“Estudos indicam que cerca de um em cada quatro cães desenvolverá cancro ao longo da vida, e aproximadamente metade dos cães com mais de dez anos desenvolverão um tumor. Para os gatos, acredita-se que os números sejam semelhantes”. Estes dados avançados pela AniCura, grupo de hospitais e clínicas especializado em cuidados médico-veterinários para animais de companhia, reforça a necessidade de acompanhamento da saúde dos nossos animais de estimação. De acordo com a mesma entidade, “os tumores variam em tipo, frequência e gravidade entre cães e gatos”.
Entre os tumores mais frequentes nos animais de companhia, encontramos os seguintes:
Tumores mamários, particularmente frequentes em fêmeas não esterilizadas, são o tipo de tumor mais comum em cadelas, com cerca de 50% dos casos classificados como malignos2. Em gatos, os tumores com origem nas glândulas mamárias representam o terceiro tipo mais comum de cancro felino, depois do linfoma e do cancro da pele. Mais de 95% dos casos ocorrem em fêmeas, sendo que aproximadamente 85% dos tumores mamários felinos são adenocarcinomas malignos, frequentemente diagnosticados em gatos com mais de dez anos.
Linfomas, são um tumor dos linfócitos e podem manifestar-se em várias partes do corpo, incluindo baço e medula óssea. Estes representam aproximadamente 7-24% de todos os cancros nos cães e 30% nos gatos. São os tumores mais prevalentes nos gatos, muitas vezes associados ao vírus da leucemia felina (FeLV).
Tumores cutâneos estão entre os tumores caninos mais frequentemente enviados para avaliação histopatológica e, entre estes, o mastocitoma é uma das neoplasias mais frequentemente diagnosticadas, representando 16% a 21% de todas as ocorrências. Nos gatos, o carcinoma de células escamosas afeta principalmente a pele e a cavidade oral, representando cerca de 15% dos tumores cutâneos.
“Apesar do cancro ser uma palavra assustadora, os avanços na Medicina veterinária, como cirurgias minimamente invasivas, tratamentos de quimioterapia e radioterapia, têm ampliado significativamente as opções e os prognósticos para os nossos pacientes”, afirma Joaquim Henriques, médico veterinário do AniCura Atlântico Hospital Veterinário e presidente fundador da recém-criada Sociedade Portuguesa de Oncologia Veterinária (SPOV).
“Os cuidadores devem estar atentos a alguns sinais como o aparecimento de nódulos ou feridas persistentes, perda de peso ou apetite sem motivo aparente, mudanças no comportamento ou níveis de energia injustificadas, diarreia ou vómito crónico, feridas que não cicatrizam e dificuldade em respirar, engolir ou evacuar”, reforça o especialista, para acrescentar que “no caso de deteção de algum destes sintomas, é crucial procurar um médico veterinário imediatamente. A deteção precoce pode fazer toda a diferença na qualidade de vida e no sucesso do tratamento”.
Um caso de sucesso
Tieta, nascida há 19 anos, em abril de 2013 começou a perder peso sem motivo aparente. Após exames detalhados, incluindo uma ecografia abdominal, foi identificada uma lesão tumoral de 5cm no rim esquerdo. Além disso, foi diagnosticada com hipertiroidismo e comprometimento da função renal. A citologia ecoguiada revelou tratar-se de um carcinoma renal. A realização de uma TAC trouxe uma boa notícia: não havia sinais de metástases. No entanto, a função renal já debilitada tornava inviável uma cirurgia tradicional para remoção do rim, que poderia comprometer gravemente a qualidade e a esperança de vida da Tieta. Para tratar o cancro sem prejudicar a sua saúde, foi realizada uma termoablação por micro-ondas, um procedimento inovador na medicina veterinária em Portugal. Esta abordagem menos agressiva permitiu uma recuperação rápida e eficaz e, dois anos após o tratamento, a Tieta está curada.
"O tratamento do cancro nos animais segue os mesmos princípios que na medicina humana: diagnóstico preciso e adaptação da terapêutica a cada paciente em função do seu estado de saúde, tipo de tumor e extensão do mesmo. Na grande maioria dos casos os animais toleram bem a terapia oncológica, pois o objetivo na medicina veterinária é aumentar a esperança de vida com qualidade", finaliza o médico veterinário.
A prevenção desempenha um papel fundamental. Exemplo disso é que a prevalência de linfomas agressivos em gatos tem diminuído com a vacinação contra o FeLV. Além disso, a esterilização precoce em cães e gatos é eficaz na redução do risco de tumores mamários e testiculares. Consultas regulares e check-ups anuais permitem a deteção precoce de alterações suspeitas, aumentando a probabilidade de um tratamento bem-sucedido.
Imagem de abertura do artigo cedida por Freepik.
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