É relativamente recente, data dos finais do século XX, a demonstração científica e a aceitação social, de que a qualidade do desenvolvimento neurobiológico e hormonal do bebé e da criança muito jovem, depende da relação com a sua mãe e das condições de vida da família.
Durante a gestação, as hormonas no sangue da mãe, e mais tarde, o leite materno, levam ao bebé as emoções e as preocupações da sua mãe, assim como a sua resistência a agentes patogénicos.
Mas, para terem um desenvolvimento saudável, o bebé e a criança muito jovem, necessitam de sentir o corpo da sua mãe contra o seu.
São o contacto corporal, frequente e prolongado, as carícias, o ritmo diário, o aleitamento e os sonos pequeninos, a dois, os barulhinhos e as vocalizações, os sorrisos, as ajudas e brincadeiras e, particularmente, a resposta, pronta e bem-disposta, aos seus apelos, que estimulam, moldam e diferenciam o desenvolvimento neurobiológico e hormonal de cada criança. Sem imenso carinho e dedicação da sua mãe, o bebé ou a criança muito jovem, entre os últimos três meses pré-parto e os três primeiros anos de vida, vai apresentar atrasos e outras perturbações graves, suscetíveis de ameaçar a sua sobrevivência a curto prazo, ou mais tarde.
É muito provável que a criança que não se sentiu suficientemente protegida e amada, ou que vivenciou um ambiente pouco responsivo, venha a ter dificuldades em estabelecer uma relação afetiva satisfatória consigo mesma e com os outros.
Se for retirado à sua mãe, o bebé e a criança muito jovem podem regredir. O seu funcionamento cognitivo, emocional e comportamental deteriora-se, e é muito provável que a criança deixe de comer e de falar, perca cabelo, não cresça mais, perca peso e se isole. Sem intervenção médica e psicológica urgente, a criança pode morrer.
Forçadas a viver na pobreza, e há muitas formas de pobreza, famílias são acusadas de negligência quando não são elas que são negligentes
Tendo em conta que muitas famílias com crianças vivem, durante muitos anos, ou toda a sua vida, em sofrimento, pois são obrigadas a conviver com a pobreza e a insegurança, não é de admirar que, no país, cerca de 30% de todas as pessoas, de todas as idades, inclusivamente crianças e jovens, desenvolvam uma ou mais perturbações psíquicas (emocionais). A precaridade e a pobreza, com as suas múltiplas faces, são, para a família como para as crianças, experiências degradantes, traumatizantes e incapacitantes.
O elevado nível de stress crónico ao qual acresce a sensação de injustiça social, fragilizam as famílias e as suas crianças, que definham e adoecem.
Muitas crianças sofrem de angústia e depressão crónicas, algumas externalizam-nos através de comportamentos agressivos. Há crianças que acabam por ser retiradas às famílias, o que é uma enorme crueldade, outras morrem.
No entanto, é um erro pensar que só as crianças pobres ou da classe média correm o risco de ter um desenvolvimento neurobiológico e hormonal pouco estimulante ou perturbado.
As crianças das famílias ricas e muito ricas não estão expostas à precaridade e à pobreza, e o seu estatuto socioeconómico dá-lhes uma enorme proteção, mas nem assim estão imunes aos problemas de saúde mental.
Todos necessitam de uma sociedade que inspire confiança e que, quando necessário, preste ajuda, célere, de qualidade e eficiente.
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