Para Tânia Graça, estabelecer uma linha entre vida profissional e pessoal é importante não só por causa das nossas relações amorosas como também devido à nossa saúde. Assim, a psicóloga partilha com o SAPO Lifestyle algumas técnicas para que consiga viver de forma mais equilibrada (especialmente se trabalhar por conta própria).

1. Tenha atenção aos sinais do corpo e da mente

O autoconhecimento será uma das suas melhores armas e, para tal, será preciso analisarmo-se de forma regular. Pode começar por responder a perguntas básicas como: ando a dormir bem? Tenho andado a alimentar-me bem ou a saltar refeições? Depois, a psicóloga sugere que nos foquemos na parte da nossa saúde mental ao procurarmos dar resposta a questões como: será que ando com um nível de irritabilidade muito elevado?  Será que estou a perder a vontade de fazer outras coisas e com pouca vontade de ver pessoas e de falar com pessoas?

No fundo, procure perceber se "há alguma mudança em si" que indique que não está bem em algum nível.

2. Não desvalorize o que os mais próximos dizem sobre si

Tânia Graça sabe que, por vezes, quando nos dizem que estamos a trabalhar muito pode irritar-nos um bocado, contudo, acredita que podemos parar para pensar sempre que nos é dito por alguém que nos é próximo e que gosta de nós. Questione-se. Será que a pessoa está certa? Estará mesmo a trabalhar muitas horas? Quanto horas está a trabalhar por dia?

Lembre-se que a autoanálise é importante.

3. Delegue tarefas sempre que possível

Se existir possibilidade, delegue tarefas, quer se trate do seu negócio ou outro que esteja sob a sua responsabilidade. "É preciso permitir que os outros (se existir equipa) também façam, porque isso vai aliviar-nos", explica a psicóloga. "Se eu distribuir tarefas, também vou ter mais tempo para mim, para a minha relação e para a minha família".

4. Avalie os ganhos e as perdas

Já está na fase que sente que está a trabalhar muitas horas por dia e já acusa cansaço? Avalie o que tem a ganhar e a perder se reduzir a carga horária. "Se eu parar de trabalhar às sete ou não atender chamadas após esta hora, porque já estou com a minha namorada ou com o meu namorado, se calhar há uma perda, por exemplo, uma parceria, mas o que é que eu ganho?", faz-nos refletir Tânia. "Talvez, qualidade", responde. "As relações são um preditor muito grande também do nosso percurso emocional e psicológico. Portanto, ter relações boas, de qualidade, é um fator essencial para o nosso bem-estar", acrescenta. "Então, será que perder essa parceria, que eventualmente até significará perder algum ganho financeiro, não compensará neste contacto humano que preciso para estar bem?", remata.

5. Procure comunicar abertamente com a sua cara-metade

Tânia Graça recomenda que se procure partilhar mais o que se sente ao mesmo tempo que sentir mais empatia ao escutar o outro. Como? "Em vez de acusarmos, dizermos tu não percebes, estás a trabalhar demasiadas horas ou tu não percebes porque não trabalhas nisto, tentarmos falar mais na primeira pessoa: eu estou a sentir-me pouco compreendido ou a sentir sozinha. Eu estou super cansada. Eu também gostava de trabalhar menos e não sei como é que vou fazer".

6. Seja disciplinada ou disciplinado

Não basta existir disciplina em relação à parte profissional, é importante também existir em relação à vida pessoal que não só deve incluir a amorosa como tempos livres.

7. Reserve tempo só para si

"É difícil investirmos numa relação, no nosso trabalho, em qualquer área da nossa vida, se não houver momentos para nós, nem que sejam 10 minutinhos para ler um livro que não tenha a ver com o trabalho ou para ver uma série", explica a especialista. "Porque as relações fazem-se da individualidade de cada um em conjunto, não é? A matemática do amor diz-nos que um mais um é igual a três. Eu, tu e a nossa relação", conclui.

"Recomendo muitas vezes às pessoas que agendem tempo para si e para a relação. Porque nós, com muito compromissos, agendamos as coisas de trabalho e cumprimos. No entanto, não temos o mesmo nível de compromisso connosco e, às vezes, também com o investimento na nossa relação".

8. E quando ambos trabalham a partir de casa?

É importante dividir e definir bem as áreas de trabalho de cada um se possível. "Até nem estarmos de frente um para outro", adiciona a psicóloga para que a relação "não fique misturada com o trabalho".

Outra dica que Tânia Graça partilha é a de se combinarem pequenas pausas em conjunto durante o dia ou estabelecer uma hora para almoçarem em conjunto.

"Pode ser uma pausa para um beijinho ou um abraço. O abraço tem a capacidade de nos elevar os níveis de oxidacina lá para cima. Portanto, ajuda a tirar um bocadinho do stress", indica. Se tiver uma chamada difícil, pode pedir atenção ao seu parceiro ou parceira para conseguir "regular as suas emoções". Expressar a vontade em jeito de pedido, ajuda a manter a divisão entre momento a dois e de trabalho. "O constante, estamos a trabalhar e estou contigo, pode tornar a coisa muito exaustiva emocionalmente, psicologicamente, e causar desgaste à relação", alerta a psicóloga. "Tentar estas divisões pode ajudar. Aliás, foram recomendações que foram muito dadas durante a pandemia e que se mantêm."

9. Existe uma percentagem ideal de tempo que devemos dedicar à nossa vida profissional e pessoal?

Tânia Graça esclarece que varia de pessoa para pessoa, contudo, defende que é muito importante termos tempo para o ócio. "Sou contra a romantização da sobrecarga".

A psicóloga acredita que é preciso tempo para aproveitar a vida no sentido de lazer. "Esse tempo de ócio é essencial até para depois sermos mais criativas, termos mais ideias e disponibilidade para investir em qualidade em todas as áreas da nossa vida", complementa.

O amor, segunda esta, também deve ser trabalhado. "É sempre uma boa coisa. Se não for o amor romântico com outra pessoa, que seja, pelo menos, o amor próprio, que é o primeiro. Deve ser o primeiro e o último, é onde começa e acaba tudo", sugere.