Mito 1. Nunca dormir “de costas viradas” (ou seja, é importante resolver os conflitos no próprio dia). 

Segundo a psicóloga americana Amie Gordon, perita no estudo das relações interpessoais, no âmbito de uma discussão com o parceiro, é imperativo “fazer uma pausa” – especialmente se um dos membros do casal se encontra cansado, stressado ou zangado. Após descansar, torna-se mais fácil colocar no lugar do outro, dialogar com mais ponderação e evitar retaliações. 

Inclusive, Amie Gordon reforça que, quando estamos emocionalmente exaustos e surge uma discussão, somos incapazes de fazer “boas atribuições” ou “boas interpretações” do comportamento do nosso parceiro e, por sua vez, torna-se mais difícil compreender a perspetiva da outra pessoa. 

Em poucas palavras, após uma boa noite de sono, os recursos emocionais para uma discussão produtiva e orientada para a resolução de problemas são mais elevados. 

Mito 2. Cuidar incondicionalmente do parceiro (como se cada dia fosse o último). 

Este mito, não raras vezes, baseado em estereótipos de género, leva a que algumas mulheres assumam o papel de cuidadora em algumas relações, apesar de também poder acontecer com alguns homens. 

Para algumas pessoas em relações, é o cuidar que permite uma sensação de segurança, isto é, percecionam que é a qualidade do seu papel, enquanto cuidadores, que define o seu valor como parceiro, na consequente expectativa de aumentar o envolvimento emocional e afetivo do outro. 

Contudo, a disponibilidade emocional para uma relação e para cuidar do outro depende do amor-próprio, do auto-cuidado, da valorização de nós próprios. Se eu não gostar de mim, jamais vou aceitar que outra pessoa é capaz de o fazer, que sou merecedora desse amor e, por sua vez, existe um risco elevado do medo do abandono, não confiar no amor do outro e todas estas inseguranças podem sabotar o bem-estar relacional. 

De acordo com Imi Lo, psicoterapeuta e autora da obra “The Gift of Intensity: How to Win at Life and Love as a Highly Sensitive and Emotionally Intense Person”, é importante que o casal tenha conversas honestas sobre as suas necessidades e expectativas sobre a relação, ou seja, devem comunicar e colaborar, partilhando responsabilidades e explorar que experiências e crenças podem estar a alimentar o desequilíbrio da relação. Na verdade, ambos devem ter um papel ativo para cuidar, dentro das suas ferramentas emocional que cada um dos membros do casal detém.

Mito 3. A relação só é saudável se não existirem “discussões”. 

A psicanalista Sussana Abse, autora do livro “Tell Me the Truth About Love: 13 Tales from the Therapist's Couch” (baseado na sua experiência de 30 anos em terapia de casal), afirma que são os “altos e baixos” da relação, os conflitos de casa e/ou as experiências traumáticas que cada um dos membros do casal vivencia que potenciam a ajuda mútua e uma maior proximidade e intimidade emocional. 

Mito 4. A relação só vai perdurar se encontrar “o amor da tua vida” (“o teu grande amor”, “o tal”, enfim, todas as expressões clichê que todos nós já ouvimos). 

Os filmes da Disney que fizeram parte da nossa infância alimentaram o mito do “príncipe encantado” (uma personagem sem defeitos, necessidades ou bagagem emocional, cujo único propósito é fazer feliz a princesa). Ao longo da nossa vida adulta, o cinema continuou a alimentar outras ideias como “o amor à primeira vista” e o “felizes para sempre”.

No entanto, talvez seja importante contar uma nova história para nos próprios: a pessoa pela qual nos apaixonámos não tem a capacidade sobre-humana de preencher todas as nossas necessidades e, se conseguisse, seria vítima de um enorme desgaste emocional. 

É importante identificar fontes de amor nas nossas vidas – família, amigos, colegas, comunidade – e, principalmente, o amor-próprio. 

Não está sozinho(a)! Procure ajuda e torne-se o amor da sua vida (única frase clichê que deve permitir guiar o seu caminho de crescimento e desenvolvimento pessoal, o qual vai afetar positivamente as suas relações interpessoais). 

As explicações são de Sofia Gabriel e de Mauro Paulino da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense. 

No amor a violência não é uma opção. Seja esta psicológica, emocional, física, social ou sexual. Denunciar é uma responsabilidade de todos, alerta a GNR. #NãoTeCales