Muitas vezes, a depressão, considerada uma doença deste século, é confundida com um sentimento de tristeza. Assim como a tristeza pode ser confundida como um estado de depressão. Entender as diferenças é fundamental para entender o que a pessoa está a sentir e ajuda a perceber a necessidade, ou não, da procura de ajuda de um especialista - um psicólogo ou psicoterapeuta - de forma a trabalhar o estado emocional negativo e a recuperar o equilíbrio emocional.
O que é a tristeza?
A tristeza é uma reação natural do ser humano a situações difíceis de serem vivenciadas. Sentir tristeza é saudável, pois ajuda-nos a crescer e a amadurecer com essa vivência mais negativa. Sentimos tristeza diante de uma perda, de uma doença, de uma separação, na mudança de emprego ou na mudança de uma fase da nossa vida, como por exemplo, com a passagem da vida ativa para a reforma.
Sentir tristeza, não é sinónimo de depressão. Sentir tristeza é uma emoção adaptativa em resposta a uma perda significativa e informa-nos acerca de necessidade de nos recolhermos e sermos acolhidos por quem gostamos. Permite-nos receber daqueles que nos rodeiam ou dar a nós mesmos colo e conforto às nossas fragilidades. Quando a tristeza surge, ela está a alertar-nos de que existe algo que não está bem e que necessita de atenção. Assim, quando perdemos alguém, é natural que nos sintamos tristes. Se perdermos o emprego, também é natural que nos entristeçamos. E é esta capacidade de nos entristecermos que nos protege de deprimirmos.
A tristeza sentida mediante reações que consideramos adversas, existe num determinado período de tempo (cerca de 2 meses), mas esse quadro vai-se atenuando e paulatinamente a vida vai retomando o ritmo normal. A tristeza é um sentimento momentâneo, considerado saudável e até importante. Ajuda na elaboração das perdas ou sofrimentos ocasionais.
Agora, se a tristeza não passa e continua no tempo e começam a surgir sentimentos de apatia, indiferença, desesperança, falta de perspetivas ou prazer pela vida, entramos num quadro de depressão.
O que é a depressão?
Poderemos dizer que a depressão é uma doença em que a tristeza é um de seus ingredientes, uma vez que a depressão vem sempre acompanhada por um conjunto de outros sintomas. A palavra depressão deriva do latim deprimere, este verbo significa “prensar, esmagar, afundar”. A depressão é uma tristeza profunda e prolongada. Independentemente de as opiniões se repartirem quanto à origem, sabemos hoje que a depressão se mantém com base no comportamento que decorre de todos estes pensamentos negativos, e de um bloqueio que se forma dentro de nós que nos impede de viver a nossa tristeza de uma forma saudável.
O que distingue a tristeza da depressão?
Podemos distinguir tristeza da depressão, relativamente à duração, à intensidade, às causas e aos sinais e sintomas:
No que diz respeito à duração, enquanto a tristeza dura algumas horas ou até alguns dias, poucos meses, a depressão, sem o tratamento certo, pode durar meses ou até anos. Caracteriza-se por um estado prolongado de tristeza e desinteresse pela vida.
Quanto à intensidade, a tristeza é um sentimento normal e não afeta a produtividade. Mesmo tristes, conseguimos realizar tarefas simples do dia-a-dia. Já no caso da depressão, o sentimento ruim não passa e afeta vários aspetos da vida, nomeadamente, a saúde, o trabalho, os relacionamentos, a família e a vida social. A coisa mais pequena torna-se difícil de fazer e atividades que anteriormente nos eram queridas e agradáveis são abandonadas, ao mesmo tempo, sentimo-nos invadidos pelo cansaço persistente e falta de energia. Em casos graves, pessoas com depressão podem até pensar em suicídio.
As causas
A causa da tristeza, geralmente, está relacionada com algum acontecimento específico (perda de um ente querido, divórcio, perda do emprego, aparecimento de doença, etc) com pouca durabilidade no tempo e em que a pessoa é capaz de ultrapassar essa dificuldade, restabelecendo o seu equilíbrio emocional.
Já no caso da depressão é a conjugação de várias experiências de vida (perda de um ente querido, término de uma relação significativa, alterações na estrutura familiar, alterações a nível profissional ou perda de emprego, problemas financeiros, sensação de perda de controlo sobre a vida, entre outros), que vivemos tão intensamente e que não conseguimos ultrapassar. Geralmente, são as más experiências do passado como traumas, violência infantil, bullying, divórcios, relacionamentos difíceis que nos trazem angústias e tristezas. São experiências vividas com uma intensidade tal que se torna difícil ultrapassar a dor que elas trazem. Sentimos angústia sempre que nos deparamos com experiências que nos quebram o estado de motivação, como ofensas, incompreensões, violências, entre tantas circunstâncias que nos retiram a paz interior, a alegria e a motivação para continuarmos o nosso caminho.
De referir que o suporte social, o contexto ambiental, a exposição a ambientes agressores, como violência, negligência, e aspetos da personalidade, como baixa autoestima, pessimismo, contribuem para o desenvolvimento da depressão.
As emoções como o medo, a mágoa e a tristeza, se não forem geridas e ultrapassadas, com o passar do tempo, destroem a nossa qualidade de vida, limitando-nos na nossa liberdade de seremos felizes e assim, entramos num estado de depressão.
Quais os sinais e sintomas que caracterizam a depressão?
Devemos estar atentos aos sinais e sintomas da depressão, entre eles destacamos:
- Não ter interesse ou o prazer em atividades que antes eram divertidas;
- Perder ou ganhar peso sem ter feito alterações na dieta;
- Ter problemas com sono (dormir pouco ou dormir demais);
- Ter explosões de raiva, mesmo por motivos insignificantes;
- Estar sempre cansado, sem energia ou lentificado;
- Sentir dificuldades de concentração ou dificuldades em tomar decisões;
- Ter sentimentos de culpa ou de inutilidade.
- Diminuição da líbido
Estes sintomas podem coexistir e fazem-nos acreditar que somos inúteis, sem valor, incapazes, deixando-nos sem autoestima. Nos casos extremos de tristeza e depressão, algumas pessoas entram em espirais de angústia tão grandes, que ao não encontrarem uma forma de alívio para as pressões da sua mente, a morte pode parecer ser a única saída. Infelizmente, em Portugal, por ano, mais de 1000 pessoas cometem suicídio e muitas mais milhares tentam ou permanecem constantemente com esses pensamentos.
Como tratar a depressão?
É importante saber que a depressão tem tratamento. O tratamento ainda mais usado é o farmacológico, com recurso a medicamentos que atuam nos sintomas da depressão. No entanto, para a maioria das pessoas a medicação não dá resultado ou os efeitos secundários são muito negativos. Para outras pessoas, tomar medicação para alterar os seus pensamentos e emoções não faz sentido. Assim, deve-se trabalhar sempre nas causas da Depressão, sendo a psicoterapia o caminho para a maioria das pessoas que sofrem desta perturbação. Sendo a depressão um estado reativo a experiências de vida a psicoterapia ajuda as pessoas a olhar para trás e ressignificar essas mesmas experiências, atribuindo-lhe outro significado, de forma a não afetaram a vida da pessoa.
As explicações são da psicóloga Carla Oliveira, psicoterapeuta na Clínica da Mente.
Comentários