Mas porque é que acordei quatro horas e meia depois de me ter deitado? Não havia nenhuma mosca no quarto. Os miúdos estavam em silêncio... Não entendo.
Confiro as horas. Sim, dormi só quatro horas e vinte. Acho que me dói um pouco o corpo. Mas o pior são os olhos. Ardem. É do sono.
Viro-me outra vez para baixo. Sei que já não serve de nada pôr-me na posição preferida, não voltarei a dormir.
Consolada com a água quente do duche a chover sobre mim, lembro-me dos beijos que ontem dei ao Tomás. Como trabalhei dezoito horas e quase não lhe dei atenção todo o dia, ao chegar a casa fui ao quarto dele e, mesmo enquanto dormia, enchi-o de beijos e de amor. Lembro-me de ter pensado, enquanto o acarinhava, qua talvez fosse tempo perdido por ele não estar consciente.
- Vais ficar aí para sempre?-
- Hã?-
- Estás há meia hora no duche, eu também quero ir!-
- Ah, sim, claro...-
Devo ter perdido a noção do tempo, debaixo daquela água quentinha. Perdi a noção do tempo, mas ganhei noções de sabedoria. Perguntei-me quantos beijos me terão dado os meus pais enquanto eu dormia. Perguntei-me quantas manifestações de amor já recebi sem saber. Perguntei-me até que ponto o facto de sempre me ter sentido tão amada não será o fundamental alicerce deste amor todo que sinto por toda a gente.
Nunca uma demonstração de amor é perdida! Por mais que o destinatário não a veja nem tome consciência dela: ele recebe-a. E, mesmo sem a sentir, absorve-a e integra-a nos códigos da essência.
All we need is love. Só precisamos de amor. De o receber e de o dar, mesmo quando o destinatário se encontre no mais profundo dos sonos.
Saí finalmente do banho, já sem sono nenhum. Estas reflexões despertam-me sempre muito...
Ana Amorim Dias
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