“Não conseguimos antecipar quanto nos vai custar produzir cada litro de leite nos próximos meses. Hoje produzimos o leite suficiente para alimentar Portugal, mas se não recebermos o suficiente para alimentar os nossos animais não poderemos garantir que continuaremos a abastecer o nosso país como até aqui”, sustenta a Associação dos Produtores de Leite de Portugal (Aprolep).
Num comunicado divulgado na sequência da assembleia-geral de associados realizada na quarta-feira, a Aprolep alerta: “A soberania e a segurança alimentar do país estão em causa”.
“Se não houver uma resposta a curto prazo na atualização do preço do leite ao produtor, os produtores de leite irão manifestar-se de forma sucessiva à porta das principais indústrias e cadeias de distribuição até que os preços sejam atualizados, para permitir a sobrevivência do setor e garantir a soberania e segurança alimentar de Portugal”, avisam.
Segundo a associação, “a situação económica dos produtores de leite agravou-se de forma significativa nos primeiros meses de 2022, com o aumento do custo da ração, energia e adubos a absorver completamente o aumento do preço do leite ao produtor registado em janeiro”.
“Em consequência da guerra na Ucrânia, disparou o preço do gasóleo agrícola para valores nunca vistos, a eletricidade está a subir de igual forma, surgiram dúvidas sobre a disponibilidade de cereais para as rações e todos os fatores de produção, como os adubos, vão atingir valores que não podemos calcular”, acrescenta.
Neste contexto, e “sendo previsíveis novos aumentos das despesas com a alimentação dos animais e o cultivo dos campos”, a Aprolep “desafia as cooperativas, associações, confederações, o Governo, a indústria e a distribuição a reunirem-se de emergência para analisar a situação e encontrar uma forma imediata de atualizar o preço do leite sempre que os custos aumentem”.
“Propomos que se estude um mecanismo de indexação do preço do leite aos custos de produção e ao mercado europeu de leite e produtos lácteos”, avança.
Paralelamente, a associação apela para que o Governo e a União Europeia suspendam, “a título excecional, as regras da PAC [Política Agrícola Comum] que impedem o cultivo em todos os terrenos agrícolas disponíveis”, como o pousio obrigatório.
Defende ainda a revisão da portaria 79/2022, “que coloca dificuldades para a valorização agrícola dos efluentes pecuários, fundamental para reduzir a utilização de adubos químicos, que serão muito mais caros, se estiverem disponíveis no mercado”.
Saudando o aumento do preço do leite em quatro cêntimos por litro anunciado pelo grupo Jerónimo Martins aos produtores da marca Pingo Doce, a partir do dia 16 de março, a Aprolep “desafia os restantes compradores a aumentarem o preço em valor equivalente ou superior para o leite entregue a partir de 01 de março, inclusive”.
No imediato, a associação vai solicitar audiências com o Presidente da República, com a ministra da Agricultura e com a futura Comissão Parlamentar de Agricultura, “assim que o novo parlamento tome posse”.
A Aprolep pretende também pedir reuniões com as associações representativas da indústria e distribuição e estabelecer contactos com outras organizações agrícolas e com os principais compradores de leite em Portugal.
“Os produtores de leite portugueses, unidos a todos os colegas europeus através do ‘European Milk Board’, manifestam a sua solidariedade aos agricultores, produtores de leite e todos os ucranianos, a todos os que sofrem com a guerra, apelam a um urgente processo de paz e comprometem-se a continuar a trabalhar para alimentar toda a população europeia e colaborar no acolhimento, alimentação e oferta de trabalho a refugiados ucranianos, conforme for possível e necessário”, remata a associação.
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