Na dança dos astros, poucos trânsitos são tão desafiadores e, ao mesmo tempo, tão fecundos como os de Saturno e Plutão no nosso mapa natal. Ambos são guardiões de portais: Saturno, com a sua foice, delimita o tempo e exige maturidade; Plutão, com a sua potência subterrânea, revela o que estava oculto e conduz-nos ao renascimento.

Quando Saturno toca um ponto do mapa, sentimos o peso do tempo, das responsabilidades, das escolhas que já não podem ser adiadas. É o planeta que pede disciplina, coragem para enfrentar limites e humildade para construir no real. Muitos temem-no, mas é sob a sua regência que amadurecemos, que deixamos para trás ilusões e erguemos obras duradouras. Saturno não pune; ensina-nos que nada floresce sem raízes profundas.

Plutão, por sua vez, é o senhor do que não se controla. Ele desce ao âmago da psique, desmonta estruturas e exige entrega. Sob os seus trânsitos, somos convidados a atravessar crises, lutos, ruturas, mas também descobrimos uma força que jamais suspeitávamos possuir. Plutão é destruidor e curador: arranca máscaras, liberta do que já morreu e devolve-nos a vida na sua potência original.

Estamos agora sob duas movimentações decisivas:

  • Saturno em Peixes: a sua última passagem por este signo ocorreu entre 1993 e 1996. Muitos recordam esse período como um tempo de aprendizados profundos, em que as fronteiras entre sonho e realidade precisaram de ser revistas. Agora, a partir de 1 de setembro, Saturno regressa novamente às águas piscianas, pedindo que unamos disciplina à sensibilidade, que demos forma à intuição e que não confundamos fé com fuga. É tempo de estruturar o invisível, de dar corpo à espiritualidade e aprender a viver com mais compaixão sem perder o enraizamento.
  • Plutão em Aquário: pela primeira vez em mais de dois séculos, Plutão atravessa o território aquariano, onde permanecerá cerca de 20 anos. É o anúncio de um ciclo coletivo de transformações irreversíveis: novas formas de comunidade, revoluções tecnológicas, redefinição de poder e de liberdade. No mapa individual, Plutão em Aquário toca as casas ligadas à nossa participação no coletivo, pedindo que descubramos o nosso lugar numa humanidade em mutação. É uma travessia que exige desapego do velho e coragem para encarnar o novo.

As dificuldades sempre existirão: limites, perdas, exigências. Mas também bênçãos: maturidade, cura, força e reconstrução. Saturno e Plutão recordam-nos que a alma só cresce quando aceita atravessar os portais de sombra e luz que a vida apresenta.

São mestres severos, mas justos. Onde passam, nunca mais somos os mesmos e isso, no fundo, é a maior graça.