Que a vitamina D é importante, todos sabemos. É tão importante para o nosso equilíbrio, que para além de ser possível obtê-la a partir da dieta, também é possível sintetiza-la na nossa pele, mediante a exposição à luz solar. No entanto, até enquanto estudante da faculdade, fui aprendendo que bastava a exposição solar da face e das mãos por 30 minutos por dia para produzir uma quantidade diária adequada de vitamina D.
No entanto, agora, (os anos passaram), sabemos que não é mesmo assim! Afinal, o sol português de outubro a maio não tem intensidade suficiente para promover a síntese da vitamina na nossa pele.
O estudo VITACOV que decorreu entre agosto de 2020 e janeiro de 2021, em adultos de Lisboa e do Porto, veio revelar aspetos muito interessantes: a prevalência de insuficiência de vitamina D na população estudada foi de cerca 60%. Reparem: na Finlândia, um país que tem nitidamente menos sol que Portugal, a mesma prevalência normalizada para a população e período do ano foi de apenas 20%.
Então o que estamos a fazer de errado?
De acordo com os investigadores deste estudo, a população portuguesa apresenta polimorfismos muito específicos nas vias de síntese da vitamina D, o que significa que somos bastante menos capazes de sintetizar a vitamina D a partir da nossa pele do que outros povos na Europa, nomeadamente povos com exposição solar inferior. Isto diz-nos claramente que somos uma população de risco!
Mas afinal, o que faz a vitamina D? A vitamina D, para além de contribuir para a captação e fixação do cálcio na matriz óssea (sendo essencial de forma óbvia para o crescimento), tem papéis muito relevantes na divisão celular (processo através do qual as células se multiplicam), tendo uma função especialmente relevante junto dos macrófagos e monócitos, células do nosso sistema imunitário que têm o papel de “engolir” patogéneos. O que é que isto significa? Sim, que um défice de vitamina D compromete a nossa resposta imunitária.
Para além disto, temos que ressalvar que a vitamina D é uma vitamina lipossolúvel, o que de certa forma a torna uma vítima colateral dos produtos light! Sempre que tiramos a gordura dos alimentos, estamos naturalmente a ingerir menos quantidade de vitamina D.
Por fim, para que não nos esqueçamos disto, não existem estudos concretos sobre a vitamina D na população pediátrica: um estudo com uma amostra selecionada no Porto revelou que a incidência de défice de vitamina D na população entre os 2 e os 16 anos parece ser em torno dos 26%. Um número francamente mais simpático do que o que temos na população adulta. Será ainda fruto da suplementação obrigatória durante o primeiro ano de vida? Será que as crianças e adolescentes conseguem ter uma dieta mais adequada que os adultos, os seus pais? Será isto um caso clássico de “come aquilo que eu digo, mas não aquilo que eu como”?
Um artigo da médica pediatra Joana Martins.
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