Há uns tempos, perguntei aos que aqui me leem se são felizes com o que têm. Agora, está na hora de lhes perguntar se são felizes com quem são? Esta é uma reflexão que diariamente ocupa uma parte do meu dia, devo admitir. É, para mim, muito importante perceber o quanto sou boa companhia para o eu que tanto precisa de mim. De manhã, quando me levanto, tenho vários rituais quotidianos, sendo uns mais sérios e outros mais loucos, porque, na realidade, a pessoa que sou vive dessa dualidade.

Tento sempre que a minha atitude e a minha postura perante a forma que tenho de passar por esta viagem que é a vida seja sempre de acordo com quem sou, para que me sinta sempre coerente comigo mesmo. Entre brincar em frente ao espelho com a minha aparência quando acabo de acordar e dançar a caminho do chuveiro para fazer a minha higiéne diária, também penso na alegria de acordar e ter acesso pleno à vida que escolhi.

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Por vezes, não poucas, lembro-me que sou a pessoa que me vai acompanhar até ao meu último suspiro e penso também na responsabilidade que isso significa para a minha felicidade. Esse é o peso do quem sou e o que torna tão importante o facto de ser feliz com quem sou. A consciência de quem sou, ajuda-me diariamente a entender o meu percurso e as minhas opções ao longo desta viagem que é a minha existência. A forma como existo, por seu turno, define também a forma como tomo e assumo as minhas opções, pelo que, deste modo, torno-me mais coerente, feliz e assertivo nas minhas decisões, sem prejuízo da essência que me move.

É muito frequente eu perguntar quem são a muitas das pessoas que vou conhecendo ao longo desta aventura. De um modo geral, além de surpresas, elas ficam confusas com a pergunta, sorriem e dizem-me um nome, uma idade, um estado civil e/ou uma profissão. Por vezes, dizem-me mais qualquer coisa, mas na mesma linha. Em resposta, pergunto à pessoa se não é mais do que a informação oficial que consta no seu Cartão de Cidadão.

A vida tem tantas coisas boas que nos identificam e que tanto dizem de nós. Tem tanta música, tantos cheiros, tantas brisas, tantas paisagens, tantas pessoas, tantas cidades, vilas e aldeias, tantas culturas e nós limitamos quem somos à informação pessoal que consta nesse documento. A questão é que passamos pela vida como quem viaja de comboio sentado do lado da janela, que apenas serve para encostar a cabeça e dormitar.

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Muitos não usufruem da viagem, apenas viajam numa carruagem, completamente alheados daquilo que os rodeia. Depois, quando chegam ao fim do trajeto, alguém lhes pergunta como correu a viagem e a resposta não passa de um encolher de ombros e da informação de que foi tranquila. É verdade que é muito importante que façamos a viagem (vivamos) de forma tranquila mas isso não significa que o façamos sem usufruir de tudo o que ela tem para nos oferecer. Necessitamos disso para nos fazer crescer e para sermos mais felizes. Aquela janela do comboio, tal como a janela da vida, tem tantas coisas magníficas para ver, para sentir e para nos inspirar.

Quanto mais nos envolvermos na vida, ao invés de apenas nos permitirmos passar por ela, maior será a probabilidade de nos autoconhecermos e, desse modo, de percebermos quem somos, aumentando o orgulho e a felicidade de sermos quem somos. Eu, no meu caso pessoal, lembro-me sempre que não vivo vivendo. Mas, vivendo, eu vivo. Posto isto, volto a reformular a pergunta. É feliz com quem é? Faça uma pausa e pense nisso...

Texto: Pedro Quaresma da Silva (coach certificado pela ICU Portugal)