Pais esgotados perdem capacidade emocional, o que afeta o vínculo com os filhos e pode gerar conflitos conjugais e até negligência. Pais esgotados são rastilho para filhos aflitos e com perturbações na sua saúde mental. É um baloiço empurrado com o impulso de cada um e com consequências graves para todas as nossas vidas.

Em 2022, a taxa de suicídio entre jovens dos 15 aos 24 anos subiu para 4,9 por 100. 000 habitantes — o valor mais alto em 20 anos (em 2021 era de 3,2). Foram registados 53 óbitos nessa faixa etária, 18 a mais que no ano anterior. A maioria das vítimas eram rapazes, sendo que o suicídio é a segunda causa de morte entre os jovens de 15‑34 anos num país com cerca de 3 suicídios por dia.

Estima‑se que 2‑5% dos pais em Portugal sofram de burnout parental, com exaustão emocional, distanciamento dos filhos e perda de eficácia. O fenómeno está em expansão e há estudos que apontam para um aumento associado à divisão desigual de tarefas, perfecionismo parental e falta de apoio social. Em Portugal, estima-se entre 3‑4% dos pais afetados.

Cerca de 80% dos trabalhadores portugueses apresentam pelo menos um sintoma de burnout (tristeza, irritabilidade, exaustão extrema); 63% combinam os três sintomas mais graves identificados, sendo que mais de 8 em 10 dos colaboradores dizem preocupar‑se com risco de burnout nas empresas, especialmente em setores como saúde, educação e transporte.

Por outro lado, com uma ansiedade generalizada, muitos jovens relatam medo do futuro, falta de controlo e desesperança económica, mesmo com salários médios. Pais sob burnout têm menos disponibilidade emocional para os filhos, o que prejudica a comunicação e segurança afetiva. A consequência parece ser um rastilho curto inflamável: os jovens que se sentem incompreendidos ou desconectados dos pais estão mais vulneráveis a quadros depressivos, autolesões e ideação suicida.

O que acontece é que a falta de competências parentais, como gestão do stress, comunicação emocional, equilíbrio vida/trabalho, agrava tanto o burnout dos pais quanto a fragilidade emocional dos filhos. Pais que ganhem por exemplo 800 euros, sem perspetiva de carreira, sem apoios laborais ou sociais, com rendas de casas a 700 euros e com filhos a cargo estão num desespero com consequências para toda a família.

O que fazer quando as respostas são também analisadas sob a perspetiva da literacia em saúde? Falamos em educação e apoio parental, mas é preciso que existam programas de formação parental focados em competências socioemocionais, divisão de tarefas e autocuidado para mitigar o burnout parental. As redes de apoio comunitário e políticas de educação parental são fundamentais. Do lado das empresas, existem ações corporativas e laborais, como a implementação da semana de quatro dias sem perda salarial, conforme recomendação do LABPATS, para um melhor equilíbrio trabalho-vida e prevenir burnout. Por outro lado, é preciso fortalecer as lideranças para que possam acreditar e investir no reconhecimento de competência e saúde mental nas empresas.

Tudo isto deve estar integrado numa política pública de saúde escolar, articulada com a política laboral e, por isso, é importante por pelo menos dois ministérios a trabalhar em conjunto, e bem oleados, para uma melhor saúde mental pública, laboral e escolar. A prevenção é o investimento e poupança de custos futuros nos gastos em tratamento da doença mental, pelo que a formação de professores e psicólogos escolares para identificar ideação suicida e apoiar jovens, especialmente a partir dos 13 anos, quando começam a aumentar os comportamentos autolesivos, é muito importante.

Parece, então, haver aqui uma possível relação entre os números de suicídio entre os jovens e o burnout dos pais. As intervenções de literacia em saúde devem ser estratégicas, multissetoriais e contínuas, visando: 1) Capacitar jovens e pais com competências para cuidar da saúde mental; 2) Fortalecer redes de apoio e comunicação emocional; 3) Desconstruir estigmas sobre sofrimento psíquico; 4) Criar ambientes educativos e laborais promotores de bem-estar; 5) Olhar para as pessoas nas suas fragilidades e compreender os caminhos a traçar para cada uma.

Precisamos ainda de compreender esta sociedade do estético, do perfecionismo, e considerar que a intervenção cultural e social deve passar pela luta contra o estigma sobre exaustão parental e sofrimento jovem. As comunidades são “aldeias educativas”, como sugeria o Papa Francisco, onde famílias, escolas e sociedade devem estar alinhadas no apoio à juventude.