Mais do que uma prova de amor, dar de mamar pode ser uma aposta na saúde do seu bebé.
É o gesto mais natural deste mundo mas não deixa de suscitar receios. A par com a felicidade do nascimento de um filho, surgem as preocupações em especial no que toca à saúde o bebé e à sua alimentação.
Incentivadas pela família ou por um desejo de cumprir à risca o ideal da maternidade, muitas mulheres questionam-se sobre se devem ou não amamentar. Será que consigo ser uma boa mãe se não der de mamar? Esta é talvez a pergunta mais frequente no início desta etapa tão importante na vida de uma mulher. Venha tirar esta história a limpo com o António Gomes, pediatra. Afinal de contas é o futuro do seu filho que está em jogo.
Antes de decidir amamentar o que é que a mulher deve ter em conta?
Deverá pensar no que é melhor para o seu filho. Hoje em dia não existem dúvidas acerca das vantagens do aleitamento materno (AM).
Todas as mulheres podem dar de mamar?
São raras as situações em que uma mãe não pode alimentar ao peito, sendo necessário discutir com o médico, caso a caso. Resumidamente, não poderão fazê-lo mulheres com neoplasias, em tratamento com quimioterapia e radioterapia, com infeções (mãe seropositiva, tuberculose ativa) e doenças psiquiátricas, que utilizem drogas e só muito raramente medicamentos.
Mulheres que têm um bebé em idade tardia devem amamentar?
A idade não é impeditiva. Verifico que as mulheres mais velhas dão mais de mamar, exatamente por saberem que é o melhor para os filhos.
Que benefícios traz a amamentação ao bebé?
Tem benefícios do ponto de vista nutricional, imunológico, cognitivo e afetivo. É menor a probabilidade de adoecer nos primeiros anos e há vantagens que se mantêm ao longo da vida, como o menor número de infeções respiratórias, de alergias e doenças cardiovasculares.
Para além do importante valor afetivo, nos últimos anos têm sido demonstradas vantagens em termos cognitivos. As crianças alimentadas ao peito são mais inteligentes.
Quais são os receios mais frequentes das futuras mães?
O medo de não se ser capaz. Existe uma enorme vontade de amamentar por parte das mulheres. O problema é que dar de mamar não é fácil, e o choque entre essa vontade e as dificuldades reais conduz a uma sensação de incapacidade. É necessário apoio, não só dos profissionais como dos pais e das famílias.
Que cuidados deve ter a mulher em termos de higiene?
Não há necessidade de cuidados especiais de higiene. Os cremes devem evitar-se, porque podem dificultar a amamentação e ser desagradáveis para o bebé. Mesmo no caso da existência de fissuras, gretas nas mamas o que a mulher deve fazer é colocar um pouco do seu próprio leite nas lesões.
A alimentação da mãe pode influenciar a qualidade do leite?
Existem muitos mitos à volta dessa questão. Mas não há necessidade de uma alimentação especial. Esta deverá ser normal, diversificada e em quantidade adequada ao apetite da mulher.
Que alimentos são benéficos para o leite e quais devem ser evitados?
Não há dados científicos que permitam comprovar que alguns alimentos como o feijão ou couve sejam prejudiciais. O bom senso e a própria perceção de cada mãe podem dar indicações sobre a reação do bebé a certos alimentos. Do ponto de vista das alergias, devem evitar-se os que habitualmente se associam a esse problema em famílias com grande predisposição para isso.
O stress pode afetar o leite?
Sim, muito. Existe uma importante relação entre a produção de leite e o stress. Se uma mulher não se sentir bem, estiver muito angustiada, com dores a produção de leite materno é seriamente afetada. Acontece com frequência nos primeiros dias após o parto.
Que complicações são mais frequentes?
Em primeiro lugar aquilo a que tecnicamente chamamos má pega, muito frequente nos primeiros dias após o nascimento. O bebé não mama bem o que tem como consequência o choro inconsolável por fome, a dor no peito ao mamar, a mama ingurgitada ou tensa, com excesso de leite porque o bebé não consegue retirá-lo.
Tudo isto se resolve com ajuda médica. Outra situação ocorre quando as mães começam a trabalhar, após a licença de parto, e deixam de dar de mamar.
Existem várias estratégias para manter a amamentação.
Fazê-lo antes de sair de casa e no regresso, retirar leite com uma bomba e deixar, no frigorífico ou congelado, para ser dado pela pessoa que toma conta do bebé.
O que provoca o peito encaroçado?
Surge quando o leite não é retirado do peito.
Isto pode acontecer quando o bebé não mama bem, a mãe produz demasiado ou por exemplo quando a mulher começa a trabalhar e durante o dia não dá de mamar. O organismo continua a produzir o leite e como este não sai a mama fica ingurgitada. A mãe pode retirá-lo com uma bomba própria ou, em caso de dificuldade, recorrer a apoio médico.
O leite materno pode não ter a quantidade ou qualidade desejada?
O leite tem sempre qualidade. Esse é outro mito a desmontar. O que poderá acontecer é ter uma quantidade inferior à necessária, por várias razões como o stress da mãe ou uma má pega do bebé nos primeiros dias de vida. Todas estas situações têm solução, com ajuda adequada.
Até que idade deve uma criança mamar?
A amamentação exclusiva, sem outros alimentos líquidos ou sólidos, é recomendada até aos 6 meses. A partir daí deve fazer-se a introdução dos alimentos sólidos e manter o peito. Atualmente, a OMS recomenda um mínimo de 2 anos ao peito.
É verdade que há um elo mais forte entre a mãe e o filho quando esta amamenta?
Sabe-se que o contacto proporcionado pelo ato de mamar ao peito é, afetivamente, compensador para mãe e para o filho. Comparações individuais são difíceis de fazer, mas é possível afirmar que os bebés amamentados ao peito são mais calmos e têm uma ligação forte e saudável com a mãe. De qualquer forma, uma mulher que alimenta por biberão pode ter uma boa relação mãe-filho.
No caso das mulheres que decidem não amamentar que riscos pode ter essa opção, tanto para elas como para o bebé?
A opção pela amamentação deve ser da família. É uma das muitas opções que os pais têm de tomar ao longo da vida dos filhos. Os riscos são os decorrentes da ausência dos benefícios do leite materno. É importante que as pessoas sejam informadas para poderem optar. Se resolverem não dar o peito a sua decisão deve ser respeitada.
Texto: Manuela Vasconcelos
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