A “Transição para a Parentalidade” é uma, se não a, transição maior das nossas vidas.
Conscientes dos desafios que aí vêm, os casais “grávidos" prepararam-se, procurando obter conhecimentos para se sentirem seguros e melhor tomarem decisões em prol das suas saúdes e da saúde do seu bebé, nomeadamente através dos cursos de Preparação para o Nascimento e para a Parentalidade.
Muitas vezes “batem-nos à porta” para perceberem quais as temáticas abordadas porque, ao contrário do que acontece com a mulher grávida, que tem enquadramento legal para frequentar todas as sessões (será o equivalente a uma consulta de assistência pré-natal), o pai tem muitas vezes de fazer uma seleção dos temas que considera mais importantes, gerindo a sua vida profissional por forma a dispor daquela hora para assistir a essas temáticas.
Ora, de entre todos os temas abordados, aquele em que os homens habitualmente menos se esforçam por estar presentes é o tema da amamentação, com o argumento: “quem tem mamas é a mulher, eu ajudarei em tudo o resto”. Ou seja, veem a amamentação como um tema exclusivamente inerente à mulher.
No entanto, com base na minha experiência de alguns anos a acompanhar muitos casais, não restam quaisquer dúvidas de que é de extrema importância que a decisão sobre o tipo de alimentação seja, tal como as restantes, uma decisão conjunta do pai e da mãe do bebé que está para nascer.
A decisão tomada terá um forte impacto na construção de saúde, facto inequivocamente comprovado por toda a evidência atual e suportada pela OMS/UNICEF.
De que forma pode o pai ter um papel determinante no sucesso do processo de amamentação do seu bebé?
Se a decisão pelo aleitamento materno (AM) for de ambos os progenitores, ambos estão igualmente vinculados a esta decisão.
Devidamente informados, os pais estarão conscientes dos benefícios inerentes ao AM, dos desafios possíveis e das estratégias que melhor respondem a esses desafios, bem como de quais os profissionais mais habilitados para dar resposta eficaz às dificuldades que surgem na maior parte das famílias.
No processo de amamentação, é verdade que é a mãe que amamenta, mas o pai é o “gestor do processo”. O que significa isto? Significa que o pai está envolvido e consciente, por exemplo, dos sinais de ingestão nutricional suficiente num bebé alimentado em exclusividade (como posso ter a certeza de que o bebé está a ingerir a quantidade que precisa se eu não consigo medir?).
Significa que compreende a evolução espectável de peso num bebé alimentado exclusivamente com leite materno (a sociedade e os profissionais de saúde estão habituados ao que é espectável em bebés alimentados com fórmulas para lactentes, que são hipercalóricas), e que compreende o significado de um percentil.
Significa, fundamentalmente, que consegue assegurar-se e dar feedback à mulher que amamenta, e que naturalmente se sente insegura, mostrando-lhe que ela está a fazer um bom trabalho e que tudo está bem com ambos.
Significa que, quando surgem dúvidas, ambos unem esforços para procurar informação fidedigna antes da tomada de decisões precipitadas, muitas vezes pressionadas por opiniões menos informadas/atualizadas, que muitas vezes levam ao fim do projeto de amamentar o bebé.
As evidências mostram-nos que pais igualmente informados, envolvidos e que participam no processo de amamentação levam a que as mulheres consigam amamentar durante mais tempo os seus bebés.
Sabemos que a amamentação está muito centrada na cabeça da mulher, por ser um processo psico-neuro-endocrino-imunológico. Após o parto, com a labilidade emocional e insegurança inerentes a esta fase, aquilo que digo a esta mãe, bom ou mau, fica gravado na cabeça desta mulher, com repercussões ao nível psico-neuro-endocrino-imunológico que podem contribuir para o sucesso ou o insucesso nesta caminhada da amamentação.
Quando se assegura a esta mulher que tudo está bem, fundamentando com os conhecimentos e os parâmetros certos, é “meio caminho andado” para que ela ultrapasse o primeiro mês, tão importante para o estabelecimento da lactação, ao ser a fase em que a maioria das mulheres desiste do processo. E que, ultrapassando-o com sucesso, a mãe amamente, aí sim, durante o tempo que ela ou o seu bebé decidam.
Quem está devidamente informado e atualizado em relação à amamentação “fala a mesma língua”. Por isso, costumo dizer que o pai, quando se envolve, se consciencializa e está informado, tem o potencial de se tornar uma extensão dos profissionais lá em casa, tornando-se um verdadeiro “gestor” de emoções, de “achómetros”.
Texto: Enfermeira Conceição Santa-Martha, Especialista em Saúde Materna e Obstétrica
Para saber mais sobre este tema, inscreva-se na próxima sessão das Conversas com Barriguinhas, a decorrer no próximo dia 29 de dezembro, pelas 14h.
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