A verdade é que, mesmo sem querermos, é demasiado fácil afastarmo-nos da nossa essência e do nosso propósito, como se - porque as exigências dos dias são muitas, entre estudos, trabalho ou filhos - facilmente entrássemos num piloto automático, que nos impede de conectarmos connosco e de evoluirmos.
Este piloto automático, por um lado, permite-nos continuar a reagir perante algumas condições adversas, mas - ao mesmo tempo que nos traz essa capacidade de sermos funcionais - coloca-nos um travão à nossa sensibilidade, à nossa motivação e ao alcance dos nossos objetivos. No fundo, o piloto automático permite-nos agir sem estarmos sintonizados connosco nem em termos de pensamento, nem a nível sensorial ou emocional.
Neste seguimento, acabamos por nos contentar com bem menos do que aquilo que merecemos, acabamos por ficar muito aquém da nossa melhor versão, o que no nosso dia a dia se traduz em gestos pouco espontâneos e ligados à vida. Isto é, acabamos por nos contentar com um emprego que não nos traz gratificações, mas que é uma fonte de segurança, acabamos por não arriscar uma área de estudo, porque temos medo de não ser capazes, mantemo-nos em relações que pouco nos apaixonam porque, de novo, nos trazem segurança ou, simplesmente porque temos medo de ficar sozinhos.
E assim deixamos de viver em toda essência que implica estar vivo e passamos apenas a sobreviver como que em câmara lenta, sem sentir o coração quente e a alma no lugar certo. E, aos poucos e poucos, vamos esmorecendo para a vida, esmorecendo para os nossos sonhos e acabamos em piloto automático.
Por tudo isto, lembremos-nos que a Páscoa, mais do que tudo, implica renascimento e, apesar das circunstâncias que todos vivemos, aproveitemos a época de renascimento, para refletirmos sobre nós próprios, sobre os nossos dias e sobre todos os momentos em que - mesmo sem querer - nos deixamos envolverem em piloto automático e nos deixamos entrar em câmara lenta.
Esta é assim, uma época propicia à conexão, que nos chama a pararmos e fazermos o exercício de pensar quem estamos a ser agora e a que distância estamos de quem queremos ser. Para além disso, se a distância de quem somos até quem queremos ser for grande, devemos aproveitar para nos unirmos com a Páscoa e renascermos com ela.
Renascermos rumo a quem nos queremos tornar e principalmente promovendo a nossa autenticidade e a conexão com o nosso interior e com as nossas emoções. Não nos esquecendo que renascer implica sermos tolerantes connosco próprios, sermos capazes de olhar para algumas das nossas feridas e permitirmo-nos a sentir e a crescer.
Um artigo das psicólogas Cátia Lopo e Sara Almeida da Escola do Sentir.
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