Em declarações à agência Lusa, o presidente do Anemia Working Group Portugal – Associação Portuguesa para o estudo da Anemia, João Mairos, refere que são 84% os que não sabem que têm anemia, lembrando que é provocada sobretudo por deficiência de ferro e perdas de sangue.
“É uma epidemia escondida e as pessoas não têm noção dela. Quase ninguém sabe que tem anemia e apenas 2,8% estão a ser tratados”, alerta o responsável, apontando que o principal grupo de risco são as mulheres em idade fértil.
Explica que a anemia causa um baixo nível de energia, levando as pessoas a sentirem-se mais cansadas, “com as baterias em baixo”, e chama atenção para a importância de não desvalorizar sintomas.
“As mulheres sofrem mais de anemia e muitas vezes desvalorizam sintomas, que atribuem ao stress e ao trabalho”, afirma João Mairos, observando que “a maior parte da anemia tem como causa a carência de ferro", que está muito relacionada com a alimentação.
“Temos uma alimentação mediterrânica, que promovemos muito, mas não a fazemos. Comemos cada vez mais ‘fast food’, comemos mal”, acrescenta o responsável, acrescentando que a incidência nas mulheres jovens entre os 18 e os 24 anos é de 30%.
O responsável, ginecologista de profissão, afirma igualmente que a mulher, sobretudo na idade fértil, é uma “perdedora crónica de sangue”, que qualquer desequilíbrio pode causar sintomas como dores de cabeça, cansaço, unhas e cabelo quebradiços e que “é preciso procurar um médico para diagnosticar e tratar a causa”.
Quando a estas circunstâncias se acrescenta alguma doença, como, por exemplo a existência de pólipos ou miomas, as condições em que a pessoa entra no hospital aumentam o risco de transfusão e de infeções hospitalares.
“A anemia é só a pontinha do novelo”, afirma, sublinhando a importância de as pessoas procurarem o médico assistente quando têm sintomas e de os especialistas estarem sensibilizados para se lembrarem de pesquisar a doença.
Cansaço, fadiga, falta de concentração, baixo rendimento e baixa produtividade no trabalho (fisco ou mental) são os sinais de alerta para um problema que aumenta a mortalidade e a morbilidade (taxa de doença) e que leva a tempos de internamento mais longos.
“Quando estas pessoas vão ao hospital com alguma outra doença, o facto de serem anémicos traz maior mortalidade, maior morbilidade (taxa de doença) e o tempo internamento é mais longo. Há mais pessoas a serem admitidas nas unidades de cuidados intensivos anémicas do que não anémicas, independentemente da razão da anemia”, alerta João Mairos, afirmando que “a anemia é quase sempre tratável”.
O especialista sublinha igualmente a importância da existência de programas de gestão de sangue (Patient Blood Management - PBM): “Consiste em considerar o sangue de cada um de nós como um tesouro único e tomar uma série de ações clínicas e organizacionais para o preservar como primeira prioridade, evitando o recurso à transfusão”, explica.
Diz que estes programas de gestão de sangue têm ganhos comprovados, clínicos e económicos: “Um programa de PBM implementado na Austrália, entre 2008 e 2014, gerou uma poupança ao sistema de saúde na ordem dos 18,5 milhões de dólares, só no que respeita a produtos do sangue, e globalmente na ordem dos 80 a 100 milhões de dólares”.
“Em Portugal, as estimativas apontam para uma poupança de 67,7 milhões de euros num ano”, afirma o presidente do Anemia Working Group Portugal (AWGP), que lembra os programas piloto a este nível já aplicados no Norte e no Alentejo.
Segundo o AWGP, a identificação e tratamento da anemia em contexto de cirurgia permite uma redução em 51,2% das transfusões, em mais de 10% nos internamentos e em 37,2% nos reinternamentos.
Para aumentar a informação e conhecimento sobre a anemia e ferropénia (deficiência de ferro), o AWGP, em colaboração com a Federação Portuguesa de Futebol, realiza na sexta-feira - Dia Mundial da Anemia - rastreios junto da Seleção Nacional A de futebol feminino.
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