Uma proteína chamada RBM3, conhecida como a "proteína do choque frio", foi encontrada no sangue de nadadores de inverno de Londres. Essa proteína tem a capacidade de retardar o início da demência e pode até mesmo reparar danos neurológicos relacionados com a idade em ratinhos, segundo um estudo publicado na revista Nature em 2017.
Giovanna Mallucci, do Centro de Investigação de Demência do Reino Unido na Universidade de Cambridge, diz que a descoberta de que os nadadores também produzem essa proteína quando estão em águas geladas pode guiar os cientistas na procura de tratamentos com fármacos que estimulem a sua produção.
Em entrevista à radiotelevisão pública britânica (BBC), a cientista diz que os investigadores sabem há décadas que diminuir de forma segura a temperatura corporal das pessoas pode proteger os seus cérebros. Em procedimentos cirúrgicos em pessoas com lesões na cabeça ou problemas cardíacos, é comum reduzir a sua temperatura corporal. O que ainda falta perceber é o porquê de o frio ter esse efeito protetor.
A demência está associada à destruição das sinapses - a transmissão de impulsos nervosos entre células do cérebro. Nos estágios iniciais da doença de Alzheimer e de outras doenças neurodegenerativas, essas conexões cerebrais são perdidas.
Como descobriram a RBM3 em humanos?
A Universidade de Cambridge descobriu a RBM3 em 2015. A equipa de investigadores arrefeceu ratinhos saudáveis e ratinhos com doença de Alzheimer até que atingissem um estado de hipotermia, ou seja, que a sua temperatura corporal estivesse abaixo de 35°C. No reaquecimento, descobriram que apenas os ratos saudáveis conseguiam regenerar essas sinapses; os ratinhos doentes não.
Ao mesmo tempo, descobriram que os níveis da proteína RBM3 dispararam nos ratos saudáveis durante o arrefecimento, mas não nos outros.
Foi então que entrou em cena o nadador Martin Pate. Ele e outros colegas de desporto diminuíram a sua temperatura corporal regularmente durante os invernos de 2016, 2017 e 2018 para que a equipa de Giovanna Mallucci testasse a proteína nos nadadores durante o inverno.
Os cientistas usaram membros de um clube de tai-chi que fazem exercício ao lado da piscina, mas nunca nadam, como grupo de controlo. A equipa de Cambridge descobriu que um número significativo de nadadores tinha níveis elevados de RBM3. Todos tinham ficado regularmente hipotérmicos, com temperaturas até os 34ºC. Nenhum membro do grupo de tai-chi mostrou um aumento nos níveis de RBM3 ou experimentou essas temperaturas corporais muito baixas.
O desafio agora é encontrar um fármaco que estimule a produção da "proteína do choque frio" em humanos e, antes disso, verificar que a mesma realmente ajuda a retardar a demência.
Números da demência continuam a aumentar
O número de pessoas com demência em Portugal em 2050 será mais do dobro do que atualmente, atingindo 3,82% da população, valores que ultrapassam a tendência europeia, segundo dados de um relatório da Alzheimer Europe divulgado este ano.
Analisando os dados de Portugal, existe um ligeiro decréscimo da população portuguesa para o período 2018-2025, seguido de um decréscimo mais acentuado entre 2025 e 2050. Apesar do decréscimo da população, o número de pessoas com demência irá mais do que duplicar: de 193.516 em 2018 (1,88% da população) para 346.905 em 2050 (3,82% da população), refere o relatório divulgado da Alzheimer Europe.
"Portugal ultrapassa a tendência europeia com os números quase a duplicar em 2050", refere a Alzheimer Portugal.
Segundo o documento, "um fator determinante desta mudança será um aumento significativo do número de pessoas com mais de 70 anos e, em particular, a faixa das pessoas com mais de 85 anos, a qual mais do que duplicará entre 2018 e 2050".
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