Nos últimos anos, tornou-se relativamente comum um indivíduo ter consultas de psicologia ou conhecer alguém que tenha beneficiado destas. Com este espaço conquistado e, felizmente, a aumentar, torna-se importante perceber o que são e para quem são estas consultas.
Quando falamos em consulta psicológica, referimo-nos a um trabalho psicológico colaborativo, baseado numa relação terapêutica, isto é, entre psicólogo e cliente (quando nos referimos a consulta individual). Neste contexto, o psicólogo clínico contribui para a criação de um ambiente de apoio, confidencialidade e sem julgamento. Assim, o objetivo é trabalhar um conjunto de recursos com vista ao desenvolvimento de competências, ou trabalhar e intervir sobre processos cognitivos (capacidades envolvidas na aquisição, organização, armazenamento, recuperação e utilização de informação na mente), comportamentais e emocionais que causem sofrimento ou problemas a um indivíduo.
Já toda a gente ouviu, pelo menos uma vez na vida, a expressão “psicólogo é para malucos”. Apesar de, inicialmente, se ter atribuído ao acompanhamento psicológico o foco no tratamento de patologias, nos dias que correm é mais bem compreendido que o espaço de consulta não é apenas ocupado por “tratamento” de patologias, mas é um lugar de co construção entre terapeuta e cliente, com vista a encontrar soluções mais vantajosas para o que motivou o pedido de consulta.
Quer isto dizer que qualquer pessoa pode beneficiar de apoio psicológico, desde indivíduos com perturbações mentais, a indivíduos com dificuldades pontuais em diversas áreas (por exemplo, problemas pessoais, familiares, relacionais, laborais). Mesmo na ausência de problemas atuais, poderá utilizar este apoio como uma forma de desenvolvimento pessoal e competências, bem como autoconhecimento. A intervenção psicológica é utilizada tanto para atuar sobre doenças psicológicas, como para manter a saúde psicológica, a partir do desenvolvimento de recursos importantes para lidar com dificuldades presentes ou futuras. Sendo possível ter objetivos tão distintos, este processo pode variar também na sua duração, podendo durar apenas algumas sessões (por exemplo, cerca de 10 sessões, quando são processos focados na resolução de uma questão muito específica), ou vários anos, estando a decisão de continuar ou não o processo nas mãos do cliente.
Estando a psicologia clínica baseada em métodos estudados e cientificamente validados, o trabalho do psicólogo não se trata apenas de ouvir, nem dar palpites ou conselhos mágicos e acertados. Por isso mesmo, e de forma a manter um referencial de qualidade técnica e deontológica adequada, este trabalho pode ser desempenhada apenas por psicólogos qualificados.
Na procura de um profissional de saúde mental qualificado, poderá reparar que existe uma grande variedade de abordagens terapêuticas, com formas distintas de conceptualizar e trabalhar o problema. Além da abordagem utilizada pelo psicólogo, os estudos sobre eficácia terapêutica identificam outros 3 fatores que explicam a mudança terapêutica eficaz:
a) Variáveis do cliente e mudanças no contexto em que está inserido;
b) Expectativas do cliente e perceção de eficácia que atribui ao processo;
c) Fatores comuns do acompanhamento, sendo o mais importante deles a aliança terapêutica, composta pela existência de objetivos terapêuticos claros, tarefas definidas para os atingir e uma boa qualidade de relação terapêutica.
Assim, apesar de a abordagem terapêutica ter um impacto significativo sobre o resultado terapêutico, destaca-se a influência da relação terapêutica, identificação do cliente com o terapeuta e confiança na sua forma de trabalhar. Por isso, ao procurar um profissional, deve procurar alguém com quem se sinta seguro, confortável, compreendido e que se identifique com o método de trabalho. Se, por alguma razão, não se identificar com o profissional com quem marcou uma consulta, não quer dizer que esteja a fazer algo de errado, que não esteja indicado para, ou que não possa beneficiar efetivamente deste tipo de acompanhamento. Significa apenas que deverá percorrer esse caminho junto de outro profissional, com quem se sinta melhor e consiga criar uma relação mais confortável.
Comece o seu processo terapêutico e beneficie daquilo que a ciência psicológica pode trazer de bom para si. Para mais dúvidas, sugerimos a consulta de outros links de apoio disponibilizados pela Ordem dos Psicólogos Portugueses e o Regulamento n.º 15/2023, de 6 de janeiro, que define os atos dos psicólogos.
Um artigo dos psicólogos clínicos Samuel Silva e Mauro Paulino, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
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