Engraçado, como a palavra PAI pode ser ao mesmo tempo uma sigla para “Participação Ativa Intensa”. Recomendo sempre às famílias que acompanho que tenham um papel de PAI quando estamos juntos. Que atuem, que comuniquem, que se expressem e partilhem, que façam parte do que estamos ali a viver, juntos. É uma atitude que se espera quando estamos integrados e interessados no que estamos a fazer, verdade?
Isto pode ser altamente comparável à realidade dos pais, dos homens, nas famílias. Mas atenção! Há algo que não podemos ignorar: a(s) sua(s) história(s).
Falo claro da história enquanto filhos e do exemplo do seu próprio pai (mas chegaremos a esta parte daqui a pouco), agora importa focar também na nossa História, na cultura enraizada há mais de milhares de anos em que o homem foi dotado e vocacionado para trazer o sustento para o resto da família. Foi-lhe concedido essa desafiante tarefa, do trabalho na rua, do trabalho de sol a sol, da conquista de mais dinheiro para assegurar o alimento e o conforto da mulher e dos filhos.
Isto é o que ainda faz a diferença entre a mãe e o pai, legal e culturalmente falando. Há transformações a acontecer, evolução, muitas melhorias comportamentais e mudança de mentalidade, sem dúvida. Mas continua muito vincado também – porque a alteração de mentalidades, não é sempre tão rápido quanto desejamos – esta estrutura familiar, mesmo com a alteração sentida por parte das mulheres na entrada no mercado de trabalho.
Importa referir também a própria história da família. Se o pai recente foi filho de um pai pouco envolvido na família, pouco interativo e presente na educação e vida em família, com os seus filhos, há duas possibilidades: ou o filho desse pai faz espelho com o pai e copia essa mesma atitude, com a crença forte de que o seu papel passa pelo trabalho e sustento da família e é a mulher, a mãe responsável pela organização da vida dos filhos e da casa, ou pelo contrário, opõe-se a este comportamento e é aquilo a que se chama um “Paizão”, que tem uma presença ativa na vida da família e acaba por “fazer de tudo em casa”, como habitualmente dizemos de um pai deste género.
A nossa tendência é falar assim porque ainda não é o natural a acontecer, ainda é a minoria. Por isso, peço esta compreensão também por parte das suas companheiras. Entender este background dos nossos companheiros e conversar nesta perspetiva vai aproximar-vos, mais do que a cobrança do “não fazes nada em casa, faço tudo sozinha!”.
Todos somos responsáveis aqui. Não vale a pena apontar dedos. A boa notícia é que há espaço, muito espaço para melhorias.
“Quem ajuda o Pai?” Educado para não demonstrar o que sente, a ser o “forte” da família, o inabalável, inseguro, sem saber bem o que fazer para que a família se mantenha confortável. Também ele lida com as emoções inerentes a um nascimento de um filho, também ele convive com as suas hormonas, também precisa de colo, de ser ouvido, de ser amado.
Socialmente se queremos que o PAI se sinta também cada vez mais parte, precisamos de fazer a nossa parte de perguntar como é que ele está, como está a correr, o que tem sentido, o que tem sentido falta, o que mais gosta. A gravidez, o pós-parto e o crescimento de um filho é um processo de toda a família.
Todos estes aspetos e abordagem de compreensão sobre o seu passado e circunstâncias pode ser curativa, terapêutica e transformadora para toda a família.
O grande segredo é mesmo tornar estes aspetos conscientes. Quando isto acontece ficamos mais disponíveis, permeáveis e preparados para a mudança (se o quisermos, claro) de mentalidade que, por consequência, terá mudança no comportamento. Assim se muda o mundo!
Isto reforça o papel das mulheres-mães neste processo de envolvimento. Muitas das mulheres (resultado também da(s) sua(s) própria(s) história(s)) acabam por também não darem este input e empurrão ao pai, porque sentem que “Mãe é mãe” e como tal ela é que sabe fazer, ela é que decide bem e os homens entendem pouco deste assunto.
O que causa, impreterivelmente, uma enorme quebra na autoestima do homem, uma consequência negativa naquilo que é a relação do casal, mas também da dinâmica entre pai e filho. É como se as famílias se dividissem por equipas e o pai fica como “o elo mais fraco! Adeus!”. Acompanho muitos casais a viver esta realidade.
Este tipo de sinergia familiar é altamente destrutiva para os membros e para algo que se quer unido, firme e partilhado, onde cada um está a aprender a ser melhor todos os dias.
Acredito que seja dispensável dizer o quanto cada membro da família importa estar dedicado à causa da Família, uma vez que, é ela um dos grandes pilares emocionais das nossas vidas.
Acredito também que seja inútil espelhar a vantagem para todos quando o pai e a mãe comunicam e agem em conformidade promovendo o bem-estar e a segurança deles próprios e dos seus filhos.
Como uma empresa organizada e focada em ser bem sucedida; uma família prospera tanto mais houver um investimento em amor, em comunicação e em partilha. Esta é uma base indiscutível.
Os pais têm desafios históricos, culturais e mentais fortes para derrubar, o que será um esforço altamente compensador se o fizerem. O comportamento de cada um conta e isso vai ajudar a que naturalmente influencie outro e outro e outro… somos influencers uns dos outros e seres brutalmente inspiradores uns para os outros.
Por sua vez, da parte das mães fica o desafio de também elas reestruturarem as suas crenças mentais, na maior parte dos casos, causadas pelos seus próprios pais e mães para acolherem, ajudarem e, até quem sabe, ensinarem os seus companheiros a crescerem.
Um casal que cresce junto, prospera, une-se e isto é o verdadeiro significado de família, esta união e comunhão. Não é responsabilidade de um, mais do que do outro. É cada um por si, a fazer por todos, a sua parte.
“É fácil falar!” – pensas tu neste momento. Pois, mais difícil do que fazer diferente é continuar da mesma forma. Acredita!
Um Feliz Dia do Pai, que é hoje e todos os outros dias do ano.
Um artigo de Carolina Vale Quaresma, terapeuta familiar parceira das Conversas com Barriguinhas.
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