“Essa é seguramente uma das dimensões mais críticas que nós temos, do ponto de vista do SNS, que é conseguir captar e reter e valorizar esse talento que nós acabamos por formar”, disse Fernando Araújo em resposta a questões levantadas por deputados da Comissão de Saúde sobre a valorização dos recursos humanos.
O diretor executivo do SNS referiu que, neste momento, há “gerações de profissionais que pensam de forma diferente” e que a abordagem tem que ser distinta do que era há 20 anos, “com risco de não os captar”.
Mas frisou que o problema não é unicamente português, como disse ter constatado na semana passada quando esteve na sede da Organização Mundial de Saúde (OMS) Europa, em Copenhaga, e lhe perguntaram o que estava Portugal a fazer para captar os jovens médicos, porque “a Alemanha, o Luxemburgo, a Espanha, Inglaterra estão todos com problemas”.
“É verdade que há uma questão de vencimentos em Portugal, mas não é o único problema. E não é apenas com essa questão que vamos resolver, porque países muito mais ricos, a Alemanha é bom exemplo, pagam muito mais” e também estão com problemas.
De acordo com o responsável, “é um problema transversal” resultante de haver uma geração cada vez mais global.
“Temos de olhar para essa questão da geração também de forma diferente”, defendeu Fernando Araújo, que foi ouvido na Comissão de Saúde, a pedido do PCP, sobre a reorganização dos serviços de urgência de Ginecologia e Obstetrícia na região de Lisboa e Vale do Tejo; da reorganização dos serviços de urgência de Psiquiatria a nível nacional e da reorganização dos serviços de urgência geral.
Explicou que não são só as condições de trabalho que estão em causa: “O que [os jovens médicos] querem mesmo é, naturalmente, o equilíbrio entre a vida profissional e a vida familiar, é diferenciar-se e ter um projeto de vida do ponto de vista profissional”.
Pretendem ainda ter “infraestruturas e equipamentos, flexibilidade no trabalho, flexibilidade no número de horas que fazem e como fazem, é ter lideranças que os inspire a trabalhar no SNS”, disse, sublinhando que é preciso “percorrer essas várias realidades para conseguir retê-los”.
“É bem diferente a forma de abordar os profissionais médicos há 20 anos e agora. E, ou nós percebemos isso, e mudamos essa forma, ou mantemos a mesma abordagem e perdemos estes recursos humanos mais novos”, insistiu.
Fernando Araújo adiantou que há um conjunto de dimensões diferentes que serão trabalhadas para tentar “mudar e conseguir de novo atrair e reter estes bons valores” que são formados em Portugal.
Questionado pela deputada Joana Cordeiro da Iniciativa Liberal sobre a questão das parcerias público-privadas (PPP), Fernando Araújo disse que pessoalmente não se opõe às PPP, “desde que seja com exigência e com rigor, com transparência”.
Aludindo à situação vivida nas urgências no Hospital Beatriz Ângelo, Loures, que há um ano deixou de ser gerido em regime de PPP, passando para a esfera do Estado, afirmou que a direção executiva do SNS está a tentar “ajudar a resolver problemas que não são fáceis nem simples”.
“Temos tentado com os profissionais do hospital alterar, mudar, de forma a tornar o hospital novamente atrativo e novamente dinâmico em termos de resposta aos utentes que o procuram. Portanto, é esse o trabalho que iremos fazer”, declarou Fernando Araújo.
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