É essencial reconhecer o papel determinante que estes profissionais desempenham na promoção da literacia em saúde. Ao conhecerem o contexto social, familiar e individual dos seus doentes, os médicos de família tornam-se figuras-chave na transmissão de informação acessível, clara e personalizada, ajudando as pessoas a compreender melhor a sua saúde e a tomar decisões mais informadas.

O que é literacia em saúde?

A literacia vai além da habilidade de apenas ler palavras. Envolve a capacidade de compreender, interpretar e usar informações para tomar decisões de forma o mais segura possível. Quando falamos especificamente de literacia em saúde estamos a falar sobre saber seguir orientações médicas, interpretar bulas, fazer as perguntas adequadas perante determinado sinal/sintoma, saber a que fontes recorrer quando se tem dúvidas, conseguir tomar decisões sobre a nossa saúde de forma informada ou quando não as tomar e procurar ajuda diferenciada mesmo com toda a informação do nosso lado.

O acesso à informação em saúde sem que haja por trás uma cultura de literacia de saúde abre espaço para interpretações incorretas e escolhas inadequadas. A baixa literacia em saúde é um desafio importante para os médicos, uma vez que dificulta a comunicação e a adesão do doente ao tratamento, afetando a qualidade dos cuidados e os resultados obtidos.

Quais são os benefícios da literacia em saúde?

O médico de família pode ter um papel fulcral para aumentar a literacia em saúde dos seus doentes. Conhecer a pessoa, o seu agregado familiar e o seu contexto socioeconómico permite ao médico de família adequar o tipo de discurso, tornando-o mais acessível, com a utilização de vocabulário personalizado para aquela pessoa em específico, o que permite entender melhor a sua doença/condição, os tratamentos possíveis, os sinais de alerta e assim incutir uma cultura participativa sobre a sua saúde, com mais autonomia sobre as decisões e menos vulnerável.

No dia a dia de um médico de família (e não só), são vários os exemplos de pessoas que demonstram baixa literacia em saúde. Falamos por exemplo dos pessoas a quem é prescrito um medicamento e em casa, após ler a bula do medicamento decidem não o tomar porque leram os possíveis efeitos adversos, muitas vezes sem partilhar essa decisão com o seu médico. No final, esta decisão leva a que tratamentos importantes não sejam efetuados. Na maioria das vezes, em situações em que o benefício do tratamento claramente supera o risco dos possíveis efeitos adversos.
Onde posso procurar informação?

Para quem não está muito habituado a fazer pesquisas sobre temas de saúde, costumo sugerir que evitem fontes “não oficiais” e que tentem recorrer a sites de organizações de saúde pública, instituições académicas, hospitais, associações e sociedades médicas e plataformas de informação em saúde baseadas em evidência. Alguns blogs e artigos de profissionais de saúde poderão também ser fontes úteis para complementar a pesquisa, idealmente depois de consultar as opções mencionadas anteriormente. Além disso, sempre que possível, é aconselhável discutir qualquer dúvida com o seu médico, garantindo que a informação encontrada é relevante e aplicável no seu caso específico.

A importância de investir em literacia em saúde

Investir na sua literacia em saúde é fundamental. O retorno pode não ser imediato e tangível, mas uma cultura de literacia em saúde que fomente a comunicação, a compreensão e a cultura de agir de forma informada custa menos — em recursos e em sofrimento humano — do que consertar os erros da desinformação.

Para o médico o desafio é conseguir comunicar de uma forma eficaz, livre de preconceitos, sem julgar o doente que, por ter acesso a muita informação, colocará várias questões. No final, o objetivo é orientar a pessoa para uma decisão que a beneficie ao máximo em termos de saúde, em que a própria fez parte e concordou com o processo de decisão.

Um artigo de André Graça, médico especialista em Medicina Geral e Familiar no Hospital CUF Porto.