Todos nós reconhecemos o momento em que um adolescente começa a passar mais tempo em frente ao espelho ou ao telemóvel antes de ir para a escola. Os olhos começam a brilhar mais, ficam mais energéticos, mas ao mesmo tempo mais aluados. Neste momento, não há dúvidas: o amor chegou.
"Muitos pais sentem-se confusos com a chegada, quase sempre inesperada, do primeiro amor real e intenso do adolescente. Por um lado, ficam felizes porque sabem o quão especial é sentir o amor. Por outro, antecipam o sofrimento emocional que poderá daí vir, e muitas vezes querem-no evitar ou minimizar", reconhece a pedopsiquiatra Maria Laureano.
É sabido que a adolescência traz com ela vários desafios do desenvolvimento individual e psicossocial, onde se inclui o processamento de emoções intensas, em particular as desencadeadas pelos "primeiros amores" e "desamores". No entanto, a capacidade de se apaixonar e de se envolver numa relação amorosa é um importante marcador do desenvolvimento, quer identitário, quer da intimidade com o outro.
"Ao longo do crescimento dos nossos filhos, não é raro focalizarmos a atenção na sexualidade. Talvez por se manifestar primeiro. Talvez por ter consequências sentidas como perigosas (doenças sexualmente transmissíveis, uma gravidez indesejada...). A verdade é que, as consequências emocionais podem ser igualmente perigosas", frisa a médica.
"É importante educarmos para os afetos. São estes o que nos liga ao outro, o que sustenta o mundo de relação. As primeiras relações amorosas permitem o início da aprendizagem e treino do que implica e necessita uma relação de intimidade com o outro. Contudo, o tempo de vida do primeiro amor é habitualmente limitado e o seu fim quase sempre desencadeia momentos críticos, na vida do adolescente", diz a especialista.
Efeito devastador
O fim de uma relação amorosa nunca é fácil, nem simples, independentemente da idade. Porém, para os adolescentes pode ser particularmente devastador.
"Os adolescentes, em particular na segunda etapa da adolescência (entre os 13-15 anos), tendem a equiparar os relacionamentos afetivos românticos com a aceitação social no grupo de pares. Assumem que quem tem relações afetivas românticas são indivíduos com maior maturidade e mais desejáveis do ponto de vista social", assevera a médica.
"Não é incomum observar, que quando um adolescente termina uma relação amorosa se sente socialmente excluído. Em parte, porque muitas vezes houve um grande investimento no par amoroso, levando a um afastamento do grupo de amigos, ou por procurarem ativamente evitar determinados momentos sociais onde têm receio de reencontrar o ex-par amoroso", acrescenta.
Com isto, os jovens experienciam estados emocionais intensos, por vezes, pautados por sentimentos de fracasso, rejeição e abandono. Nestas fases podem surgir sintomas físicos de diminuição de energia, apatia, dificuldade em retomar atividades rotineiras, alteração do apetite e do padrão de sono, indica a especialista.
"Estes sintomas e dificuldades vivenciadas podem apenas constituir reações de ajustamento transitórias ou podem assumir contornos patológicos, com o surgimento de Perturbações do Sono, Perturbação de Ansiedade, Episódios Depressivos (pontualmente associados a alteração do pensamento com conteúdos delirantes ou alteração da perceção da realidade) ou Comportamentos Autolesivos. São momentos críticos vividos pela família, em que alguns pais lidam com o difícil sentimento de impotência em proteger os filhos", alerta.
Como podemos ajudar? "Ouvir de forma empática, sem críticas ou julgamentos é o melhor que podemos fazer por eles. Recordarmos os sentimentos e as dificuldades sentidas quando nos encontrávamos nesse papel, pode ajudar-nos a ser um apoio forte. Ainda assim, nem sempre é suficiente e por vezes é necessário recorrer a ajuda clínica especializada", frisa a especialista.
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