Este período atípico que estamos a viver interfere com as rotinas familiares e as mudanças radicais na gestão diária deixam dúvidas quanto à alteração, ou não, dos métodos tradicionais, mesmo que apoiados pela ciência. Manter ou não a amamentação em tempo de surto de COVID-19 é a dúvida que muitas mães têm neste momento. No caso das mulheres que estão a amamentar ou que têm filhos muito pequenos, o receio parece ser ainda maior do que o habitual.

Para responder a algumas das dúvidas mais comuns, a UNICEF e a Organização Mundial de Saúde (OMS) difundiram um relatório conjunto que confirma o apoio à amamentação, exceto em casos específicos, apontando o leite materno como o melhor alimento para as crianças até aos seis meses. "Tem anticorpos que irão ajudar o bebé a combater a infeção caso ele a contraia", esclarece Sofia Costa Inácio, consultora de lactação certificada e farmacêutica.

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"Mesmo uma mãe infetada deve continuar a amamentar, usando máscara e lavando frequentemente as mãos", adverte a especialista, uma das profissionais de saúde que esclarecem os cidadãos num fórum sobre a doença criado no Facebook. O documento da UNICEF e da OMS recorda que o modo de transmissão deste novo coronavírus é oral, pelo que o leite materno não teria relevância no contágio respiratório. Se a mãe não apresentar sintomas, não estiver em contacto com pessoas infetadas e se estiver de boa saúde, não deve parar de amamentar nem usar mais cuidados de higiene do que os habituais.

"Considerando os benefícios da amamentação e o papel insignificante do leite materno na transmissão de outros vírus respiratórios, a mãe pode continuar amamentando, garantindo todas as precauções necessárias", alerta a UNICEF, sigla internacional do Fundo das Nações Unidas para a Infância, um dos organismos da Organização das Nações Unidas (ONU), no seu site. Apesar de a recomendação ser clara, muitas mulheres continuam com dúvidas.

Em tempos de isolamento obrigatório, como o que estamos atualmente a viver, precauções como a lavagem das mãos antes de amamentar e não tossir ou espirrar perto do bebé serão suficientes, garantem, todavia, os especialistas. "É a melhor forma de protegerem os vossos bebés! Mas nunca esqueçam que o resguardo e isolamento social são de extrema importância para se manterem saudáveis", avisa Maria Silva, especialista em enfermagem de saúde infantil.

"O período de virulência ocorre, habitualmente, antes da mãe saber que foi infetada e que está doente. Por isso, parar com a amamentação no momento em que a mãe se apercebe que está doente implica parar quando o bebé mais precisa da protecção do leite materno", acrescenta ainda a enfermeira, assessora de lactação e consultora de babywearing, com experiência em neonatologia, tal como Filipa Freitas, com quem fundou a página de Facebook Pinga Amor.

O que a mãe (não) deve fazer quando tem sintomas ou está infetada

Se a mãe tiver sintomas da doença, mas estiver em casa e a sua condição de saúde permitir que ela continue a amamentar, poderá fazê-lo, desde que use uma máscara, desinfete as áreas comuns que podem estar contaminadas e lave as mãos, antes e depois da amamentação. No caso da mãe estar infetada com o coronavírus SARS-CoV-2, na origem da COVID-19, a recomendação é extrair o leite para que o bebé o ingira por biberão ou copo ou à colher.

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As autoridades de saúde de todo o mundo alertam que as medidas de higiene devem ser extremas e que, se a mulher estiver em isolamento profilático, não deve ter mais qualquer contato com o bebé para além do momento que envolve a alimentação da criança. Interromper a amamentação pode ser uma opção, se a mulher não tiver condições físicas para continuar a fazê-lo ou se os profissionais de saúde que a acompanham a considerem uma situação de risco para o bebé. O estado de saúde da mãe é essencial para garantir os cuidados da criança e, por isso, é essencial que, caso as tenha, esclareça todas as dúvidas com o seu médico.

No caso de apresentar potenciais sintomas de COVID-19, ligue de imediato para o SNS 24. "Deve permanecer em isolamento profilático e vigiar sintomas, devendo procurar os cuidados de saúde apenas perante febre que não cede, falta de ar ou alteração do estado geral", refere Renata Aguiar, reumatologista no Centro Hospitalar do Baixo Vouga, uma das administradoras da página que tem esclarecido as dúvidas de mihares de portugueses em tempo de pandemia.