Portugal entrou, em maio de 2025, para a história do turismo de luxo com a estreia das chaves Michelin no país, que surgiram como a extensão natural de um dos símbolos mais prestigiados da gastronomia mundial.

Pela primeira vez, o famoso guia vermelho distinguiu hotéis e resorts de excelência, avaliando não apenas a gastronomia, mas também hospitalidade, serviço, arquitetura e autenticidade. E logo no arranque, ao contrário do que acontece no guia gastronómico, dois nomes conquistaram o patamar máximo, ou seja, três chaves Michelin. Falamos do Vila Vita Parc, em Porches, no Algarve, e do Penha Longa Resort, em Sintra.

Em abril de 2024 deu-se a estreia desta nova versão que aconteceu em França, o berço do guia, logo seguida por Itália e pelos Estados Unidos. Rapidamente se juntaram países como Espanha, Alemanha, Áustria, Suíça, Reino Unido & Irlanda, Japão, Tailândia e México. Em 2025, a expansão chegou ao Canadá e à Grécia, mas também a Portugal, colocando o país no radar internacional da hotelaria de luxo.

Para os gourmets, as estrelas Michelin são quase uma bíblia. Um selo que garante rigor, consistência e uma experiência memorável. Agora, o mesmo sistema aplica-se à hotelaria. Segundo Nuno Ferreira, responsável do Guia Michelin em Portugal, em entrevista ao SAPO Lifestyle, “o que distingue as chaves é a mesma metodologia aplicada às estrelas: inspetores independentes, formados, que pagam as suas contas e avaliam de forma uniforme em todos os países”.

Na estreia portuguesa, 160 hotéis foram selecionados, e 55 conquistaram uma, duas ou três chaves. Para Nuno Ferreira, isso demonstra “a qualidade da oferta hoteleira em Portugal, fruto não só da arquitetura e do serviço, mas da autenticidade das experiências proporcionadas”.

A entrada da Michelin no universo hoteleiro trouxe uma nova forma de olhar para o luxo. Se até aqui a hospitalidade se media em estrelas atribuídas por associações turísticas ou organismos oficiais, agora surge um critério internacional e homogéneo que coloca Portugal lado a lado com destinos históricos como França.

A diferença está no método. Os inspetores da Michelin aplicam critérios universais, anónimos e pagos do próprio bolso. A decisão final não depende de candidaturas, mas sim da experiência vivida, desde o acolhimento à autenticidade, passando pela arquitetura e pela gastronomia integrada.

Nuno Ferreira sublinha que “um turista que escolha um hotel em Portugal sabe que encontrará o mesmo nível de qualidade e diferenciação que encontraria em França ou noutro país. Esse padrão uniforme é o que nos distingue”.

Assim, mais do que um troféu, as chaves Michelin são um selo de confiança para viajantes de todo o mundo, sobretudo aqueles que já seguiam religiosamente o guia para escolher restaurantes. Agora, a decisão sobre onde dormir passa a estar no mesmo patamar de exigência.

Vila Vita Parc, um refúgio algarvio coroado com três chaves

No universo das Chaves Michelin, há dois destinos que elevam Portugal no mapa do luxo mundial
No universo das Chaves Michelin, há dois destinos que elevam Portugal no mapa do luxo mundial Vista geral do Vila Vita Parc. créditos: Divulgação

Assente no topo de uma falésia da costa algarvia, em Porches, o Vila Vita Parc é há mais de três décadas um dos ícones da hotelaria portuguesa. A propriedade de 22 hectares combina arquitetura de inspiração mourisca com jardins subtropicais exuberantes, vista infinita sobre o Atlântico e uma coleção de experiências que atravessa gerações.

Fundado em 1992 pelo casal alemão Reinfried e Anneliese Pohl, o resort já era membro da prestigiada associação “The Leading Hotels of the World” desde 1995. O segredo do seu sucesso parece estar na combinação de requinte e autenticidade. Aqui, o luxo não é apenas ostentação, mas sim feito de detalhes, do calor humano do serviço à celebração da cultura portuguesa através da gastronomia, da cerâmica, dos azulejos ou até das paisagens envolventes.

“Para nós, receber três chaves é excecional. É uma forma de mostrar o trabalho diário, a experiência que oferecemos e, claro, o empenho da equipa fantástica que tenho comigo”, disse-nos Kurt Gillig, diretor-geral do resort.

No universo das Chaves Michelin, há dois destinos que elevam Portugal no mapa do luxo mundial
No universo das Chaves Michelin, há dois destinos que elevam Portugal no mapa do luxo mundial Detalhe da Vila Trevo, no Vila Vita. créditos: Divulgação

Ao passear-se pelo Vila Vita Parc, a sensação é a de entrar numa aldeia algarvia idealizada. As fachadas brancas de inspiração mourisca refletem a luz intensa do Sul, os caminhos são adornados por buganvílias cor-de-rosa, enquanto os azulejos e cerâmicas regionais conferem autenticidade ao local.

O resort oferece 203 unidades de alojamento, entre suites, villas privadas e apartamentos, que combinam design contemporâneo com detalhes de tradição portuguesa. Para quem procura privacidade absoluta, há villas com piscinas infinitas privadas e terraços voltados para o horizonte atlântico. Para famílias, os apartamentos junto ao spa e à Praia dos Tremoços permitem estadias prolongadas com todo o conforto.

No universo das Chaves Michelin, há dois destinos que elevam Portugal no mapa do luxo mundial
No universo das Chaves Michelin, há dois destinos que elevam Portugal no mapa do luxo mundial Spa by Sisley, no Vila Vita. créditos: Divulgação

O Vila Vita Spa by Sisley Paris é um santuário para corpo e mente. Com uma abordagem holística, oferece desde tratamentos personalizados até programas de wellness. Fora do spa, a lista de experiências parece não ter fim: sete piscinas, campos de ténis e padel, minigolfe, desportos aquáticos, passeios de iate privado, até um heliporto para chegadas discretas. Para os mais jovens, há clubes infantis e juvenis.

“O nosso espírito é acolher os hóspedes de braços abertos. Costumo dizer que, quando alguém entra no Vila Vita, também recebe um abraço. É isso que queremos transmitir”, resume Kurt Gillig.

No centro da identidade do Vila Vita está a gastronomia. O resort conta com 12 restaurantes, que vão desde conceitos descontraídos de praia — como o Arte Náutica ou o Praia Dourada em Armação de Pera — até ao templo maior, o Ocean, liderado por Hans Neuner, distinguido com duas estrelas Michelin.

No universo das Chaves Michelin, há dois destinos que elevam Portugal no mapa do luxo mundial
No universo das Chaves Michelin, há dois destinos que elevam Portugal no mapa do luxo mundial O restaurante Ocean tem duas estrelas Michelin. créditos: Shaun Fisher

É também a combinação entre alta cozinha e hospitalidade que justifica a distinção máxima do guia. “Já vimos o impacto que as estrelas Michelin tiveram no Ocean. Mudaram o perfil dos clientes e colocaram-nos no radar internacional. Agora, com três chaves, acredito que o mesmo vai acontecer ao resort”.

Mais do que aumentar a procura, Gillig acredita que o prémio mudará sobretudo o perfil dos clientes, trazendo viajantes que valorizam autenticidade e hospitalidade genuína.

Penha Longa Resort e a elegância secular de Sintra

A cerca de 300 quilómetros de distância, do Vila Vita, e a pouco mais de 30 minutos de Lisboa, no coração da Serra de Sintra, outro ícone português recebeu as três chaves Michelin. O Penha Longa Resort, inaugurado em 1993, ergue-se sobre uma propriedade com séculos de história.

Com 220 hectares inseridos no Parque Natural de Sintra-Cascais, o resort é caracterizado pela sua natureza e património. Nos seus terrenos encontram-se vestígios de sete séculos: um mosteiro do século XIV, um palácio do século XVI, aquedutos, capelas e até muralhas antigas. Esta fusão entre passado e presente dá ao hotel uma aura rara, em que a hospitalidade moderna convive com uma herança cultural.

“É maravilhoso termos recebido três chaves logo na estreia. Foi uma surpresa e um grande motivo de orgulho para toda a equipa”, confessa-nos Oliver Key, diretor-geral do resort.

No universo das Chaves Michelin, há dois destinos que elevam Portugal no mapa do luxo mundial
No universo das Chaves Michelin, há dois destinos que elevam Portugal no mapa do luxo mundial A piscina infinita do Penha Longa. créditos: Divulgação

Em 2024, o resort concluiu uma remodelação profunda, com 187 quartos e corredores totalmente renovados pelo gabinete londrino Goddard Littlefair. O resultado é um equilíbrio entre modernidade e tradição, com interiores elegantes em sintonia com as vistas para a serra de Sintra e os campos de golfe.

As opções vão desde quartos deluxe até suites presidenciais e uma suite imperial. Para famílias, há ainda quatro apartamentos T3, concebidos para estadias prolongadas.

Assim, como o Vila Vita, o Penha Longa também é um resort gastronómico por excelência. Ao todo, são sete restaurantes, liderados por chefs de renome, dois deles com estrela Michelin: o LAB by Sergi Arola, um laboratório criativo com apenas 22 lugares, e o Midori, o restaurante japonês mais antigo de Portugal, reinventado em fine dining sob a liderança de Pedro Almeida.

Outros conceitos reforçam a diversidade, desde o mediterrânico Arola, ao pan-asiático Spices, ao italiano Mercatto, ao descontraído Aqua ou ao B. Lounge, o bar junto ao lobby com mais de 100 gins. E há ainda uma marca própria, o The Chocolate, by Penha Longa, assinada pelo chef pasteleiro Francisco Siopa, que já se tornou imagem de marca do resort, com uma boutique própria dentro do resort.

“Quer seja nos restaurantes Michelin, quer no The Chocolate, by Penha Longa, tentamos sempre elevar a fasquia. Este prémio mostra que estamos no caminho certo”, sublinha Oliver Key.

No universo das Chaves Michelin, há dois destinos que elevam Portugal no mapa do luxo mundial
No universo das Chaves Michelin, há dois destinos que elevam Portugal no mapa do luxo mundial A Suite Cascais, no Penha Longa. créditos: Divulgação

O Penha Longa Spa, com 1500 m², é inspirado na filosofia Zen. Inclui salas de tratamento, jacuzzi, piscina privada exterior, gazebos e até um labirinto de meditação em calçada portuguesa, único na Europa. No Wellness Club, aberto 24 horas por dia, encontram-se equipamentos de última geração, aulas de yoga e pilates, consultas de nutrição e personal training.

Os campos de golfe do resort, desenhados por Robert Trent Jones Jr., figuram entre os 30 melhores da Europa. Além disso, o Penha Longa é também um destino para famílias, onde o Kids Club oferece programas adaptados a cada idade, desde workshops de pizza a caças ao tesouro.

O prémio traz a responsabilidade de manter a fasquia no nível mais alto. “Quando já atingimos o nível máximo, a missão é preservá-lo. Mas acreditamos que estamos à altura desse desafio”, acrescenta Oliver Key, que garante: “Mais do que mudar a operação, esta distinção é um reconhecimento para toda a equipa. Vamos continuar a trabalhar diariamente, mantendo o foco na experiência dos nossos hóspedes”.

Portugal no radar do turismo de luxo

O turismo de luxo vive de detalhes: a forma como se serve um café, o silêncio de um spa, a memória de uma refeição inesquecível ou a sensação de se estar num lugar intemporal. Com a atribuição das chaves Michelin, Portugal passa a ter um selo de qualidade hoteleira internacional, que o coloca ao lado dos destinos mais cobiçados do mundo.

O facto de conquistar logo na estreia dois hotéis com três chaves Michelin não passou despercebido. Num país onde ainda não existe um restaurante com três estrelas Michelin, a hotelaria chegou primeiro ao topo. Para Nuno Ferreira, isso é apenas “um sinal de que estamos preparados para os maiores desafios. Portugal é hoje um destino de qualidade, capaz de competir ao mais alto nível”, sublinhando que “como aconteceu com os hotéis, também chegará o dia das três estrelas na restauração. O importante é mantermos a coerência e a exigência”.

Mais do que distinções individuais, as chaves são uma ferramenta de promoção internacional. Como explica Oliver Key, “clientes habituados a frequentar restaurantes Michelin nos EUA ou no Reino Unido podem agora olhar para Portugal como destino não só gastronómico, mas também hoteleiro de excelência”, acrescentando que “com uma distinção tão prestigiada como as chaves Michelin, acredito que vamos chegar a novos públicos que talvez ainda não nos conhecessem”.

Em 2025, o Vila Vita Parc e o Penha Longa Resort não são apenas hotéis premiados, são símbolos de uma nova era, em que Portugal se afirma como um dos protagonistas no mapa mundial do luxo.

“Há 25 anos ninguém olhava para Portugal da mesma forma. Hoje, toda a gente quer vir descobrir o nosso país, experimentar a nossa gastronomia, os nossos vinhos e o nosso estilo de vida”, recorda Kurt Gillig.

As três chaves parecem ser o começo de uma história que promete continuar.