Surfista, pintora e ativista, Maud Le Car, uma apaixonada por Portugal, nunca sai da praia sem apanhar o lixo que encontra na areia. É um ritual que tem há muito, como confidenciou em declarações exclusivas ao Modern Life/SAPO Lifestyle, à margem da viagem que fez com o marido, o também surfista e ativista Joan Duru, em França e em Espanha, procurando sensibilizar outros desportistas e habitantes locais para a importância da proteção da água e dos oceanos. Muitos colegas surfistas assinaram a prancha que hoje vão leiloar.
Viveram sempre próximo do mar e, curiosamente, também foi nas suas ondas que conseguiram alguns dos vossos maiores feitos profissionais. O que é o mar representa para vocês?
Joan Duru: O mar é a minha vida. Não me consigo sequer imaginar a viver longe dele. Mesmo que não vá surfar, tenho de ir ao mar todos os dias...
Maud Le Car: É como o Joan diz, o mar representa toda a minha vida. Eu nasci e cresci numa pequena ilha, rodeada de mar por todos os lados. Senti-me, por isso, sempre ligada ao oceano. Foi uma ligação que se foi intensificando com o passar dos anos, com o surfe. Foi no mar que pude realizar o seu sonho de ser surfista profissional. Agradeço ao oceano tudo o que me oferece diariamente, pois foi ele que me deu tudo o que tenho na vida. Quando estou dentro de água, sinto-me livre. Naqueles momentos, mais nada importa. O mar faz-me sentir em contacto com a natureza.
Essa ligação ao mar tornou-vos, certamente, pessoas mais atentas ao estado de conservação dos oceanos. Sentem que a poluição marinha se agravou mais nos últimos anos ou é um problema antigo que só agora é que tem vindo a ganhar mais mediatismo?
Maud Le Car: É alarmante ver a evolução da poluição marinha. Tem aumentado muito com o passar dos anos e a uma escala mundial. Por onde tenho viajado, tenho constatado que há, hoje, mais lixo nos oceanos e nas praias...
Joan Duru: Há já algum tempo que assisto à poluição nas nossas praias, mas não consigo afirmar com toda a certeza que hoje o problema é maior do que era antes. Isso não significa, contudo, que não tenhamos que agir. Ainda assim, a poluição não é o que mais me preocupa, apesar de ser indesmentível que exista...
Regressaram agora de uma ação que pretende sensibilizar as pessoas e envolvê-las mais na luta pela proteção dos mares e dos ecossistemas marinhos e pela defesa de necessidades básicas, como a água potável, que muitas regiões de muitos países ainda não têm. Com que espírito é que partiram e como é que o conseguiram fazer?
Joan Duru: A nossa intenção é tentar mudar mentalidades. O nosso planeta é magnífico mas é preciso cuidar dele. Foi com este estado de espírito que aceitámos de imediato participar nesta campanha de Dockers, que pretende sensibilizar as pessoas para a necessidade de não desperdiçarmos água.
Maud Le Car: O desafio é grande mas há que ter esperança. Nós queremos, com a notoriedade que conquistámos no surfe, usar a nossa voz para alertar para a situação atual, procurando inspirar outras pessoas, levando-as a reduzir o consumo de plástico, por exemplo. Estamos muito contentes por poder participar nesta campanha da Dockers, difundindo uma mensagem de sensibilização para que as pessoas protejam a água. A nossa intenção é mostrar que ser ecológico é fixe...
Também já é o que procuram fazer na associação que recentemente criou...
Maud Le Car: Não temos intenção de julgar ninguém e muito menos de dar lições aos outros. Procuramos apenas estimulá-los, levando-os a agir todos os dias para reduzirem a sua pegada ecológica. Foi também por isso que criei a minha associação, Save La Mermaid, com o objetivo de lutar pela proteção dos oceanos. Organizamos regularmente campanhas de recolha de lixo em praias e procuramos alertar para a necessidade de mudarmos de hábitos e de reduzirmos o nosso cosumo de plástico...
Enquanto protagonistas da nova campanha da marca de moda norte-americana Dockers, têm a missão de inspirar os outros a poupar água, a proteger os oceanos e a preservar o planeta. Mas, no vosso dia a dia, em casa e em viagem, em termos práticos, o que é que fazem nesse sentido? Têm hábitos ecológicos no vosso quotidiano?
Joan Duru: Eu faço algumas das coisas mais simples. Separo os resíduos, não poluo o meio ambiente e tento apanhar algum lixo do chão quando o vejo. São pequenos gestos que poderiam mudar muita coisa se toda a gente os adotasse. Nesta campanha com a Dockers, mostramos que até as coisas mais simples que podemos fazer no nosso quotidiano podem ter um impacto positivo no planeta e, neste caso em concreto, da poupança de água.
Maud Le Car: Esta campanha da Dockers pretende levar surfistas de todo o mundo a unirem-se e a inspirar outras pessoas a poupar água, como o Joan já disse. Uma água que é fundamental para nós. Eu não sou perfeita e estou longe de ser o melhor exemplo porque, por causa das competições internacionais em que participo, viajo muitas vezes de avião. Mas procuro sempre reduzir ao máximo a minha pegada ambiental...
Mas o que é que faz em concreto?
Maud Le Car: Não uso plásticos de utilização única, como é o caso das garrafas de água de plástico. Eu viajo sempre com um cantil reutilizável. No supermercado, sempre que tenho embalagens de vidro ou de cartão, não compro produtos embalados em plástico. Tenho também um ritual ecológico. Quando termino a minha sessão de surfe, apanho o máximo de lixo que encontro na areia...
A Dockers é, neste momento, uma das muitas marcas de roupa que se preocupam com a sustentabilidade do planeta. Sendo a moda uma das indústrias mais poluentes e também uma das que gasta mais água, já têm a preocupação de adquirir vestuário, calçado e/ou acessórios de etiquetas que desenvolvem produtos mais ecológicos ou ainda estão a fazer o processo de transição que muitos consumidores globais também têm vindo a fazer?
Joan Duru: Pode acontecer inadvertidamente. Ninguém é perfeito... Mas é uma preocupação que já vou tendo! Foi também isso que me levou a aceitar representar uma marca como a Dockers, porque ela materializa as minhas convicções. É uma marca que procura um desenvolvimento sustentável durável e que utiliza materiais ecológicos e responsáveis.
Maud Le Car: No meu caso pessoal, há três anos que comecei a mudar a minha forma de consumir, porque entendi que o primeiro passo para se conseguirem mudanças efetivas começa aí. Hoje, prefiro comprar menos, mas de forma mais consciente. Passei a privilegiar e a investir o meu dinheiro em marcas que se batem por valores comuns, valorizando o desenvolvimento sustentável e a proteção ambiental, como é o caso da Dockers. São estas pequenas coisas que temos que começar a mudar...
O Joan nasceu em Baiona, em França, a cerca de 925 quilómetros da Nazaré, uma das localidades portuguesas que maior visibilidade mediática internacional tem ganho por causa do surfe. Costuma vir a Portugal com regularidade?
Joan Duru: Sim, vamos muito à Ericeira. É um sítio fantástico, com boas ondas, pessoas simpáticas, boa comida e muito acessível em termos económicos.
Já a Maud nasceu mais longe, em São Martinho, uma ilha do nordeste das Antilhas. Só mais tarde é que veio para a Europa. Também é fã de Portugal?
Maud Le Car: Já estive por diversas vezes em Portugal. É um local que adoro! Nós já tivemos várias competições na Ericeira e em Carcavelos, onde apanhámos ondas incríveis. Adoro também Lisboa. Acho que é uma cidade muito elegante. As pessoas são muito simpáticas e come-se muito bem...
Vamos a mais de meio de 2021. A pandemia estragou-vos os planos que tinham para este ano ou, ainda assim, têm conseguido desenvolver os projetos que ambicionavam?
Joan Duru: As competições de surfe têm, pouco a pouco, vindo a ser retomadas e a Maud também criou a associação dela, a Save La Mermaid. Esta instituição organiza recolhas de lixo na praia, que têm corrido muito bem. Eu também tenho participado. É a nossa forma de contribuir para um mundo melhor...
Maud Le Car: A pandemia mudou muito a minha agenda de competição mas começamos, finalmente, a ver alguma luz ao fundo do túnel. O nosso circuito internacional retoma agora em setembro e, neste entretanto, continuo a gerir a minha associação. Como o Joan disse, temos previstas várias ações de recolha de lixo nas praias e, até ao fim do verão, contamos fazer uma exposição de arte ao ar livre com peças feitas com resíduos recolhidos no areal.
Comentários