Sem orgasmo não vale a pena. Isto é, pelo menos, o que a maioria das pessoas pensa em relação ao sexo. Caso não atinjam o prazer máximo durante um encontro sexual, sentem que falharam ou que não fizeram o suficiente pelo parceiro. Essa busca pelo clímax coloca uma enorme pressão nos indivíduos e pode condicionar a vivência da sua sexualidade. Seguir uma lista de passos, muitas vezes sugeridos por sujeitos fora da relação, não produz sempre o resultado desejado, se é que alguma vez o faz.
"É preciso ter-se cuidado com os estereótipos em torno do prazer", sublinha, contudo, a sexóloga Vânia Beliz. "O sexo não se limita ao contacto genital nem se resume ao orgasmo", defende. "Generalizaram-se, ao longo dos anos, ideias que condicionam a satisfação sexual, como que o casal tem de atingir o clímax em simultâneo", adverte a especialista, autora de livros especializados como "Chamar as coisas pelos nomes - Como e quando falar sobre sexualidade" e "Ponto quê? - Prazer no feminino".
Na tentativa de melhorar a vida sexual das pessoas e libertá-las de preconceitos, cada vez mais psicólogos, terapeutas de casal e sexólogos estão a referenciar, nos meios de comunicação nacionais e internacionais, práticas sexuais antigas, algumas delas entretanto esquecidas, que procuram fortalecer a ligação do casal para aumentar o prazer. Uma delas é o método Karezza, desenvolvido na década de 1930 pelo médico americano J. William Lloyd. Tal como o modo de vida dos dinamarqueses, o hygge, esta prática sexual também se foca na fruição dos pequenos prazeres. Com trocas de olhares, abraços prolongados, carícias e brincadeiras.
Se, depois desses momentos de interação, quiserem avançar para o sexo penetrativo, as posições sexuais que escolherem devem favorecer o contacto visual do casal. A de missionário é uma delas mas existem outras a que pode(m) recorrer, como pode comprovar na galeria de imagens que se segue, que recorda algumas das mais comuns. "Tem muito a ver com os preliminares e com o facto das pessoas procurarem o toque e estimularem outras zonas para além da genitália", esclarece ainda Vânia Beliz.
Em termos práticos, o método Karezza pretende aproximar os elementos do casal, fomentar a intimidade emocional e reduzir a ansiedade em torno do sexo. Mas isso significa que há trabalho a fazer fora do vale dos lençóis. "Temos vidas profissionais intensas e exigentes, no entanto, é urgente desacelerar", avisa a especialista. "As pessoas estão muito centradas em si próprias, querem resolver as suas necessidades e não fazem cedências. Estão sempre ligadas à tecnologia e às redes sociais", constata ainda.
"Muitas acabam por recorrer mais à pornografia, porque não exige negociação e diálogo", defende mesmo a sexóloga. Uma forma de reaproximar os casais é dedicando tempo um ao outro, aconselha. "Devemos reservar um dia ou um fim de semana por mês para estar com a pessoa que escolhemos para nosso parceiro. Ir jantar fora a dois, ir ao cinema a dois, fazer atividades a dois. Conversar, investir no imaginário erótico e em coisas que possam excitar o outro, como é o caso da lingerie", sugere mesmo.
Voltar a namorar e manter a curiosidade em relação a quem está ao nosso lado parece ser o melhor caminho para atingir o prazer máximo. Sem pressa e com outro foco. "Convém viver a relação sexual de forma mais emotiva e não tão carnal", insiste a autora do livro "Chamar as coisas pelos nomes - Como e quando falar sobre sexualidade". Nos últimos anos, o sexo tem vindo a perder importância para os casais, como alertam vários estudos científicos. "A intimidade está em risco", considera ainda Vânia Beliz.
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