A fibromialgia caracteriza-se, essencialmente, pela presença de dores por vezes intensas e incapacitantes que podem atingir praticamente todo o corpo. Com frequência elas passam de um lado para outro, sem causa aparente. Os sítios que doem não mostram inchaço nem vermelhidão e não há tendência à deformação, como em certas doenças reumáticas. Quase sempre, as pessoas sentem também um cansaço intenso e injustificado, muitas vezes ao nível da exaustão. É típico que tenham um sono leve, entrecortado e, sobretudo, não retemperador: as pessoas acordam tão ou mais cansadas do que quando se foram deitar.

Estes sintomas cardinais são frequentemente acompanhados por uma variedade de outros, incluindo dores de cabeça, sensação de aperto no peito, dores de barriga, tipicamente associadas a cólon irritável, ardor a urinar ou dores na relação sexual. Quase sempre as pessoas com fibromialgia reconhecem que são pessoas tensas e preocupadas e ainda que os períodos de stress se acompanham de agravamento dos sintomas físicos.

O exame clínico, por mais cuidado que seja, não mostra qualquer alteração visível ou palpável ainda que doa à pressão em vários locais. Os exames laboratoriais e imagiológicos são sempre normais: a fibromialgia não justifica, por si mesma, qualquer alteração.

Estes aspetos tornam o diagnóstico difícil já que exige do médico um elevado grau de suspeição e a valorização de um conjunto de manifestações essencialmente subjetivas, para as quais não existe explicação aparente. A esta dificuldade acresce o facto de que muitos médicos se mostram reticentes a aceitar a autonomia desta doença ou, ainda pior, a reconhecer a autenticidade dos sintomas descritos pelo doente. Isto faz com que muitos pacientes corram de um médico para outro, sem que vejam o seu diagnóstico estabelecido ou um plano de intervenção bem definido. E contudo, sublinha-se, nada justifica estas dúvidas: a fibromialgia é uma condição bem estabelecida e reconhecida pela Organização Mundial de Saúde e está bem demonstrado que os sintomas descritos pelo doente, nomeadamente as dores, são reais.

Os sintomas variados e por vezes intensos, com destaque para a dor e a fadiga, juntamente com o desespero derivado da ausência de uma explicação ou tratamento eficaz, justificam um elevado grau de sofrimento e incapacidade para estas pessoas que representam cerca de 4% de todas as mulheres adultas e 1% dos homens.

Importa notar que, de acordo com as normas científicas mais recentes, o diagnóstico da fibromialgia não é um diagnóstico de exclusão - quer isto dizer que não é necessário garantir que não há outras doenças para afirmar a fibromialgia.  Este aspeto é muito importante, já que a fibromialgia coexiste com muitas outras doenças como sejam a artrite reumatóide, o lúpus eritematoso sistémico, a Sindrome de Sjogren, o hipotireoidismo, o colon irritável e a depressão, entre muitos outros. O diagnóstico e o tratamento, quer da fibromialgia quer destas outras doenças resulta, naturalmente, mais complicado quando coexistem.

Saliente-se o facto de que os traços da fibromialgia, no que respeita a dor, cansaço, sono e perfil psicológico existem com maior ou menor intensidade em toda a população. Todos somos fibromiálgicos em algum grau, traduzindo-se isso na nossa maior ou menor sensibilidade à dor, resistência ao esforço, qualidade do sono e tendência à ansiedade ou, pelo contrário, serenidade. O que se passa é que em alguns de nós, infelizmente, essa tendência é suficientemente marcada para resultar em sintomas significativos e perturbadores. Desses se diz que têm fibromialgia! Já que disso todos temos um pouco, talvez possamos e devamos dedicar a essas pessoas um pouco mais de compreensão, empatia e compaixão.

Um artigo de José António P. da Silva, médico e professor de Reumatologia na Universidade de Coimbra.

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