócrino) e a neurohipófise (sistema nervoso).

Nos tumores da região selar ou da hipófise temos: macroadenomas ou microadenomas (que  podem produzir ou não hormonas), quistos, craniofaringiomas, meningiomas e outros.

Sinais de alerta

Os doentes podem referir cefaleias (dores de cabeça) ou alterações da visão (“estou a perder  visão” ou “não consigo ver as coisas que ficam aos lados”) porque os nervos óticos (aqueles que  transmitem as imagens vindas dos olhos até ao cérebro) se encontram logo por cima da sela  turca e da hipófise e podem estar comprometidos com o efeito de compressão do tumor. Outras  vezes, podem sentir que o corpo foi mudando por um excesso de hormonas a circular pelo  organismo (no caso de tumores da hipófise que são “funcionantes”, isto é, que produzem maior  quantidade de hormonas do que seria desejável) quer com aumento de peso, maior gordura na  barriga e costas, a cara mais arredondada, estrias abdominais, aumento da pilosidade (mais pelo  no corpo), quer com aumento do tamanho dos dedos, das mãos, dos pés, do queixo e testa.

Pode também haver uma diminuição do apetite sexual, ausência de menstruação, galactorreia  (deitar leite nos mamilos). E por fim, com a presença de um tumor nesta região a hipófise pode  deixar de funcionar normalmente e produzir menor quantidade de hormonas do que o habitual.  Neste caso teremos uma série de sintomas diferentes, desde o cansaço, prostração, perda de  pelos no corpo, aumento da sede e/ou da quantidade de urina produzida, entre outros.

Ao celebrarmos o Dia Mundial dos Tumores do Cérebro, em particular os da região hipofisária/selar, salientamos a importância de recorrer ao seu médico quando surge um sintoma de novo e que  persiste. E de forma a aumentar a probabilidade de sucesso no tratamento destas doenças e de  melhorar a qualidade de vida dos doentes é fundamental uma abordagem multidisciplinar destes tumores por equipes experientes.