“A nossa preparação é tentar termos um stock de reagentes preparado e como é evidente intensificamos e estamos a otimizar todas as metodologias”, disse à agência Lusa Sofia Núncio, coordenadora da Unidade de Resposta a Emergências e Biopreparação (UREB), criada em 2001 na sequência do ataque terrorista de 11 de setembro nos Estados Unidos.
A hipótese da utilização de armas químicas e biológicas, proibida pela Convenção sobre as Armas Químicas e Biológicas de 1972, foi levantada agora pela Rússia ao acusar os Estados Unidos de terem em preparação esse tipo de armas. A acusação foi refutada pelos norte-americanos que afirmam que os russos é que estarão a equacionar o seu uso na invasão na Ucrânia.
Para Sofia Núncio, se os países cumprirem o que está na convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) é pouco provável que isso aconteça, mas “há sempre essa hipótese”.
“Ao longo da história foram usadas várias vezes, mas precisamente por serem desumanas, por causarem sofrimento sobretudo em populações civis, e não dirigidas para militares especificamente, penso que houve essa necessidade de a seguir à Segunda Guerra Mundial fazer essa convenção e proibir a utilização dessas armas”, salientou.
Mas no caso de haver uma denúncia da sua utilização ao secretário-geral das Nações Unidas, a equipa da UREB já está preparada para apoiar na investigação.
“Somos todas civis, ninguém tem treino militar, portanto, nunca iríamos para um cenário de guerra, mas podemos ser um laboratório de ‘backup’ nessas situações”, disse.
A investigadora explicou que nos casos de ameaças biológicas são colhidas três réplicas de cada tipo de amostra: “Uma é identificada e estudada logo no laboratório local e as outras duas são enviadas para outros dois laboratórios para se ter a certeza de que a identificação é precisa e que é concordante”.
Nos últimos tempos, o laboratório de segurança biológica de nível 3, instalado no quinto piso do INSA, em Lisboa, tem vindo a ser reforçado para responder em caso de emergência de origem biológica, como uma epidemia, ou devida à disseminação deliberada (bioterrorismo).
“Felizmente não é um laboratório que receba amostras diariamente, portanto, temos sempre que estar com um treino ativo e preparados para responder à emergência”, explicou Sofia Núncio que falava à Lusa no laboratório onde se faz o diagnóstico de agentes infecciosos, entre bactérias, vírus hemorrágicos, orthopoxvirus, que causa a varíola, e toxinas.
A preparação passa por ter um reforço do stock dos ‘kits’ de deteção, o que já foi feito, renovar equipamentos e intensificar as colaborações com redes europeias.
O objetivo, disse, “é detetar o mais rapidamente [possível] a utilização desses agentes biológicos, evitar que se disseminem pela população, conseguir fazer o isolamento das populações afetadas, o diagnóstico do caso e eliminar as fontes de contaminação”.
Além de Sofia Núncio, a unidade conta com mais três investigadoras: Isabel Lopes Carvalho, Ana Pelerito e Rita Cordeiro. “É uma unidade pequena, em termos efetivos somos quatro elementos, mas o que é certo é que temos já um grande trabalho desenvolvido”, salientou a coordenadora, dando o exemplo do apoio dado no combate à covid-19.
Mas também quando há um número de amostras que é preciso “estudar rapidamente”, disse, “podemos ir buscar elementos aos laboratórios nacionais de referência para nos virem apoiar e garantir que podemos trabalhar durante um longo período de tempo nesse horário 24 horas por dia, sete dias por semana”.
Foi o que aconteceu, por exemplo, quando houve a epidemia de ébola na áfrica Ocidental em 2014, em que havia muitas pessoas que viajavam dos países africanos.
“Quando chegavam bastava ter uma ligeira febre para imediatamente serem considerados suspeitos de possível contaminação pelo vírus do ébola e teríamos que conseguir dar o diagnóstico o mais rápido possível”, para evitar a disseminação do agente e para os doentes poderem ser tratados em vez de estarem fechados num quarto à espera de um resultado.
“Nós especializávamo-nos e conseguíamos dar o resultado em duas três horas”, lembrou a investigadora, contando que o INSA instalou um laboratório móvel numa morgue no Hospital Simão Mendes, na Guiné-Bissau, para detetar precocemente casos neste país e evitar que as pessoas se deslocassem e atravessassem as fronteiras”.
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