O que é o mieloma múltiplo?

O mieloma múltiplo, vulgarmente conhecido apenas por mieloma, é o segundo cancro do sangue mais comum, apenas precedido pelo linfoma. É um cancro no qual os plasmócitos, que em condições normais são os glóbulos brancos responsáveis pela produção dos nossos anticorpos, multiplicam-se de forma desregulada na medula óssea e produzem uma proteína anormal que se acumula no organismo e que pode lesar vários órgãos, em particular, os rins.

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Quais as causas para o aparecimento do mieloma?

O mieloma é uma doença associada ao envelhecimento e a idade avançada é o principal fator de risco. Ao contrário de outros cancros como, por exemplo, o cancro do pulmão, da pele ou do esófago, não estão ainda claramente estabelecidos os comportamentos de risco que levam ao seu aparecimento. A exposição à radiação, a pesticidas ou ao benzeno é apontada como fator de risco em alguns doentes, mas é difícil estabelecer uma relação causal.

Quais os principais sinais de alerta/sintomas?

Os sintomas são inespecíficos e podem confundir-se com outras patologias, pelo que o diagnóstico nem sempre é fácil. Os sintomas mais frequentes são o cansaço ou a fadiga progressiva que resultam da anemia, dores ou fraturas ósseas. Outros sinais de alerta são a insuficiência renal e as infeções de repetição, em particular, as infeções respiratórias. Alguns casos são diagnosticados através de exames de rotina numa fase inicial, quando não apresentam sintomas relacionados com o mieloma.

Quais os principais grupos de risco?

Raramente diagnosticado antes dos 40 anos, o risco de desenvolver mieloma múltiplo aumenta significativamente a partir dos 65 anos. É mais frequente no sexo masculino e em indivíduos de raça negra. Não se trata de uma doença hereditária, embora pontualmente se identifiquem vários casos de mieloma na mesma família.

Como é feito o diagnóstico do mieloma?

Os Médicos de Família estão cada vez mais sensibilizados para os sinais de alerta do mieloma e têm um papel fundamental no diagnóstico. Na maioria das situações, é possível obter o diagnóstico em 24 a 72 horas através de análises do sangue e da urina. O doente será depois orientado para uma consulta hospitalar de Hemato-Oncologia onde fará um conjunto de exames adicionais em que se inclui a avaliação da medula óssea.

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Apesar de incurável, existem várias terapêuticas que permitem que os doentes vivam com qualidade durante vários anos. Que tipos de tratamento estão disponíveis?

É importante realçar que cada doente é tratado de forma individualizada, isto é, os tratamentos são sempre adaptados ao perfil de cada doente e às características da sua doença. Os doentes não são tratados todos da mesma forma, mas antes em função de determinados parâmetros. Aqueles casos que são identificados numa fase inicial, sem sintomas relacionados com o mieloma, não necessitam de tratamento e ficam em vigilância. O tratamento está indicado apenas nos doentes com sintomas relacionados com o mieloma. Ao longo dos anos, cada doente poderá necessitar de mais do que um esquema de tratamento e existem, atualmente, várias opções disponíveis para controlar a doença, não só ao diagnóstico como também nas recaídas e que incluem a quimioterapia, a imunoterapia e o transplante de medula óssea. Nas últimas duas décadas, surgiram novos fármacos com diferentes mecanismos de ação, muito eficazes, e com um perfil de reações adversas distinto da quimioterapia clássica. O tratamento consiste habitualmente numa combinação de três a quatro fármacos de forma a diminuir a probabilidade das células cancerígenas resistirem ao tratamento, a maioria administrada por via oral ou subcutânea.

No âmbito do Mês de Sensibilização para o Mieloma Múltiplo, que mensagem de esperança gostaria de deixar?

Fruto da melhoria significativa do tratamento nas últimas duas décadas, o mieloma, embora se mantenha incurável, está a evoluir para uma doença crónica. De uma forma geral, os doentes podem esperar viver mais anos com a doença controlada e com melhor qualidade de vida.

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