Numa separação ou divórcio há muitas variáveis que interferem com a forma como o processo se vai desenrolar, desde a postura dos pais em relação ao divórcio, a idade e o temperamento dos filhos, se as decisões são tomadas em conjunto ou não, a forma como os pais gerem os conflitos, o método de coparentalidade, entre outras.
A coparentalidade vai funcionar melhor, ou pior, de acordo com uma série de fatores, mas aquele que é transversal e que vai ditar uma transição relativamente pacífica é o ajustamento psicológico dos pais. É esse ajustamento que vai determinar e orientar o funcionamento familiar depois do divórcio.
A qualidade da relação que os pais vão ter com as crianças é fundamental. O bem-estar e as necessidades dos filhos devem ser a prioridade num processo de divórcio e os papéis de ex-cônjuges e de pais devem ser bem definidos e diferenciados, para que o impacto nas crianças seja menor.
Numa situação de separação ou divórcio, são inúmeras as dúvidas que se levantam. Por isso, foram levantadas por vários investigadores algumas questões, sendo que a mais recorrente é saber qual é o plano parental mais benéfico para as crianças depois dos seus progenitores se separarem ou divorciarem.
É melhor para as crianças viverem maioritária ou exclusivamente com um progenitor em residência única e terem períodos de convívio/contacto com o outro progenitor cuja duração pode ser variada? Será que as crianças apresentam mais estabilidade emocional quando vivem com um dos progenitores pelo menos 35% do tempo em regime de residência alternada? Será que a residência alternada é benéfica quando existe um conflito forte e continuado entre os progenitores? Será a residência alternada apenas escolhida e apropriada por um grupo muito específico de progenitores (por exemplo, aqueles com rendimentos mais elevados, baixos níveis de conflito e relações mais cooperativas, que à partida chegam a um acordo mútuo de partilha voluntariamente)?
Para responder a estas perguntas, têm sido realizados estudos comparativos entre os comportamentos e respostas emocionais de crianças a viverem em famílias com residência alternada e residência exclusiva, independentemente do rendimento familiar e do conflito parental, assim como os níveis de conflito e a qualidade dos relacionamentos de coparentalidade entre os dois grupos de progenitores.
As principais conclusões que ressaltam destes estudos, mas que ainda assim não dispensam análises caso a caso, são:
- Nos estudos que não incluem as situações em que as crianças necessitam de proteção em relação a um progenitor abusivo ou negligente, as crianças que vivem em residência alternada apresentam mais estabilidade emocional do que as crianças que vivem em residência única.
- Crianças de tenra idade em famílias com residência alternada não apresentam menor estabilidade emocional do que famílias em residência única.
A partilha de pernoitas não enfraquece a vinculação das crianças mais pequenas com nenhum dos progenitores.
- Progenitores com crianças em residência alternada não têm significativamente mais condições económicas do que os com crianças em residência única.
A maior parte dos progenitores com crianças em residência alternada não concordou com este modelo na sua fase inicial. Na maioria dos casos, um dos progenitores opôs-se e envolveu-se no modelo resultante de negociações legais, mediação ou de sentença do Tribunal. Mesmo assim, nestes estudos, as crianças em residência alternada apresentaram maior estabilidade emocional que as crianças em residência única.
- Manter relacionamentos fortes com ambos os progenitores com residência alternada parecem compensar os efeitos negativos do conflito parental elevado e a cooperação parental diminuta. Embora a residência alternada não elimine o impacto negativo das crianças serem apanhadas no meio de conflitos intensos e continuados entre os progenitores divorciados, parece reduzir os níveis de stresse, ansiedade e depressão da criança.
É importante que os pais tentem minimizar os seus conflitos antes, durante, e após o divórcio. Para tal, podem sempre procurar ajuda profissional (consultas de aconselhamento parental, mediação familiar), para que o processo seja o mais natural possível.
Eis uma lista de dicas que podem ajudá-lo(a) a definir prioridades e a proteger os seus filhos, pois afinal de contas nada mais importa que isso:
- Comuniquem de forma assertiva. Ainda que a relação com o ex-cônjuge não sejas das melhores, comunique sempre com ele/a. Um dia a dia informado entre pais não só poupa dissabores como contribui para um elo de confiança parental.
- Organizem-se atempadamente. Giram os horários para evitar discussões de última hora e chatices em que os filhos acabarão por sentir culpa pelo mau humor dos pais. Com uma boa organização, tudo flui.
- Tenham em mente a missão conjunta de educar. Os pais não podem esquecer que estão na mesma equipa para educar os filhos.
- Mantenham regras consistentes em casa de ambos os progenitores. As rotinas devem ser semelhantes para não criar instabilidade nas crianças.
- Não monitorize a vida do seu ex-cônjuge através dos seus filhos. Não procure informações que em nada o vão ajudar a superar a situação.
- Reconheça que o seu ex-cônjuge possa refazer a sua vida e aceite a outra pessoa como uma figura importante para a vida dos seus filhos.
- Nos momentos de contacto dos filhos com o outro progenitor, não interfira. A criança deve estar confortável nos espaços sem sentir que está a trair a confiança de um dos pais.
- Promova o contacto com a família alargada. A convivência com os avós é fundamental para a saúde emocional das crianças.
Não se esqueça que a sua vida amorosa pode continuar e ser refeita depois de uma separação ou divórcio, mas o seu papel de pai ou mãe é vitalício.
Preservar o bem-estar dos seus filhos é fundamental para o seu desenvolvimento sadio.
As explicações são da psicóloga clínica Laura Alho, da MIND - Psicologia Clínica e Forense.
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