As oito mulheres envolvidas nesta iniciativa estão em tratamento contra várias formas de doença oncológica. A sessão de fotos decorreu no Palácio da Cruz Vermelha Portuguesa. A propósito da iniciativa, entrevistámos as três mulheres responsáveis pela iniciativa.

Qual foi a reação das participantes ao convite para esta sessão fotográfica? 

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Dai Moraes, fotógrafa:As participantes chegaram à sessão tímidas e caladas, algumas com vergonha e sem saber muito bem o que fazer, mas após o início da sessão ganharam um novo brilho. Já falavam e reagiam de uma forma muito mais empoderada. É realmente incrível como a fotografia do estilo Boudoir faz uma transformação na vida de todas mulheres, principalmente as que estão em tratamento contra o cancro.

Houve uma participante que se emocionou e chorou durante a sessão. Confessou-nos que a sessão fotográfica era a realização de um sonho. Muitas estavam ansiosas para receberem as fotografias finais para poderem mostrar aos maridos. É lindo ver esta transformação de perto e perceber que, apesar das dificuldades da doença, estas mulheres podem voltar a ver-se e sentir-se lindas e femininas novamente.

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Qual o objetivo deste projeto? 

Dai Moraes, fotógrafa: Fiquei extremamente feliz com o resultado final aqui em Lisboa. Quando idealizei o "+Mulher" há uns anos atrás no Brasil, com a ajuda da maquilhadora Dani Jesus, foi com o objetivo de fazer a mulher com doença oncológica olhar-se e sentir-se "mais mulher" novamente.

Perceber que consegui proporcionar isso às participantes aqui em Lisboa foi muito gratificante, pois cada uma tem a sua história, os seus traumas e inseguranças, como todas nós mulheres, independentemente da doença. Esta sessão faz a mulher olhar-se com mais carinho e valorizar o que gosta em si mesma. Todas as mulheres precisam de se ver e sentir bonitas.

Porque é que é importante manter a autoestima sobretudo em doenças como o cancro? 

Ana Massena, médica: O diagnóstico é sempre um choque, um confronto com a realidade da morte. Os tratamentos - independentemente de serem cirúrgicos, quimioterapia ou radioterapia ou outros - têm efeitos secundários vários que podem ir desde cicatrizes cirúrgicas, a perda de cabelo, menopausa precoce e mutilações físicas... Quer o estatuto de "ser doente", quer as manifestações físicas da doença fragilizam o ser humano, alterando a visão que se tem de si próprio, da sua invencibilidade perante a morte, do seu papel na sociedade e da sua imagem corporal.

Por isso, este tipo de atividades ajudam a mulher a recuperar a sua imagem.

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Os efeitos secundários dos tratamentos oncológicos continuam a ser um assunto tabu?

Ana Massena, médica: Sim, sem dúvida que continuam a ser um tabu. Conhecemos os efeitos a curto prazo e prevenimos os doentes. Muitos optam por outros tratamentos que tenham outro tipo de efeitos secundários, como uma quimioterapia que não tenha um agente que faça cair o cabelo.

Existem outros difíceis de aceitar como as mutilações cirúrgicas (as mastectomias, por exemplo) em que há mulheres que durante meses não se conseguem ver ao espelho ou que se recusam a fazer reconstrução da mama.

A menopausa precoce e a perda da libido atrasam a retoma da vida sexual e, juntamente com a perda da autoestima, têm efeitos desastrosos na saúde mental e física da mulher. A longo prazo conhecemos alguns efeitos, mas como agora estamos a assistir a doentes que sobrevivem ou vivem cada vez mais, estamos ainda a descobrir outros efeitos.

Como é fazer parte deste projeto?

Ana Schelles, maquilhadora: É muito gratificante fazer parte deste projeto. Conheci mulheres, lindas e guerreiras, que me mostraram como a vida pode ser bonita, independente das lutas, e que o importante é não desistir.

Foi uma tarde inesquecível que passámos juntas, em que pude conhecer um pouco da estória de cada mulher, das suas lutas e das suas conquistas.