Com os sinais de um tempo mais fresco, condizendo com o outono, é reconfortante o calor proporcionado pela dúzia de castanhas, escaldando nas mãos, compradas em resposta ao apelo apregoado do "quentes e boas".
Hoje tidas quase uma guloseima sazonal, as castanhas constituíram no passado um nutritivo complemento alimentar, chegando a substituir o pão na ausência deste, quando os rigores e escassez do inverno se instalavam.
Cozidas, assadas ou transformadas em farinha, as castanhas há milénios que integram a alimentação humana. Crê-se que o berço do castanheiro, árvore de grande porte (da família das fagáceas ou das castaneáceas) que origina a castanha, se situe na região da Ásia Menor, Balcãs e Cáucaso. O castanheiro, espécie arbórea de grande longevidade, é tido para muitos povos como um símbolo de perenidade, de fartura e abastança.
Semente do castanheiro, a castanha, eclode ao fim de dez anos de vida da árvore, formando-se dentro do ouriço (que, em regra, conta com três castanhas no seu anterior).
A Castanha na cozinha e tradição portuguesas
O termo castanheiro aparece citado num documento em 960 d.C. em terras onde, mais tarde, se fundaria Portugal. Por séculos, a castanha – e também a bolota - foi alimento basilar na dieta portuguesa. Contudo, com os seculos XV e XVI e a introdução no nosso país da batata e do milho, provenientes das Américas, a castanha viu-se gradualmente relegada para segundo plano na mesa nacional.
Não obstante, no século XVII, a castanha era considerada um dos produtos básicos da alimentação dos beirões. Em anos maus, chegou a ocupar o lugar do pão, que escasseava, (fazia-se a "falacha"), e a substituir as batatas.
Para além do valor económico que ainda hoje representa para algumas terras de Trás-os-Montes, a castanha utiliza-se cada vez menos em sopa no Minho e, com significado, no Alto Douro e Terra Fria Transmontana.
Em Terras de Barroso, concelho de Montalegre, fazia-se ainda há poucos anos um caldo de castanhas em que estas eram reduzidas a puré, a que se juntava apenas um pouco de unto.
No Norte e na Beira Interior, assim no norte alentejano, regista-se a existência de grandes soutos, mas também há castanheiros na região de Entre Douro e Minho e em serras como Sintra e Monchique, esta última já no Algarve.
Castanhas pelo São Martinho
Assadas com sal grosso, cozidas com ervas aromáticas, secas tornando-se "piladas" e utilizadas depois de bem demolhadas, acompanhando em puré diversas receitas, ou a servir uma sopa aveludada e cremosa, o consumo de castanhas estende-se de finais de setembro até ao início da primavera. São, contudo, particularmente procuradas e celebradas no dia de São Martinho, a 11 de novembro.
Momento que no passado era celebrado com os Magustos, ou seja, grandes fogueiras ao ar livre, no campo, "rodeadas de grupos alegres que cantam e dançam enquanto a fogueira medra e as castanhas estoiram" (Leite Vasconcellos/Vida Tradicional Portuguesa).
O vinho novo, jeropiga ou água-pé, jorravam generosamente acompanhando as castanhas assadas, pois, como diz o adágio "no dia de São Martinho vai à adega e prova o vinho".
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