“De uma forma geral o balanço é negativo. Basicamente o Governo não teve em conta a situação da testagem quando aplicou esta medida de obrigatoriedade de testes para entrar em bares e discotecas e ao nível de eventos”, disse o presidente da ADN, José Gouveia, em declarações à Lusa.

Segundo o representante, para um “evento especial” como a passagem de ano que se aproxima “é capaz de a pessoa ter o cuidado e vontade e tomar a iniciativa de fazer um teste”, sobretudo entre os mais velhos, mas para beber um copo, respondendo a um convite no próprio dia, “não se consegue, porque não se consegue testar”.

A entrada nos bares com espaço de dança e discotecas, que reabriram em 01 de outubro depois de encerrados cerca de 19 meses devido à pandemia, estava até à semana passada cingida apenas à apresentação do certificado digital, que podia ser relativo a vacinação, recuperação ou à realização de teste negativo.

José Gouveia lembrou que dezembro era, habitualmente, um mês em que se fazia “perto de 30% da faturação do ano”, mas nos últimos dias houve quebras no setor “de 30% a 40%” - houve alguns casos em que estes espaços “trabalharam relativamente bem”, mas longe de outros tempos.

Apesar da abertura de quatro centros de testagem à covid-19 perto dos locais de animação noturna em Lisboa - no Cais do Sodré, Largo de Camões, Príncipe Real e Santos -, o dirigente referiu que estes não abrem todos os dias e, nos dias em que abrem, não se sabe “a quem apetece estar mais de uma hora numa fila à espera”.

O município anunciou a criação dos postos (o Cais do Sodré foi o primeiro a abrir) com funcionamento às sextas, sábados e vésperas de feriados, mas definiu depois abri-los à quinta-feira, decidindo ainda o seu funcionamento diário entre o dia 16 e o Natal.

José Gouveia afirmou que houve discotecas que decidiram criar os seus próprios centros de testagem (contratando laboratórios e pessoal próprio) de forma a poderem ter clientes, mas há um custo associado que “não pode ficar para os privados”, até porque o setor soma dificuldades nos últimos dois anos.

“Trocava os testes pelas máscaras, mantendo o certificado de vacinação, recuperação ou testagem”, disse, sublinhando que no domingo a Direção-Geral de Saúde aconselhou - não obrigou - o uso das máscaras no interior dos espaços de diversão noturna.

De acordo com o responsável, ainda se está a tempo de mudar e ajudar as empresas a sobreviver, “sendo agora a máscara um mal menor”: no seu entender, o continente poderia optar pela solução adotada na ilha da Madeira, onde a testagem tem uma validade semanal.

“Poderá ser uma solução, há um controlo menor, mas ainda assim há controlo”, explicou.

Tendo em conta que representa bares e discotecas de norte a sul, José Gouveia deu ainda exemplos de muitas mensagens que lhe têm chegado nos últimos dias de empresários que pedem que o interior não seja esquecido.

Foi o caso do proprietário de um bar em Vila Real onde só existe uma farmácia no raio de 20 quilómetros e que faz testes antigénios de forma gratuita, mas estes esgotaram. O proprietário recebeu “dezenas de mensagens a dizer que não iam sair porque não conseguiram fazer o teste, não que não quisessem, mas porque não havia” testes

“Não se esqueçam dos meios pequenos, não se foquem só nos grandes centros. Nós também existimos e precisamos que nos ajudem, seja a nível municipal, seja a nível governamental, mas alguma coisa tem de se fazer para que este tipo de situações não aconteça”, pode ler-se no apelo transmitido a José Gouveia.

Um outro empresário revelou que teve 40 clientes numa noite e que o ganho foi para pagar as bebidas. No seu entender, tirando a passagem de ano, as pessoas “não vão alinhar” no processo de testagem.

De acordo com José Gouveia, houve um outro empresário que lhe deu conta de que as discotecas suas concorrentes estavam a adquirir autotestes e a contratar enfermeiros para testar pessoas à porta.

Outro empresário que fez esta opção concluiu não ser vantajoso: “Quebra de 95% com testes grátis à porta, laboratório pago a peso de ouro”, escreveu ao dirigente da associação.

Algarve é exceção

As medidas impostas no contexto da pandemia para aceder aos bares e discotecas “têm pouco impacto” no Algarve, devido ao encerramento dos estabelecimentos na época baixa, disse hoje o presidente da Associação de Discotecas do Sul e Algarve (ADSA).

“No Algarve está quase tudo fechado nesta altura do ano [época baixa do turismo], porque em situação normal da época já estariam fechadas. Portanto, o restabelecimento de algumas medidas para combater a pandemia [de covid-19] têm um impacto muito pequeno no setor”, disse à Lusa Liberto Mealha.

De acordo com o presidente da ADSA, a maioria dos espaços algarvios de animação noturna “decidiu também não abrir para as festividades de fim de ano”, até porque, ressalva, o cancelamento das festas de rua pelas autarquias “vai fazer com que a maioria das pessoas opte por fazer festas particulares em casa, com os amigos”.

De acordo com as novas medidas de contenção da pandemia de covid-19, o acesso a bares e discotecas e outros estabelecimentos de bebidas sem espetáculo e a estabelecimentos com espaço de dança está dependente da apresentação pelos clientes de "certificado de covid-19 da União Europeia (UE) nas modalidades de certificado de teste ou de recuperação".

Desde o dia 01 de dezembro, data em que entraram em vigor as novas medidas, o acesso aos espaços está ainda dependente da apresentação de "outro comprovativo de realização laboratorial de teste com resultado negativo".

No entender de Liberto Mealha, o facto de as pessoas terem de apresentar um teste negativo juntamente com o certificado digital de vacinas “para ir beber um copo”, a um bar ou a uma discoteca, tem um custo demasiado alto”.

“Não sei até que ponto é que as pessoas estão na disposição de sair para algum destes locais com mais este acrescento de despesa. O copo que vai beber fica muito caro”, apontou.

A entrada nos bares com espaço de dança e discotecas, que reabriram em 01 de outubro depois de encerrados cerca de 19 meses devido à pandemia, estava até agora condicionada à apresentação de um certificado digital, que podia ser de vacinação, recuperação ou de um teste negativo.

Em Portugal, desde março de 2020, morreram 18.537 pessoas e foram contabilizados 1.166.787 casos de infeção, segundo dados da Direção-Geral da Saúde (DGS).