O número de casos de COVID-19 em Portugal tem descido nas últimas semanas mas o surto viral que confinou o mundo está longe de estar ultrapassado. Há praticamente um ano que, no terreno, os profissionais de saúde fazem das tripas coração para conseguir responder às (muitas) solicitações, um esforço extremo que (res)sentem na pele e no espírito, como sublinha Gustavo Carona, médico intensivista do Hospital de Pedro Hispano, em Matosinhos, em grande entrevista à edição de março da revista Prevenir.
"É preciso que se tenha realmente noção de que estamos, há meses, afogados num mar de doentes, sob uma terrível pressão que se traduz numa ansiedade enorme e num stresse gigante e, consequentemente, num estado de cansaço físico e psicológico sem precedentes. E o mais assustador é sentir que o pior ainda está para chegar. Tudo isto é muito angustiante", assume o especialista. "Todos os dias são um desafio", sublinha. "Estive um período em burnout e fui forçado a parar", confidencia Gustavo Carona.
"Quando se acumula o cansaço físico e psicológico com a responsabilidade de não querer falhar e com a vontade de ser pedagógico e assertivo na comunicação, o preço a pagar é elevado", refere. "É uma luta interior, angustiante, tentar perceber os nossos limites, pois, se a pandemia não der tréguas, vamos deixar de conseguir exercer. Muitos já tiveram períodos de cansaço extremo, tendo mesmo parado. Outros estão nessa iminência", confessa o médico. "Os limites foram, há muito, ultrapassados", garante.
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