“O surto está, não surpreendentemente, a dominar os casos de desinformação desta semana. Aproximadamente um terço dos quase 90 casos desta semana é referente à desinformação sobre o vírus, as suas causas e a sua propagação”, indica numa análise hoje publicada o grupo de trabalho East StratCom, criado pela União Europeia (UE) em 2015 para combater a desinformação russa.
De acordo com o East StratCom, desde o final de janeiro passado, quando a crise do COVID-19 se intensificou, e até agora, registaram-se mais de 110 casos de ‘fake news’ relacionadas com o surto, com a desinformação a intensificar-se nos últimos dias e a ser essencialmente propagada por meios de comunicação pró-Kremlin (a favor do regime russo).
Na análise, o grupo de trabalho aponta que uma das mensagens mais difundidas é referente a “uma teoria da conspiração, de que […] o vírus foi criado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte [NATO, na sigla inglesa] ou em laboratório”.
“Encontrámos essa mesma afirmação, com pequenas variações, esta semana em russo, em árabe, em italiano, em inglês e em castelhano”, aponta o East StratCom, exemplificando que, neste último caso, se deveu ao serviço espanhol do canal estatal russo RT.
Outra ideia propagada é a de que o surto consiste num “esquema do governo italiano para arrecadar dinheiro à UE e relaxar nas rigorosas regras orçamentais” impostas por Bruxelas, indica este grupo de trabalho.
Existem, ainda, teorias relacionadas com o facto de “o vírus se espalhar para reduzir a população do planeta Terra” ou para “as elites globais introduzirem tirania”, acrescenta.
“E há alegações recorrentes de que não há surto”, mas que se pretende impor uma “vacinação forçada” com ‘chips’ para controlar as pessoas, realça o East StratCom.
Este grupo de trabalho adianta que, do ‘topo’ das notícias falsas desta semana, faz ainda parte a ideia de que o Covid-19 vai levar “ao colapso da UE”.
Questionada pela agência Lusa sobre a desinformação relacionada com o surto no espaço comunitário, a Comissão Europeia diz estar “ciente de um número crescente de informações falsas”.
“Estamos preocupados que algumas dessas informações possam causar danos aos cidadãos”, admite o porta-voz do executivo comunitário para a área digital, Johannes Bahrke, na resposta à Lusa.
De acordo com o responsável, a Comissão está “a acompanhar” o combate à desinformação feito por plataformas ‘online’ como o Facebook, Twitter ou Google, que assinaram no final de 2018 um código de conduta contra as ‘fake news’, um mecanismo de autorregulação criado por Bruxelas para acabar com as notícias falsas na internet.
Johannes Bahrke adianta à Lusa que a ação destas plataformas passa, então, por “suprimir conteúdos falsos ou enganosos, remover conteúdos ilegais ou que possam causar danos físicos e, ao invés disso, promover fontes autorizadas, como autoridades de saúde pública ou a Organização Mundial de Saúde [OMS]”.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, infetou mais de 220 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 8.900 morreram.
Das pessoas infetadas, mais de 85.500 recuperaram da doença.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se já por 176 países e territórios, o que levou a OMS a declarar uma situação de pandemia.
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