Esta é uma das conclusões da Nota Informativa #1: Análises do Setor da Saúde - COVID 19 e a confiança na informação dos governos elaborada por Pedro Pita Barros, detentor da Cátedra BPI | Fundação “la Caixa” Chair in Health Economics, atribuída no âmbito da Iniciativa para a Equidade Social, uma parceria entre a Fundação “la Caixa”, o BPI e a Nova SBE.
Os dados resultam da análise do European COVID-19 Survey (ECOS), que monitoriza as perceções e comportamentos da população ao longo do tempo relativamente à pandemia de COVID-19. Revelam ainda que entre abril de 2020 e janeiro de 2022, existiram diferenças permanentes nos níveis de confiança nos governos dos vários países, sendo de destacar os níveis de confiança permanentemente baixos da França e do Reino Unido e os níveis de confiança sistematicamente elevados de Portugal, Países Baixos e Dinamarca. Analisando a evolução ao longo do tempo, é de salientar a quebra generalizada e acentuada dos níveis de confiança nos primeiros meses após o início da pandemia (com o Reino Unido a registar um decréscimo significativo no nível de confiança que passa de 84% em abril de 2020 para 63% em Setembro do mesmo ano) que foi sendo recuperada [a partir de abril de 2021 a maioria dos países regista aumentos nos níveis de confiança, sendo de destacar França (onde o nível de confiança é sistematicamente baixo), que em janeiro de 2022 obteve níveis de confiança superiores aos registados no início da pandemia].
Portugal, que em janeiro de 2022, se posicionou como o país onde a confiança na informação do Governo é maior, mantém-se sistematicamente como um dos países com maiores níveis de confiança tendo registado apenas durante o ano de 2020, uma redução (ainda que mais modesta quando comparada com a quebra registada na maioria dos restantes países) dos níveis de confiança (de 84% para 77%). Ainda em Portugal, e no que se refere à evolução da confiança da população por faixa etária, verifica-se existir uma relação direta entre a preocupação com a saúde / mortalidade e a preocupação com a situação económica.
A população mais idosa (cujo risco associado à gravidade da COVID-19 é maior face à incerteza económica, devido à situação de reforma de grande parte deste grupo) regista um decréscimo dos níveis de confiança ao longo do tempo, cenário contrário ao verificado com a população mais jovem (que valoriza a vertente económica em detrimento da saúde) que ao longo do tempo registou um ligeiro aumento nos níveis de confiança na informação do governo.
Nas diferentes faixas etárias os níveis de confiança médios foram sempre muito semelhantes e demonstram uma forte confiança dos portugueses na informação do governo. O sucesso do programa de vacinação, a capacidade política de antecipar medidas mais bem aceites pela população, mensagem de trabalho conjunto do Governo e da população para ultrapassar as dificuldades criadas pela pandemia são alguns dos motivos apontados pelos investigadores para justificar o nível de confiança em Portugal.
“O difícil equilíbrio entre o controlo da situação pandémica e as consequências económicas substanciais para as famílias e empresas, torna-se mais delicado tendo em consideração as flutuações dos níveis de confiança nos governos”, referem os autores da Nota Informativa COVID 19, acrescentando “a falta de confiança na informação dos governos pode contribuir para uma menor adoção das recomendações dos próprios governos (…). Durante o ano de 2021 os decisores políticos conseguiram assegurar uma adequada leitura do sentimento da população e reforçar a sua confiança. Esta confiança foi provavelmente alicerçada no sucesso do programa de vacinação e na imposição de medidas de restrição consideradas aceitáveis pela população face à informação transmitida sobre a evolução do risco da pandemia”.
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