Como é que se sente um orgasmo? Ao que sabemos, não existe um igual ao outro... Mesmo que não exista uma definição única e exata, a ciência encarregou-se de descobrir se existem ou não diferentes tipos de clímax ou, pelo menos, diferentes caminhos para aí se chegar. Alguns estudos diferenciam entre o orgasmo masculino e o feminino e afirmam que, para as mulheres, o clitóris continua a ser o protagonista. Revelamos-lhe os caminhos que nos podem levar a um final feliz. E por mérito próprio!

"As dificuldades em atingir o orgasmo, se estiverem afastadas razões físicas, estão normalmente relacionadas com questões emocionais e psicológicas. Para vivenciar um orgasmo é necessário, entre outras coisas, entrega e motivação. As preocupações do dia a dia, os conflitos não resolvidos com os parceiros ou a simples falta de foco no aqui e agora, podem ser o suficiente para que o prazer não chegue", explicou à revista Saber Viver Cristina Mira Santos, psicóloga, terapeuta e coach sexual.

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Quando ter um orgasmo se torna num pensamento quase obsessivo, para a também autora do livro "O melhor sexo do mundo", publicado pela editora A Esfera dos Livros, "as dificuldades mantêm-se, pois a descontração e o relaxamento não estão a contribuir para o que quer que seja que possa estar a ser sentido". "Muitas vezes, a expetativa que a pessoa tem do que é um orgasmo também pode influenciar a vivência do prazer. A mulher, regra geral, está treinada para pensar e fazer muitas coisas ao mesmo tempo e, no que diz respeito ao sexo, o estar presente no aqui e no agora é uma peça fundamental", refere a especialista.

"A noção de merecimento de sentir prazer pode ser outro dos bloqueios para os orgasmos", alerta ainda Cristina Mira Santos. "Sentir que merece sentir prazer e que o prazer não tem conotações pecaminosas é igualmente fundamental", acrescenta a psicóloga, terapeuta e coach sexual. A relação com o corpo é, na grande maioria dos casos, uns dos fatores mais influentes na predisposição para sentir prazer e, por essa razão, é necessário trabalhar e reforçar a autoestima e o amor próprio.

O problema das expetativas e das imagens

Ao pesquisar para o seu livro "Girls & sex: Navigating the complicated new landscape", lançado em 2016, a autora Peggy Orenstein conversou durante três anos com mais de 70 adolescentes entre os 15 e os 20 anos, procurando saber mais sobre as suas atitudes e sobre as suas experiências sexuais. Numa conferência Ted Talk que promoveu em 2017, intitulada "O que as jovens pensam sobre o seu prazer sexual", Peggy Orenstein revelou publicamente ter feito uma descoberta que a surpreendeu.

"Enquanto as jovens se podem sentir com o direito de se envolverem sexualmente, elas não se sentem necessariamente com o direito a ter prazer", confessou. Esta especialista concluiu assim que a cultura pop e a pornografia sexualizam as mulheres jovens, criando uma pressão indevida para olhar e agir de forma sexy. Essas pressões afetam as expetativas sexuais que as raparigas colocam sobre si mesmas, assim como as expetativas que os rapazes e os homens projetam sobre elas.

As raparigas estão, na sua opinião, a ser ensinadas a agradar aos seus parceiros sem considerar os seus próprios desejos. O seu prazer sexual é assim silencioso. Para Peggy Orenstein, o que mudou é a ideia de que o sexo casual é o caminho para uma relação, que o sexo é um precursor e não uma função de intimidade e afeto. "Sara McClelland, psicóloga na Universidade do Michigan, nos EUA, foi buscar a minha expressão favorita para falar de tudo isto", desabafa. Essa expressão é "justiça íntima".

"É a ideia de que o sexo tem implicações políticas e pessoais, na linha de quem lava a loiça lá em casa ou de quem é que aspira os tapetes", afirmou Peggy Orenstein. No seu trabalho de investigadora, Sara McClelland descobriu que as jovens são mais propensas do que os jovens a usar o prazer dos seus parceiros como uma medida da sua satisfação. "Se ele está satisfeito sexualmente, então eu estou satisfeita sexualmente", chegou a responder-lhe uma mulher que inquiriu para um trabalho científico.

"Eu sei que, se não tivesse feito esta pesquisa, teria falado com a minha filha sobre contraceção, sobre proteção contra doenças e sobre consentimento, porque sou uma mãe moderna e teria pensado que tinha feito um bom trabalho. Agora sei que isto não chega. Também sei o que espero para as nossas raparigas. Quero que vejam a sexualidade como uma fonte de autoconhecimento, de criatividade e de comunicação, apesar dos seus potenciais riscos", adverte a especialista norte-americana.

"Eu quero que sejam capazes de se rever na sensualidade dos seus corpos sem serem reduzidas a isso", afiança. "Quero que sejam capazes de pedir o que querem na cama e que o obtenham", refere. "Quero que estejam protegidas duma gravidez indesejada, de doenças, de crueldade, de desumanização, de violência... Se essas mulheres forem agredidas, eu quero que tenham recursos nas escolas, nos patrões, nos tribunais... É pedir muito, mas não é demasiado", acredita Peggy Orenstein.

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"É altura de exigirmos esta justiça íntima também para as suas vidas pessoais", defende ainda. A idade é uma das variáveis da resposta sexualuma delas. "O desejo é influenciado pela produção hormonal e esta tem oscilações ao longo do mês e, mais ainda, ao longo da vida. De qualquer modo esse não é um impedimento para se sentir prazer. Há muitas formas de potenciar o desejo e ultrapassar o que as condições físicas parecem querer retrair. O fator idade muitas vezes tem mais influencia como bloqueio emocional e psicológico do que propriamente fisico", esclarece a psicóloga, terapeuta e coach sexual Cristina Mira Santos.

"O culto da juventude é um bloqueio que leva muitas mulheres a afastar a atividade sexual das suas vidas", acrescenta. "Aceitar que o desejo se mantém ao longo de toda a vida é um facto ainda hoje pouco aceite por muitas mulheres", sublinha ainda a especialista portuguesa. Para Cristina Mira Santos, "há tantos tipos de orgasmos quantas as mulheres que existem e cada mulher pode ainda vivenciar um orgasmo de diferentes formas de cada vez que se entregar ao prazer".

"Catalogar os orgasmos pode ser uma forma de potenciar bloqueios quando uma mulher o tenta atingir", explica. O certo é que há os que conseguimos com a ajuda de um parceiro e os que atingimos de mérito próprio. Além dos mais falados, o orgasmo vaginal (por penetração) e o clitoriano que, para a coach sexual, "continua a ser uma das principais formas de atingir prazer por parte da maioria das mulheres", outros há que, catalogados ou não, nem sempre são do conhecimento geral.

Nada como se falar neles. Quanto à distância entre o clitóris e a vagina, se esta influi no prazer pela penetração, para Cristina Mira Santos, "regra geral, mais do que a penetração, a estimulação do clitoris é a causa da maioria dos orgasmos e, assim, se durante a penetração estiver facilitada a fricção do clitoris, as probabilidades de sentir prazer podem aumentar", afirma. De qualquer modo, o importante é que cada mulher se conheça e saiba quais os estímulos que mais intensificam o seu prazer.

Depois disso, apenas tem de descobrir de que forma pode potenciar o que sente mudando de posições, do tipo ou do grau de pressão, dos movimentos que elege ou de outros fatores que podem ser só seus. "A autodescoberta e a criatividade fazem maravilhas quando se trata de conhecer a forma como o corpo funciona e responde", realça a coach sexual. O recurso a metodologias diferentes e até a posições sexuais distintas, como as que pode ver de seguida, também pode ser vantajoso.

Mais recentemente, vários cientistas afirmam ter encontrado os ingredientes para as mulheres poderem atingir aquilo que apelidaram de "super orgasmos". São eles uma mistura de relaxamento, de ioga e de ligação afetiva, capaz de fazer com que as mulheres atinjam o clímax uma centena de vezes de uma só vez. Para chegarem a esta conclusão, foram examinados cinco cérebros de mulheres para um documentário britânico, "The super orgasm", para avaliar se todas as mulheres poderiam ser multiorgásmicas.

Este estudo descobriu que as mulheres que têm mais do que um orgasmo durante a relação sexual libertam maiores níveis de oxitocina, a conhecida hormona do amor, que permite uma maior ligação entre os parceiros. Para além disso, reforça a imunidade, produz um brilho radiante na pele e até protege de problemas cardiovasculares, argumentos que muitos médicos, um pouco por todo o mundo, afirmam sere essenciais para a saúde, para a felicidade e para o bem-estar feminino.

Ao que parece, esses orgasmos potentes são possíveis quando as mulheres se sentem mais descontraídas e à vontade com os seus parceiros e, de uma maneira geral, as inquiridas que atingiam o super orgasmo praticavam ioga e tinham uma forte ligação com quem praticavam sexo. Nada como fazer uma modalidade física que a faça sentir bem, sentir-se confiante na sua pele e ter alguém ao seu lado de que goste. Simples, não? Em teoria, sim! A realidade é mais complexa mas, se insistir, chega lá.

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