Tinha 33 anos quando foi confrontada com o diagnóstico que ninguém quer receber. Miriam Brice sofria de "uma forma agressiva de cancro da mama". No testemunho que deu para a edição de outubro da revista Prevenir, atualmente em banca, Miriam Brice, presidente da direção da Careca Power, recorda o que sentiu quando lhe deram a notícia. "Achei que tinha sido [um] engano porque eu não tinha perfil para ter cancro", sublinha.
"Era jovem, mantinha uma alimentação saudável, fazia desporto e tinha sido mãe há pouco tempo, logo aquele diagnóstico não podia ser o meu", prossegue. Mas era. À medida que foi avançando nos tratamentos, isolou-se. "Sentimos que não vale a pena falar sobre o assunto, pois quem nunca teve cancro não nos compreende verdadeiramente, e, ao mesmo tempo, não queremos preocupar as pessoas que nos são próximas com os nossos receios", diz.
Aderir ao grupo de Facebook Careca Power, que mais tarde se viria a converter numa associação, foi uma das formas que encontrou para lidar com a situação. Ao contrário da instituição associativa, que é aberta a homens e mulheres, o grupo criado na rede social criada por Mark Zuckerberg é exclusivamente feminino. "Criado em 2015, após um artigo sobre a doença ter feito capa numa revista, por Luísa Mello e Faro, Andreia Teixeira Lopes e Raquel Soeiro, doentes oncológicas, surgiu para que nós, mulheres com cancro, qualquer que seja ele, tivéssemos um local de partilha de experiências, dúvidas e medos", sublinha Miriam Brice, 38 anos, advogada.
"Quando me juntei ao Careca Power, éramos 50, hoje somos mais de duas mil carecas", realça a dirigente associativa, que procura diariamente melhorar a condição dos doentes oncológicos que vivem em território nacional. "Existem muitas lacunas a nível do cancro em Portugal", critica. "Sob o ponto de vista legal, por exemplo, os valores das baixas têm limites, o que pode resultar em problemas económicos", alerta Miriam Brice.
"As associações nesta área falham na questão da empatia com a pessoa que têm à frente. Nós, como somos todas doentes oncológicas, sabemos exatamente o que a pessoa sente", garante. "A associação é aberta a todos, sejam homens ou mulheres, doentes ou não, porque a causa oncológica é de todos, já que não sabemos a quem é que o cancro vai bater à porta. É verdade que mata mas meter a cabeça debaixo da areia não é solução", defende.
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