
As crianças são, por norma, atentas, gostam de explorar o mundo, são curiosas e procuram ligar-se ao que se passa à sua volta. Muitas vezes, as crianças têm ainda a hábil capacidade de estar ‘distraidamente’ a brincar e ao mesmo tempo ‘atentamente’ a ouvir a conversa dos adultos à sua volta.
Ainda assim, apesar desta atenção apurada que — muitas vezes — conseguem ter para a vida e para o dia a dia, são cada vez mais as sinalizações de crianças desatentas e incapazes de estar concentradas, chegada a hora de aprender, de estudar e de fazer conquistas escolares.
A verdade é que, muitas vezes, uma criança com dificuldade em manter-se atenta e concentrada, não apresenta dificuldades estruturais a este nível, mas sim outras fragilidades que condicionam essa capacidade. Por isso, perante crianças desatentas, devemos, começar por:
1. Olhar para o mundo interior da criança
As fragilidades emocionais condicionam a capacidade de atenção e concentração de forma bastante ampla. Por isso, devemos começar por perceber se há algum fator em desequilíbrio que possa estar a preocupar a criança, sejam questões sociais, familiares ou até de autoconceito da própria criança. Lembremo-nos que se houver uma preocupação clara com alguma área de vida, a criança ficará com a sua capacidade de se manter atenta e concentrada reduzida a níveis mínimos;
2. Treinar e estimular estas competências
Verifica-se muitas vezes, a falta de estimulação efetiva da capacidade de atenção e concentração aplicada à escola. E, para algumas crianças desenvolverem essa capacidade precisam que os adultos à sua volta as guiem e lhes deem as ferramentas certas para o fazerem. Algumas formas de o fazer é através de jogos direcionados, de puzzles, de construções, de desafios como por exemplo, labirintos, entre outros. O essencial é que esses desafios levem a criança de um ponto de partida até um objetivo final e que no processo tenha de manter ativa a sua capacidade de atenção e concentração;
3. Reduzir o tempo de exposição a tecnologias
As tecnologias são um dos estímulos que mais promove as dificuldades de atenção e concentração das crianças. Por terem uma componente muito ativa, muito acelerada e intensa, fazem com que as crianças fiquem mais agitadas, mais inquietas e, naturalmente, menos atentas. Para além disso, as tecnologias promovem a dependência, fazendo com que os restantes estímulos sejam menos apelativos para as crianças, perdendo mais facilmente o foco. Neste sentido, é essencial, que a tecnologia seja sempre regrada, quer a nível dos estímulos tecnológicos que uma criança pode, ou não ver, quer ao nível do tempo que lhe é permitido usufruir desses estímulos.
Lembremo-nos sempre que, a capacidade de atenção e concentração das crianças está também dependente das experiências do meio em que está inserida, da qualidade dos estímulos e de fatores emocionais e sociais. Por isso, assim que os sinais surgem, é essencial organizar o ambiente e o interior da criança, para garantir a exponenciação dos seus recursos e, a partir daí, optimizar a capacidade de atenção, nomeadamente, nos desafios escolares.
Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.
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