Vivemos numa sociedade obcecada pela imagem. As redes sociais impõem padrões inalcançáveis e a procura pelo "corpo perfeito" tornou-se uma corrida sem linha de chegada. Mas até que ponto esta obsessão é construída dentro de casa e reforçada na escola? A dismorfia corporal e as perturbações alimentares são sintomas de uma cultura doente — e muitas vezes, tudo começa cedo, num comentário inocente ou numa comparação cruel.

A dismorfia corporal é uma condição em que a pessoa tem uma perceção distorcida do próprio corpo. Mesmo estando saudável ou com um corpo dentro dos padrões normais, sente-se "errada", "gorda" ou "insuficiente". Este fenómeno está diretamente ligado ao culto do corpo perfeito, amplificado por celebridades, influenciadores digitais e até anúncios publicitários.

Anorexia, bulimia e compulsão alimentar são respostas extremas ao desejo de controlar a aparência. Jovens — especialmente raparigas — começam dietas severas ainda na adolescência, por medo de não serem aceites. O que começa como "preocupação com a saúde" pode facilmente transformar-se numa prisão psicológica e física.

A autoestima é moldada desde a infância. Quando uma criança ouve constantemente críticas ao seu corpo ou presencia adultos a odiarem os próprios corpos, começa a associar valor pessoal à aparência física. Frases como “estás mais gordinho” ou comparações com irmãos/colegas deixam marcas. A escola, muitas vezes, reforça isso com bullying, falta de educação emocional e ausência de empatia.

Família e escola: aliados ou causadores?

A família pode ser um refúgio ou o ponto de partida do problema. Pais que elogiam apenas o aspeto físico ou incentivam padrões estéticos irrealistas, mesmo sem intenção, contribuem para o ciclo de insegurança. A escola, por sua vez, deveria ser um espaço de educação para a diversidade e para o respeito — mas falha quando ignora sinais de sofrimento ou permite o bullying.

O culto ao corpo ideal não é apenas uma questão de vaidade: é uma questão de saúde mental. Combater a dismorfia corporal e as perturbações alimentares exige uma mudança de mentalidades. Famílias mais conscientes, escolas mais empáticas e uma sociedade menos obcecada por aparências são o primeiro passo para libertar os jovens deste fardo. Está na hora de valorizarmos pessoas, não corpos.

Um artigo de Nora Cavaco, Psicóloga Clínica, Pós-doutorada em Intervenção Precoce no Autismo e Doutorada em Educação Infantil e Familiar, e responsável do Centro Clínico Al Ghrab.